terça-feira, 31 de março de 2015

APOSTILHA À MENSAGEM ANTERIOR

Leituras intercomplementares:
Nó Cego, de Carlos Vale Ferraz, edição Círculo de Leitores, 1990;
Moçambique — 1970 — Operação Nó Górdio, de Carlos de Matos Gomes, edição Prefácio, colecção Batalhas de Portugal, Lisboa, 2002.

UM GÉNERO LITERÁRIO DE QUE PORTUGAL PRECISA URGENTEMENTE

Releio o fascinante Nó Cego, de Carlos Vale Ferraz, e volto a interrogar-me: por que carga de água, sendo nós um povo de guerreiros  — além de marinheiros e poetas, já se sabe  —, não publicamos mais romances de guerra?... Não há escritores à altura desta missão? Falham os editores? Ainda para mais, quando se sabe, de ciência certa, que não existe melhor coisa do que este género literário para alimentar a alma nacional. Seriam pois estes desgraçados tempos propícios para a pobre pátria doente receber este remédio. Talvez os meus leitores nunca tenham pensado no caso, mas convido-os a verificar o seguinte: os países mais fortes, política e economicamente falando, são, coincidentemente, aqueles que produzem maior quantidade, com qualidade, de literatura (e também cinema) de guerra. Género este que consolida a identidade nacional e fornece um desígnio colectivo à juventude. Os romances de amor aquecem, ou amolecem, o espírito; os de guerra, robustecem a alma. E, precisamos de ambos, desesperadamente, para termos equilíbrio  — e sermos homens completos.  

segunda-feira, 30 de março de 2015

SÉTIMA ARTE À SEGUNDA-FEIRA

Alfred Hitchcock (1899 — 1980) nasce em Londres. Sendo, pois, à partida, um homem directamente herdeiro do espírito victoriano do século XIX, revela, no entanto, um extraordinário sentido de utilização dos modernos meios de marketing e publicidade (antecipando-os), para divulgar as suas obras. Cedo irá transformar em marca icónica o seu nome, tornando-o reconhecível e apetecível para toda a comunidade mundial de cinéfilos, e, mesmo, para os grandes e despersonalizados públicos generalistas. Revela-se, ainda, e dentro desta estratégia de comunicação global, um especialista nas relações públicas; especialmente com a imprensa, com o objectivo de se promover profissionalmente.

Dito isto, há que afirmar, de imediato, que toda esta comunicação eficaz era apenas a ponta-de-lança de uma obra complexa e profunda. Vamos a ela, que é o fulcro da questão!

Hitchcock, oriundo de uma família de classe média-baixa, é instruído pelos jesuítas. Se refiro este facto é porque os seus filmes virão a reflectir uma série de conhecimentos que terá assimilado nos seus estudos feitos numa escola católica destes, bem conhecidos pela vasta cultura que forneciam; terá, também, através dos referidos jesuítas, tomado contacto com G. K. Chesterton (1874 — 1936), que lerá entusiasmado na juventude. Outras influências literárias que o marcaram, mais tarde, como erudito auto-didacta que era, foram Edgar Allan Poe (1809 — 1849) e Oscar Wilde (1854 — 1900).

Por outro lado, devorava jornais e lia revistas de criminologia e de cinema. Curioso é constatar o casamento entre estas fontes de inspiração para o seu despertar como autor de filmes. Os seus temas serão, principalmente, os seguintes: falsos culpados, assassínios, trocas de identidade, medo, voyeurismo, paixões frias mas arrebatadoras.

Porém, antes de chegar à realização de fitas, começa por desenhar intertítulos para filmes mudos, escrever argumentos e trabalhar como assistente de realização. Esta conjugação, de conhecimento prático da técnica cinematográfica com a cultura que ia adquirindo pela leitura, possibilita uma mestria na criação das suas narrativas fílmicas, apimentadas com o tão apregoado suspense.

Na sétima arte, Hitch (gostava de ser assim tratado) bebeu de várias fontes: Fritz Lang (1890 — 1976) e F. W. Murnau (1888 — 1931) — esses dois mestres do mudo alemão — foram determinantes para a estruturação da sua linguagem estética. Esteve na UFA — os grandes estúdios de Berlim — e conheceu-os pessoalmente. Lá trabalhou e lá filmou. Esta marca será visível, claramente, nos seus filmes mudos; e, mais subtilmente, nos sonoros.

O seu género eleito será o melodrama policial, pontuado de fantástico e de mistério. Esbate, pois, assim, as fronteiras de vários géneros convencionais, criando uma abordagem própria, com elementos retirados de todos eles.

