sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 100

Decidimos ambas que a centésima crónica seria a última. Porque é um número redondo e porque chegar até aqui nos soube a vitória. 

Assuntos não faltam, ideias também não, mas às vezes é preciso um ponto final ou um ponto e vírgula, senão ninguém respira. Chegou ao fim esta aventura. Posso sempre dizer que se trata de decisão irrevogável, pois, neste país, os prefixos de negação perderam a validade.

Numa crónica a valer, escrita por pessoas a sério, deveria discorrer sobre um tema qualquer e tratar das despedidas em nota, mas esta é a crónica de uma carteira de senhora, a minha, e não quero. Se é uma despedida, que seja à grande e tema principal.

Acabámos de atracar em 2014 e tenho grandes esperanças. Grandes esperanças nas pequenas coisas, porque o pequeno David também venceu Golias. Anseio ver os portugueses fazerem finalmente algo em prol do seu país. Algo como interessarem-se por grandes, médias e até minúsculas causas, percebendo o valor desses combates e dignando-se abraçar aquilo que é importante com vontade e com paixão. Algo como deixarem de ter sempre o umbigo ou os pés no seu campo visual e levantarem a cabeça. Algo que mostre não serem afinal uns parasitas, eternamente refilões mas apenas guerreiros de sofá com a garganta em punho, numa dependência crónica do outro.

Durante cem semanas, quase dois anos, falámos de tudo um pouco, brincámos, ironizámos, criticámos, exortámos e até chorámos. Imaginava também poder estar a contribuir para relembrar o que fomos, somos e seremos, aquilo que verdadeiramente importa nas nossas vidas e no país, a amar a terra, as gentes, a paisagem e o património, ajudando assim a criar cavaleiros que os defendam. Não sei se cumpri. Tentei.

Ao João Marchante agradeço, do fundo do coração, ter-me lançado este desafio (sem sequer me conhecer!) e arranjado um cantinho no seu blogue. Aos amigos e leitores um bem-haja pela paciência, apoio e carinho sempre demonstrados.

Continuaremos, a carteira e eu, a vogar nas Eternas Saudades do Futuro. Vou ter saudades, sem dúvida, mas quem sabe se, de quando em vez, não poderei vir aqui matá-las? 

Saio a correr, fugindo das lágrimas que previsivelmente atacam esta piegas em todas as ocasiões.

Bem hajam! Até sempre!

Leonor Martins de Carvalho