segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (47)

Há uma teoria que filia a maçonaria na Ordem do Templo. Os cavaleiros templários, monges-guerreiros dispostos a dar a vida pela fé em Cristo, ter-se-iam desvirtuado e, após as perseguições, os castigos impostos pela Igreja e a dissolução da ordem, teriam encetado caminho inverso, nutridos pelo sentimento de vingança à religião e ódio ao Criador, terminando por forjar uma aliança com as forças das trevas para a criação da seita maldita.

Conversões como estas, tal “estrada de Damasco” ao contrário, não deixam de causar grande perplexidade, sobretudo pelo impacto extraordinário que tiveram na vida dos povos no decorrer dos séculos.

Guardadas as devidas proporções e sem presunção de comparação definitiva, na conturbada vida política Argentina houve uma espantosa conversão que até aos dias de hoje é motivo de especulações sem conta. Como foi possível que de organizações de cunho católico, nacionalista e até mesmo contra-revolucionário, saíram elementos que acabaram por abraçar o marxismo como explicação da realidade e o terrorismo e/ou guerrilha como a vía para a construção da “pátria socialista”?

Tacuara, o movimento nacionalista católico de referência, anti-comunista e anti-sionista, naturalmente rotulado “fascista”, “falangista” ou “nazi” por adversários de variada extracção, acabou dividido, com boa parte convertida ao marxismo de versão castrista ou trotskysta. Montoneros, a emblemática organização esquerdista de guerrilha urbana que irrompeu de forma espectacular em 1970, com o sequestro e a execução do ex-presidente Gen. Pedro Eugénio Aramburu, apresentava como fundadores e dirigentes indivíduos oriundos do nacionalismo católico.

Ah, mas virão os liberalóides a dizer que os “extremos” terminam por tocar-se; a esquerdalhada a afirmar que esses felizardos, num despertar de “consciência de classe”, acabaram por compreender a verdade; outros, ainda, num arroubo de erudição psicanalítica, afirmarão que os muchachos precisavam mesmo de extravasar violentamente a tensão dos conflictos inter-geracionais, etc.

Eu, too old, too fat and too old-fashioned, fico-me mesmo com a explicação da constante luta entre o Bem e o Mal e da facilidade com a qual o príncipe da mentira, por artimanhas absolutamente incríveis, consegue muitas vezes conquistar até mesmo aqueles que, em teoria, estariam doutrinariamente blindados.

Até para a semana, se Deus quiser.

Marcos Pinho de Escobar