quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

VIDAS E OBRAS DO ROMÂNTICO SÉCULO XIX

Olympia, 1863
ÉDOUARD MANET
(1832 — 1883)
Óleo sobre tela,
130,5 x 190 cm

Um olhar de 19 anos — Victorine, modelo e amante do Pintor — desafia o público burguês dos salões, e das salinhas, de Paris. O corpo nu — ou despido —, descontraído mas firme, impõe-se, como centro de uma composição, só aparentemente académica.

Aqui, a novidade encontra-se, duplamente, na forma e no tema. Não é um nu clássico, de uma qualquer odalisca, que vemos. É uma mulher mundana que nos encara. Os acessórios, adereços e figurantes são escolhidos para — por detrás de um aparente naturalismo — nos desassossegarem: as jóias sobre a nua pele branca, a flor no cabelo e as flores oferecidas, os sapatos-de-quarto anunciando o abandono de alcova, e, ainda, as desconcertantes presenças de uma criada africana — num gritante alto-contraste cromático e social — e de um gato preto eriçado — contra todas as convenções da representação dos animais domésticos na História da Pintura, qual figuração diabólica.

Em três palavras: romântico, inovador e provocador. Por outras palavras: eterno.

Confesso que esta tela me veio à cabeça porque tenho andado deliciado a rever uma extraordinária série de ficção que a BBC produziu a propósito do fascinante grupo dos Pré-Rafaelitas e que a RTP 2 exibiu em tempos nos serões de segunda-feira. Estranhas ligações feitas pelo subconsciente. Serve portanto também esta mensagem de lembrete para me obrigar a vir aqui falar sobre a referida série Desperate Romantics. E, já agora, também irei meter a vida e a obra de Charles Dickens ao barulho.

Afinal, são tudo coisas com mais ou menos dois séculos de idade e que vieram para ficar.