No que toca à realização, o seu estilo é essencialmente visual, dando-nos a sensação de que aquelas histórias só fazem sentido em cinema; ou seja, por escrito não teriam o mesmo impacto. Sabia de tal forma o que queria que a montagem das suas películas seguia ao milímetro o que ele próprio tinha definido na planificação (última fase do argumento, em que este fica pronto a ser filmado). A esta atitude chama-se trabalhar com «guião de ferro». Hitch dizia que o acto de rodar era uma maçada, pois já sabia exactamente como seria o filme ao tê-lo definido na planificação. Esta ideia traduz uma inabalável confiança do cineasta em si próprio, enquanto director de actores, e uma invulgar capacidade de visualização.

Hitchcock assentava a sua estética numa cumplicidade com o espectador. Dava-lhe alguns conhecimentos secretos sobre a acção, mantendo-o ansioso pelo desfecho da narrativa. Esta tensão psicológica pode até levar o espectador a querer comunicar com a personagem ameaçada na tela, para a avisar do perigo... Eis a força manipuladora do suspense.

Não havendo, no entanto, técnica que resista à falta de ideias, é preciso deixar bem explícito que o cinema de Hitch assenta em temas fortes, já atrás referidos. Recapitulando, e desenvolvendo: culpa — com o inocente falso culpado como fio-condutor da narrativa, entrando aqui, por vezes, a troca de identidades; medo — pontuado pelo susto, e nas margens do terror; desejo — com simbologia e alegorias sexuais; ansiedade — mantida pelo suspensevoyeurismopeeping-tom, em bom inglês, espreitando e violando a esfera privada e íntima; autoridade — que assegura a investigação criminal, mas também pode ser desafiada (detestava polícias vulgares, de «ronda»); morte — sob a forma de assassínio, o crime mais grave, e que os espectadores, morbidamente, gostam de ver no recatado conforto da sala escura. Todos eles temas de identificação e projecção psicológica do espectador. Eis o cinema, na sua mais poderosa forma alquímica, servido pela mão do mestre Hitchcock.

Importante é vencer o medo, esperar para ver o desfecho, e perceber que a chave dos seus filmes é o triunfo final da luz sobre as trevas. Toda a sua obra é uma variação sobre este principal grande tema.

E, se não menciono um único filme do realizador, a justificação é simples: devem ser vistos todos, cronologicamente — dos mudos aos sonoros, dos ingleses aos americanos, dos filmados a preto-e-branco aos rodados a cores —, com o objectivo de se conseguir captar, na sua plenitude, agora em 2015 mais do que nunca, toda a sua temática de fundo, e todo o seu estilo visual e sonoro profundo; enfim, todas as suas indeléveis marcas autorais.

O COMEÇO DO FIM DA SÚCIA XUXIALISTA

O Partido Socialista grego já se acabou; o francês, depois de europeias e departamentais, está-se a acabar; o português anda a brincar e levou bailinho na Madeira.

sábado, 28 de março de 2015

PELA BOCA MORRE O PEIXE

Um povo, uma cultura e uma civilização são identificados pela sua dieta. Esta, é um dos sinais da sua identidade. Sou do tempo em que nas boas casas portuguesas se comia peixe todas as Sextas-Feiras do ano. Hoje em dia, há muita gente que já nem na Quaresma respeita este simbólico acto: tristes, esses católicos que são vencidos pela gula; curiosamente, quase sempre os mais betos e beatos.

quinta-feira, 26 de março de 2015

DA ALMA LUSÍADA E DA PÁTRIA ADORMECIDA

Toda e qualquer Nação tem uma Alma só sua. E a nossa é luminosamente Lusíada. Mas para a encontrarmos é necessário encetarmos uma caminhada iniciática. Por uma série de lugares mágicos. No espírito do Bem, na estrada da Verdade e em busca da Beleza. Esta é a nossa natureza. Sempre em comunhão com a Natureza. Quem chegar ao fim do percurso, todo ele alquímico, quedar-se-á arrebatadoramente enamorado. Porque não há Amor como aquele que nos desperta a nossa Pátria adormecida. 

MULHERES E POETAS AOS OLHOS DUM MESTRE DE AFORISMOS

Gosto de todas as mulheres desde que tenham Corpo... Gosto de todos os poetas desde que tenham Alma... A alma é o corpo dos poetas. O corpo é a a alma das mulheres.
ANTÓNIO FERRO
(1895 — 1956)

terça-feira, 24 de março de 2015

POESIA DO DIA

Poesia Toda, de Herberto Helder, edição de Assírio & Alvim, Lisboa, 1990. 

