CADERNOS INTERATLÂNTICOS (21)
Álvaro Barreirinhas Cunhal tem agora a sua avenida em Lisboa. Dei comigo a pensar que tal glória dever-se-ia à sua qualidade de ilustre cidadão soviético ou de estalinista exemplar, magno benfeitor das Rússias do Politburo com a adição em grande do Portugal ultramarino. Mas parece que não. Segundo o Presidente da Câmara de Lisboa a homenagem deve-se à “coerência” e à “coragem” do antigo dirigente comunista. Fiquei elucidado. Coerência em quê? Coragem para quê? A obra não conta, apenas o empenho em executá-la. Tudo isto faz-me recordar a fórmula de uma sociedade política bem ordenada, segundo o grande estadista católico Gabriel García Moreno. Para o governante equatoriano a liberdade deveria ser assegurada a tudo e a todos, excepto ao mal e aos que praticam o mal. Há para aí quem sustente que a cunhalíssima artéria lisboeta radica no reconhecimento da “memória histórica”. Pode ser, mas trata-se de uma memória, no mínimo, hemiplégica.
Outra pérola dos últimos dias foi a visita relâmpago e gaffeuse da terrorista aposentada gerente do Patropi. Decidida a não perder os saldos da liquidação definitiva do Portugal tal como o conhecemos – português –, à gramsciana visitante sobrou tempo para receber em beija-mão a vassalagem cá do burgo. Não se sabe ao certo quais as “promoções” que levou na sacola, mas está sobejamente confirmada que a bastardização da Língua de Camões – escandaloso acocorar dos vendilhões de Portugal perante brasileiros que desconhecem a concordância – está aí para ficar. Quanto a mim, é boicote total a tudo o que vier escrito em tal mixórdia. E com o marcador vermelho na algibeira, aplicarei, onde puder, o devido correctivo.
E para fechar a semana em baixeza, que é o máximo a que podem chegar os merceeiros que despedaçam o rectângulo que restou da abrilada, chega a notícia de que os mesmos decidiram encerrar a Coudelaria de Alter do Chão, autêntica jóia criada por D. João V em 1748 para o aprimoramento da nossa raça cavalar lusitana. A verdadeira razão? Porque é nosso, porque é lusitano. Porque é património, tradição, nosso ex libris pelo mundo fora, nossa marca de excelência. Porque recorda – Ó atraso! Ó vergonha! – a nossa individualidade, a nossa identidade, o nosso passado. Porque traz à memória tempos de grandeza lusa. Não tenham dúvidas: passa exactamente por aí a razão deste absurdo.
E ainda há para aí alguém que julga que este sítio tem salvação? Valha-nos Deus Nosso Senhor!
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
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