segunda-feira, 18 de novembro de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (43)

Chegou-me às mãos o livro da “Micas” sobre os seus “35 com Salazar”. Só que o volume aparece com um co-autor, um sr. Joaquim Vieira, apresentado como “jornalista e ensaísta”, e cuja função é “passar para o papel” as memórias da pupila do antigo Presidente do Conselho, fornecendo-lhes – e aqui é que está a pièce de résistance – o devido “enquadramento histórico”. Já na dedicatória o enquadrador histórico invoca os pais para agradecer o ensinamento das virtudes da “tolerância”... O que vem a seguir, o tal “enquadramento histórico”, é simplesmente a inserção, na introdução e em cada capítulo, de extensos comentários a respeito dos temas invocados e dos episódios rememorados pela sra. Maria da Conceição de Melo Rita. É assim: o sr. Joaquim Vieira, experimentado na arte da escrita e, pelo que se vê, também na ciência histórica e política, ao dar uma mãozita à tarefa da Micas, aproveita para dar a sua opinião acerca de Salazar, homem e obra, não vá para aí algum leitor incauto sensibilizar-se demasiado com o retrato simpático e bondoso do estadista feito por sua protegida. Armado com o vocabulário de costume – o “ditador”, repetido à exaustão; a “ditadura”; a “censura”; a "Pide", a “polícia política que persegue, prende e tortura”; o "Tarrafal"; a "execução" de Humberto Delgado; a "guerra colonial", resultante da "obstinação e intransigência do ditador”; as “práticas protofascistas”; etc., etc. e, sobretudo, etc. – o enquadrador histórico vai desferindo coices aqui e acolá, num autêntico exercício de apresentar o negativo do retrato de Salazar desenhado pelas saudosas e saborosas recordações de sua antiga pupila. Tem interesse, sem dúvida, o relato da sra. Maria da Conceição, com a revelação de pormenores acerca da vida caseira do homem Salazar, nos raros momentos em que não era o super-homem do Estado. É de louvar a iniciativa de dar a conhecer o seu testemunho e manifestar a sua fidelidade inabalável à memória de Salazar. O que está mal é a má companhia de Joaquim Vieira. Infelizmente, estou convencido de que as recordações da Micas vão ajudar a nova estratégia antisalazariana dos abrilentos, abrileiros já bolorentos – a banalização do homem, iniciativa cujo grande promotor parece ser o sr. Fernando Dacosta, outro "ensaísta e jornalista". A demonização absoluta não resultou. Daí passaram à ocultação pura e simples. Mas a imagem de Salazar, a memória do homem e da obra, o exemplo ímpar, puramente genial, insistem em pairar tal nuvem negra de tempestade sobre as cabecinhas da cáfila que desmantelou Portugal – daí a raiva canina, a baba e o ranho. Parte-se então para a banalização. Vão querer transformar Salazar num homem qualquer. Um qualquer como os outros. Um qualquer como eles? A tropa das bananas, ou banalizadora, preparadíssima que está, não vai dormir na formatura. Não vai não. Vai mesmo é ser chumbada. A verdade pode levar muito tempo, mas acaba sempre por vir ao de cima. Graças a Deus.

Até para a semana, se Nosso Senhor assim dispuser.

Marcos Pinho de Escobar