DA MINHA PESSOALÍSSIMA ÉTICA CATÓLICA E MONÁRQUICA

Não discuto o Papa nem o Rei.

segunda-feira, 23 de março de 2015

SÉTIMA ARTE À SEGUNDA-FEIRA

Em 1953, ano em que apenas se produzem e estreiam cinco filmes em Portugal, anunciando assim uma tendência de empobrecimento, após os Anos de Ouro das décadas de 1930 e 1940, surge — como lufada de ar fresco e tiro no escuro — o melhor filme de sempre, da nossa cinematografia, sobre o Ultramar.

Chaimite, de Jorge Brum do Canto — autor maior da História do Cinema Português, completamente apagado nos dias de hoje pela historiografia oficial —, é a segunda longa-metragem nacional sobre a matéria. Facto estranho este, que confirma o inexplicável desinteresse dos nossos produtores pelo tema (que tem pano para mangas, aliás). É o primeiro filme da empresa de produção Cinal, dirigida pelo Professor Luís Pinto Coelho, que se caracteriza por películas de qualidade.

Jorge Brum do Canto atingiu, nesta obra, uma autenticidade nas reconstituições de época e militares, como nunca mais o nosso Cinema logrou alcançar. Se, no que diz respeito à imagem, ao som e à montagem, percebemos que estamos na presença de um esteta — Brum do Canto iniciou-se com a Geração de 1930, profundamente ligada à modernidade cultural portuguesa, onde também se perfilaram, como cinéfilos ou cineastas, Leitão de Barros, Cottinelli Telmo, António Lopes Ribeiro, Chianca de Garcia, Dr. Ricardo Jorge (médico, cinéfilo, escritor), João Ortigão Ramos, Dr. Félix Ribeiro (médico, cinéfilo, fundador e primeiro director da Cinemateca Portuguesa), Domingos Mascarenhas, e muitos outros, de igual calibre, que se constituíram como tertúlia cinematográfica no Cine-Teatro S. Luís (aberto em 1928) —, por outro lado, no que se refere à História, é um cineasta profundamente conhecedor do assunto abordado que avança para este arriscado registo épico de Chaimite.

O filme — na linha de Feitiço do Império (1940), de António Lopes Ribeiro — mostra o heróico esforço português para defender o Ultramar dos ataques estrangeiros — neste caso inglês, sendo assim premonitório das cobiças americana e soviética —, e não é, como muitas vezes erradamente se refere, uma fita contra a revolta vátua, nem, muito menos, contra a sua identidade enquanto povo. Digamos que é um filme pela positiva: eleva Portugal, respeitando os que se lhe opunham directamente; mas denuncia os ingleses, que pretendem levar os moçambicanos à revolta contra Portugal para alimentar os seus apetites imperiais.

Mouzinho de Albuquerque (interpretado por Jacinto Ramos) destaca-se como grande protagonista, herói e fio-condutor da narrativa, não apagando, note-se, os outros camaradas de armas — Caldas Xavier (Augusto Figueiredo) e Paiva Couceiro (o próprio Brum do Canto, num notável trabalho de actor).

É que este cineasta era o protótipo do artista-total: neste filme assina o argumento, os diálogos, a planificação, a realização, a montagem, e actua. Sabia-se ainda fazer rodear dos melhores: a demonstrá-lo encontramos na música Joly Braga Santos, e na fotografia — de belíssimos e ousados enquadramentos — César de Sá e Aurélio Rodrigues, para além de termos o Major Vassalo Pandayo como consultor militar.

A biografia de um criador contém, quase sempre, a chave para a sua Obra. Neste caso, a tradição familiar, em que Jorge Brum do Canto bebeu, revela-se fundamental. Nascido e criado numa família católica e monárquica — próxima da Família Real e amiga de Paiva Couceiro —, habituou-se a pensar pela sua própria cabeça — nunca se envolveu institucionalmente com o Estado Novo, embora dele fosse simpatizante — e foi um homem culto e livre. Sabemos que apreciava António Ferro, pelo projecto que este tinha para as Artes Nacionais, e, por sua vez, era admirado por Carmona.

Encontramos como tema principal do seu Cinema, nas suas próprias palavras, «a Terra e o Povo». Portugal e os Portugueses vão ser, assim, os protagonistas de uma filmografia que se esplana, entre 1929 e 1984, por 23 filmes — do vanguardista A Dança dos Paroxismos (1929) ao policial O Crime de Simão Bolandas (1984), passando por documentários e obras de ficção. Quem quiser encontrar a nação em toda a sua diversidade e plenitude, terá de ver A Canção da Terra (1938), Lobos da Serra (1942), Fátima, Terra de Fé (1943), Um Homem às Direitas (1945), e A Cruz de Ferro (1968).

Voltando a Chaimite: a acção desenrola-se, temporalmente, entre 1894, momento do ataque a Lourenço Marques pelos africanos, e 1897, altura em que Mouzinho, Comissário Régio de Moçambique, vence definitivamente os vátuas, derrotando Maguiguana, que tinha escapado durante a captura de Gungunhana. A fita alia este lado épico a um tom intimista, ao mostrar a Mulher de Mouzinho, presença discreta mas firme, verdadeira apoiante e companheira das empresas do herói. Paralelamente, o realizador dá-nos ainda uma história de amor entre um soldado e uma bela rapariga, com um final feliz. Cabe aqui destacar que Chaimite tem também valor como documento histórico para o estudo da vida colonial da época, que é retratada com verosimilhança e mestria, desde a da cidade até à do mato.

Para a «coisa militar», Brum do Canto baseou-se no livro A Guerra de África em 1895, de António Ennes, e em textos do próprio Mouzinho, o que assegura o rigor histórico-militar. Ainda no campo da autenticidade, é de realçar que os indígenas africanos falam nos seus dialectos próprios — muda a tribo, muda a língua —, criando assim um verdadeiro realismo, tão em voga nesses mesmos anos de 1950 noutras paragens. O difícil será, como neste caso, juntar, no mesmo filme, uma escala monumental, num registo de credível reconstituição histórica, a um intimismo de fino recorte humano. E, se termino falando na escala, é porque Chaimite atinge uma grandiosidade no tratamento do espaço e dos cenários, servindo o argumento na sua enorme dimensão épica, como nunca mais o Cinema Português — e, de um modo geral, a Arte Nacional — conseguiu fazer.

Saibam os jovens realizadores, activos em 2015, pôr os olhos em Chaimite, para se poderem aventurar em novas e belas criações, com som e imagens em movimento, nesta linguagem universal que o Cinema é — e que sai sempre enriquecida quando trata temas que dizem respeito aos Povos, como aqui bem se vê.

Veja-se, pois! 

DA MISTERIOSA COMPLEXIDADE DAS FLORES DE CEREJEIRA

Sei que chegou a Primavera porque vi, durante o fim-de-semana, o deslumbrante espectáculo das Cerejeiras em flor. Flores estas que possuem um duplo e contraditório significado: por um lado, simbolizam, liricamente, a beleza feminina; por outro, epicamente, estão associadas ao código samurai. Este paradoxo tem o condão de as tornar ainda mais atraentes, cá para mim.  

sábado, 21 de março de 2015

UMA LINHAGEM ESPIRITUAL DE CHEFES POLÍTICOS FRANCESES

Os povos precisam de chefes, como de pão para a boca; mais do que de programas políticos, cujos conteúdos dificilmente conseguem descodificar. E, para detectar os líderes, têm um faro invulgar. Há quem lhe chame «sabedoria popular». Com este ou outro nome, o facto é que possuem este dom. E, mais ainda, contrariamente ao que por vezes se afirma, os povos também têm memória. Assim sendo, conseguem olhar para uma pessoa e ver nela a reencarnação de outras que se distinguiram no comando da nação, estabelecendo deste modo um invisível fio-condutor entre elas.
Vem tudo isto a propósito do que se está a passar em França: os franceses, instintiva e intuitivamente, sentiram em Marine Le Pen a natural sucessora de Joana d'Arc, Napoleão Bonaparte e Charles de Gaulle. Poderá parecer estranho, e dificilmente explicável à luz da razão; contudo, a mim, e mesmo que a ciência política possa rebater esta tese, esta linhagem espiritual de chefes políticos franceses afigura-se-me clara como água.    

sexta-feira, 20 de março de 2015

NAS TERRAS DO FIM DO MUNDO


quinta-feira, 19 de março de 2015

RESSURREIÇÃO

É uma Pátria quebrando cadeias,
É um silêncio que volta a cantar,
É um regresso de heróis às ameias,
Da cidade que volta a lutar.
É um deserto que vemos florir,
É uma fonte jorrando de novo,
É uma aurora que volta a sorrir
Nos olhos cansados do Povo.
E já ardem bandeiras vermelhas,
Nos campos há gritos de guerra,
Nas trevas da noite há centelhas,
Das rosas em festa da terra.
Canta o vento nos trigos doirados,
Dançam ondas à luz das fogueiras,
E nas sombras guerreiros alados
Erguem espadas entre as oliveiras.
É uma Pátria de novo sagrada,
Acordada da morte esquecida,
Vitória da nova alvorada:
Lusitânia em giesta florida.

DIOGO PACHECO DE AMORIM
(1949 — )

ROSA DE ARMAS

Deus a cada Nação um anjo deu.
Porque n’Ele as Nações serão eternas,
Mesmo que o tempo as desbarate e coma.


Anjo de Portugal! Te imploro! Imploro!
Defende Portugal, e continua-o!
Mesmo oculto e assombrado pelo mundo,
Como um corpo sem alma ou como alma
Penada a vaguear, ausente, ausente.
Mesmo que sendo só quase memória.
Defende Portugal! E, sob as asas,
Guarda-o, não vá ele enregelar.
Acende-lhe lá dentro uma candeia,
Que um dia voltará a ser archote
E fogueira a cantar no acampamento
E uma bola de fogo, um sol no empíreo,
Um coração nas ondas do Império.


Anjo de Portugal! No mais recesso
De nós mantém ainda esta semente,
Esta migalha, este ínfimo estilhaço,
Esta saudade, esta esperança e fé.
Este globo partido, Anjo! Recobra-o!
Retira-o do abismo, recompõe-o,
Altaneiro refá-lo, alto desvela-o,
Desfralda-o pela glória e pelos ventos,
De norte a sul, de leste a ocidente,
Que volte Portugal ressuscitado.


FLORENTINO GOULART NOGUEIRA
(1924  — 2015)

DIA DO PAI

É Dia do Pai porque é Dia de São José, marido da Virgem Santa Maria.
E é hoje. Mas, por enquanto, pois os ateus que nos desgovernam, e que teimam em apagar sistematicamente todos os Fundamentos Cristãos da Europa, podem sempre lembrar-se, na sua fúria niilista e iconoclasta, de apagá-lo; ou, de o mudar, como fizeram com o Dia da Mãe, por mesquinhos interesses comerciais. Do que estes novos vendilhões do Templo precisam sei eu. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

SÉTIMA ARTE À SEGUNDA-FEIRA

Cinema para Todos, de Luís de Pina, edição de Secretariado do Cinema e da Rádio, Lisboa, 1980.

MADRUGADA SEM SONO


QUATRO POETAS QUE ME FAZEM MUITA FALTA:

— Amândio César (1921 — 1987).
— António Manuel Couto Viana (1923 — 2010).
— Florentino Goulart Nogueira (1924 — 2015).
— Rodrigo Emílio (1944 — 2004).

sábado, 14 de março de 2015

1128 É O ANO DA FUNDAÇÃO NACIONAL

1128 é o ano da Fundação Nacional porque se tivéssemos tido que aguardar por Zamora para proclamarmos Portugal independente também teríamos havido que esperar pelo reconhecimento da Espanha em 1668 para considerarmos Portugal restaurado.

VANGUARDA TRADICIONALISTA

Os verdadeiros tradicionalistas portugueses nunca estão sós. Eles avançam —  em direcção ao futuro — na vanguarda do, invisível e invencível, exército dos seus avós. E, para isso, precisam conhecê-los, como de pão para a boca.
Hoje em dia, a maior parte da gente, infelizmente, não sabe, nem quer saber, que cada indivíduo, além de pai e mãe, tem 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós, 64 pentavós, 128 sextos-avós, 256 sétimos-avós e, por aí afora, sempre a duplicar, até à geração da Fundação Nacional, nascida por volta de 1100, onde cada um de nós contará com 2.147.483.648 trigésimos-avós (é claro que, devido à habitual consanguinidade, este número corresponde, de facto, a muitíssimo menos pessoas).
Esta enorme hoste de mortos constitui o sustento carnal e espiritual de qualquer tradicionalista que se preze. Por esta razão, faz-me imensa confusão que existam portugueses que se dizem nacionalistas, ou se afirmem patriotas, desconhecendo a sua genealogia; e, até, desprezando-a enquanto ciência. 

sexta-feira, 13 de março de 2015

DA IDENTITÁRIA E SIMBÓLICA ESTÉTICA BÉLICA

A Alma de um Povo manifesta-se na sua Cultura, já se sabe. Dentro desta, que é quase tudo — da gastronomia à poesia, das belas-artes às belas-letras —, existe uma área fundamental, mas muito esquecida, para a identificação da identidade das nações, toda ela simbólica: a spathologia (termo criado no século XIX para designar o estudo das espadas históricas).
Assim, os romanos usavam na peleja o seu clássico gládio; os francos e germanos combatiam, preferencialmente, com a frâncica (o belo machado-de-guerra de dois gumes simétricos); os lusitanos guerreavam com a acutilante e eficaz falcata (curta espada de gume côncavo, onde os romanos se basearam para melhorarem o seu, já falado, gládio); e, finalmente, os gregos tinham o kopis (quase igual à, atrás referida, lusitana falcata).
Por aqui se constata que todas as nações europeias são primas, mas umas mais primas do que outras; e, como Fernando Pessoa dizia, à sua genial maneira (na citação que anteriormente publiquei), há muitas e profundas afinidades entre um lusitano e um helénico.

AFINIDADES LUSO-HELÉNICAS NAS PALAVRAS DO POETA

Nada há de menos latino que um português. Somos muito mais helénicos — capazes, como os gregos, só de obter a proporção fora da lei, na liberdade, na ânsia, livres da pressão do Estado e da Sociedade. Não é uma blague geográfica o ficarem Lisboa e Atenas quase na mesma latitude.
FERNANDO PESSOA
(1888 — 1935)

SEBASTIANISMO AGORA

O miguelismo foi o sebastianismo do século XIX e o sidonismo o do século XX. Entretanto, já se pressente que o do século XXI está para chegar. Não se vê nem se ouve, por enquanto, mas afigura-se certo que este longo tempo de Interregno já gerou o Encoberto. Resta só revelar-se. Saibamos esperar, com saudades do futuro, para poder alcançá-lo. Na esperança de que (à terceira será de vez) este virá para ficar, a fim de realizar o V Império — que é do Espírito e só nosso, todo ele Cultura Lusíada — no III Milénio. Afinal, falta ainda cumprir-se Portugal! É a Hora? Não perderemos pela demora...

quarta-feira, 11 de março de 2015

O REINO DE PORTUGAL NA VANGUARDA SOCIAL

Em Portugal, os representantes dos municípios («homens-bons» das vilas e cidades, provenientes do «terceiro-estado» e escolhidos autarquicamente pelo povo dos concelhos) passaram a ter prioridade na elaboração das leis, em 1254, a partir das Cortes de Leiria, no reinado de D. Afonso III. Só no ano seguinte foi implementada em Inglaterra a Câmara dos Comuns, durante o reinado de Henrique III, dando assim semelhante voz à população. Remate-se a questão recordando que em França apenas com Filipe Augusto, em 1303, foram convocados os equivalentes representantes  populares.
Estes dados, que os interessados poderão confirmar e aprofundar nos manuais históricos, servem para recordar a matriz da Monarquia Portuguesa: o Bem Comum e a Justiça Social. Tendo estes dois altos desígnios nacionais em mente, Portugal criou a representação orgânica, corporativa e municipalista, expressa em Cortes Gerais com poderes legislativos. Desta forma, será para sempre o primeiro Estado da Europa a lançar o povo na construção das leis.  

DO COMBATE CULTURAL AO PODER POLÍTICO

Sempre tive para mim como certo que o combate cultural é decisivo na conquista do poder político e no condicionamento do seu exercício; nomeadamente, levando os governos a adoptar determinadas ideias e medidas. A partir dos anos 2000, esta função — toda ela de longo alcance e, por consequência, inacessível a gente de vistas curtas —, também designada por metapolítica, passou a contar com uma nova frente de batalha, que se veio a revelar a mais importante dos nossos dias — a blogosfera.
Senão, veja-se: o actual programa político liberal, aplicado por este governo, deve muitíssimo a uma jovem geração de pensadores liberais-conservadores que, durante toda a primeira década deste século, lançou os conceitos que o sustentam e preparou as mentalidades para a sua aceitação, através dos seus blogues (não vou nomeá-los, são por demais conhecidos).
Digo isto com todo o à-vontade de quem não tem a mesma visão para Portugal — muito pelo contrário —, mas sabe reconhecer um bom trabalho de confrades bloguistas. Quisesse Deus que a nossa gente, pelas nossas ideias, soubesse levar a cabo semelhante tarefa. A bem da Tradição. 

terça-feira, 10 de março de 2015

TRADICIONALISMO VERSUS LIBERALISMO EM PORTUGAL

Portugal está há 200 anos em liberalismo, quer seja político ou económico, revolucionário ou conservador, de direita ou de esquerda. Olhando com distanciamento e objectividade para os 900 anos de História, no seu conjunto, parece-me óbvio que foi imediatamente antes do arrivismo liberal, precisamente durante os 700 anos da catolicíssima, tradicionalista  e orgânica Monarquia Portuguesa, que vivemos os nossos maiores tempos de glória. Glória espiritual e material — realista, portanto.
Qualquer investigador académico, intelectualmente honesto, poderá entreter-se a confirmar isto, ponto por ponto, nas diversas disciplinas: das artes, ciências, diplomacia, direito, economia, filosofia, geografia, história, política, religião, etc. e tal; e, ainda, na coisa militar e também nas, hoje tão apregoadas, matérias marítimas e náuticas.  

segunda-feira, 9 de março de 2015

SÉTIMA ARTE À SEGUNDA-FEIRA

O Clube dos Amigos da Sétima Arte (CASA) — tertúlia cinéfila que fundei e animo desde 2004 — encontra-se prestes a arrancar com novas sessões para novos grupos. Ainda restam alguns lugares para pessoas interessadas em aprender ou recordar a História e Estética do Cinema.   

DA LUTA PELO POLEIRO NO CONTINENTE E ILHAS

A política praticada pelos partidos do sistema é tão tristemente previsível que nunca aqui falo dela. Apesar disso, há certas coisas que vale a pena referir, quanto mais não seja, a título de aviso, para que os meus leitores não sejam tomados por parvos.
Parece que arranjaram para aí, já há uns tempos, um novo tema, que anda na boca de políticos, comentadores e jornalistas, arvorado em questão nacional e feito «tabu» (velha técnica de comunicação rasteira, para entreter papalvos). Trata-se da coligação, para fins eleitorais, entre os dois partidos que descompõem o actual desgoverno da república portuguesa, outrora grande país chamado Portugal. Ora, obviamente, esse contrato só poderá ser feito após umas eleições de que, curiosamente, ninguém fala — as da Madeira, que se realizarão neste mesmo mês de Março. E é óbvio por uma simples razão: os dois partidos do desgoverno nacional vão entrar nessa corrida não só separadamente mas ferozmente um contra o outro; portanto, apenas depois de arrefecerem os calores dessa refrega sub-tropical os líderes dessas duas agremiações irão anunciar o seu casamento, qual profana aliança.
Já agora, por razões cómicas, vale a pena espreitar o panorama eleitoral do Arquipélago em causa e ver a bizarra coligação comandada pelos socialistas, prova evidente de que, quando cheira a poleiro, vale tudo.       

BEM-HAJAM

Agradeço a todos os bloguistas e leitores que simpaticamente me desejaram os Parabéns através do e-mail associado ao meu perfil no Blogger. Tentarei responder-lhes personalizadamente em breve.

domingo, 8 de março de 2015

PUXAR PELA CABEÇA COM SALAZAR EM MENTE

Salazar, nos seus escritos, discursos e entrevistas, raramente fazia citações. No entanto, na construção da sua doutrina — que foi, essencialmente, uma grande síntese  —, baseou-se noutros pensadores (de múltiplos países e séculos). Descobri-los, nas entrelinhas, constitui um estimulante jogo, para quem gosta de pesquisar.

sábado, 7 de março de 2015

TERROR NA AUTOESTRADA ABERTA PELA PRIMAVERA ÁRABE

As «Primaveras Árabes» foram congeminadas pelos iluminados especialistas de geoestratégia dos Estados Unidos da América e postas em prática pelos seus discretos agentes no terreno, quais aprendizes baratos de Lawrence da Arábia. De seguida, para melhor serem legitimadas, foram aplaudidas às mãos ambas pelos usuais idiotas úteis de serviço, ou seja, as chamadas opiniões públicas ocidentais, sempre facilmente instrumentalizadas por poderes invisíveis.
Finalmente, após mais de quatro anos de aplicação desta receita, o resultado geopolítico deste lindo serviço está bem à vista de todos: vastos territórios do Norte de África e do Médio Oriente foram gravemente desestabilizados e estão transformados numa enorme autoestrada aberta para exclusivo uso dos terroristas niilistas do Estado Islâmico no seu devastador avanço em direcção à Europa.       

sexta-feira, 6 de março de 2015

DA POLÍTICA INTERNACIONAL

No meio do habitual chorrilho de desinformação, e provavelmente por distracção ou engano, a RTP prestou recentemente verdadeiro serviço público. Refiro-me à entrevista com Bashar al-Assad. Apesar das preconceituosas e politicamente correctas perguntas do jornalista português, as respostas do Presidente da Síria merecem ser escutadas com toda a atenção (basta pesquisar na Internet, encontra-se online). Bem sei que a Europa anda desorientada, pelos actuais desgovernantes da desunião europeia, e já não sabe distinguir os amigos dos inimigos nem definir aliados; mas, pode ser que, indo directamente às fontes e ouvindo os injustamente diabolizados (como neste caso),  os europeus finalmente despertem.

NA MOEDA E NA CHEFIA DO ESTADO

Portugal carece urgentemente do regresso dos Reis.

quinta-feira, 5 de março de 2015

NEM TODOS OS AFORISMOS SÃO ETERNOS

No início do Século XIX, Joseph de Maistre, grande pensador católico e monárquico, proclamou um famoso aforismo: «Uma Contra-Revolução não é uma Revolução contrária; é o contrário de uma Revolução.» À época, os diferentes tradicionalistas europeus podiam e deviam levar esse anexim à letra, pois permaneciam ainda, nas suas diversas comunidades nacionais, muitas coisas intactas; e, portanto, quase tudo para conservar.
Agora, perante o actual panorama de dissolução nacional, em todas as pátrias da Europa, os tradicionalistas não poderão limitar-se a ser contra-revolucionários ou conservadores; mas, muito pelo contrário, deverão ser revolucionários e lutar — precisamente — por uma Revolução contrária. Só assim será reposta a Ordem e a Tradição.

quarta-feira, 4 de março de 2015

SINAIS SENSORIAIS DA ESTAÇÃO QUE SE AVIZINHA

Sei que a Primavera se aproxima porque os longos e sedosos cabelos das raparigas na flor da idade já refulgem sob a bela luz dourada do Sol do Equinócio.

ESTATÍSTICAS OFICIAIS DO ETERNAS SAUDADES DO FUTURO

Janeiro de 2015
Visualizações de páginas: 7 920.

Bem-hajam todos estes que visitaram o blogue neste momento crucial de nova arrancada do Eternas Saudades do Futuro.   

terça-feira, 3 de março de 2015

A EUROPA CRISTÃ ESTÁ CERCADA E AMEAÇADA

A Europa toda — de Lisboa a Moscovo — tem que rapidamente reencontrar-se com a sua raiz cristã; e, unida à volta dessa sua matriz —  fundacional e comum a todas as suas nações —, fazer frente aos que a ameaçam por (quase) todos os lados.  A saber: República Popular da China, a oriente; Estado Islâmico, a sul; Estados Unidos da América, a oeste.
Tudo o mais são conflitos criados artificialmente dentro dela —   com o sinistro triplo objectivo de dividi-la, enfraquecê-la e distraí-la (do essencial) — por estes mesmos seus inimigos.

segunda-feira, 2 de março de 2015

TRADIÇÃO E QUALIDADE NA INTERNET

Habitué destas andanças, há mais de uma década — primeiro como leitor, depois como autor —, cedo cheguei à conclusão de que estando hoje vedado, pelos donos do sistema, o acesso aos convencionais meios de comunicação (jornais, revistas, rádios, televisões) às  verdadeiras élites do pensamento, simplesmente porque têm uma diferente Weltanschauung, seria a Internet o meio privilegiado para divulgar ideias. Ideias antigas, velhas, tradicionais, mas muito actuais, pois são de sempre e para sempre.
Dito isto, é com júbilo que saúdo a aparição nesta rede de um espaço de qualidade feito por um grupo de brilhantes jovens académicos: Velho Critério. Como se já não bastasse esta lufada de ar fresco, e como isto está tudo ligado, vejo com alegria ser um dos excelentes autores o filho do meu amigo Carlos Bobone, sábio e rigoroso primeiro director da saudosa, também ela uma revista cultural online,  Alameda  Digital (link aqui ao lado, na coluna da direita). Eis a tradição em marcha, passando o sagrado legado da Cultura, de pai para filho, ao longo dos séculos. Se todos assim o fizermos, Portugal eterno viverá!

SÉTIMA ARTE À SEGUNDA-FEIRA

Fitas e Franjas, Domingos Mascarenhas, Edições Gama, Lisboa, 1948.