domingo, 30 de junho de 2013

A QUEDA DE UM MITO

O cônsul Aristides Sousa Mendes, a Verdade e a Mentira, de Embaixador Carlos Fernandes, edição Grupo de amigos do autor, Lisboa, 2013 (1.ª edição).

sábado, 29 de junho de 2013

EM MEMÓRIA DE JOSÉ MARIA CORTES

Não temos nada capaz de dar a um rapaz um bocado de fibra. Temos só a tourada. Tirem a tourada e não ficam senão badamecos derreados da espinha.
EÇA DE QUEIROZ

Alexandre Herculano, em questão de touros, era um português degenerado. Nunca viu uma tourada.
BULHÃO PATO

Esta gente moderna, com suas higienes e posturices, substituíram as iscas e o pastel de bacalhau por bolos de arroz e brioches e o vinho por leite, não se tendo convencido nunca de que não há raça forte com semelhante alimento e a resultante foi a substituição das touradas pelo futebol e dos homens pelos maricas.
FORJAZ DE SAMPAIO

Deixem-se os «estrangeirantes» de tentar obscurecer a Toirada Portuguesa e defendamos nós, correndo «atrás do toiro», uma herança milenária e transmitamos aos nossos filhos o gosto por quanto nossos Avós nos legaram.
MASCARENHAS BARRETO

sexta-feira, 28 de junho de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 73

A carteira não meteu prego nem estopa nesta crónica. Quis falar do tempo na última, agora sujeita-se. A umas linhas curtas e frias, sem rebuscamentos, directas ao assunto.

Não pondo em causa as pessoas em si, apenas uma pequena listagem. Um exercício no fim do ano escolar:

Presidente da República: escolhido pelos partidos (pensem bem e verão que assim é)

Deputados: escolhidos pelos partidos (idem)

Tribunal Constitucional: maioria dos juízes escolhidos pelos partidos

Tribunal de Contas: Presidente escolhido pelo governo (partidos)

Provedor de Justiça: escolhido pelos partidos

Banco de Portugal: Governador e Conselho de administração nomeados pelo governo (partidos)

Autoridade da Concorrência – Conselho nomeado pelo governo (partidos)

Erse – Conselho de administração nomeado pelo governo (partidos)

Anacom - Conselho de administração nomeado pelo governo (partidos)

Instituto de Seguros de Portugal: Conselho Directivo nomeado pelo governo (partidos)

CMVM: Conselho Directivo nomeado pelo governo (partidos)

Empresas públicas e municipais: órgãos directivos escolhidos pelo governo ou câmaras (partidos)

E por aí fora, sem falar das influências directas e indirectas nos meios de comunicação, nem das promiscuidades com empresas privadas, desde gabinetes de advogados à banca.

Não esquecendo ainda que, para criar um partido são precisas 7.500 assinaturas, mas para uma iniciativa legislativa de cidadãos já são 35.000 e para uma candidatura independente a cada órgão autárquico há que fazer contas (nº de eleitores da autarquia / 3 x nº de membros do órgão) e arranjar proponentes a cada quatro anos.

Perceberam? Chamam-lhe democracia. Há quem genuinamente acredite que é mesmo assim que deve ser o mundo.

Onde é que entram aqui as pessoas? Num mundo girando unicamente à volta de partidos, dão-nos a entender que a participação é filiar-se num. E depois obedecer à esquadria. 

Onde é que entram aqui as comunidades? Onde é que estão as antigas liberdades? Onde os direitos dos forais? Já se foram há séculos, sorrateiramente, até não sobrar nada. Absolutamente nada.

Leonor Martins de Carvalho

quarta-feira, 26 de junho de 2013

DA ARTE DE VIAJAR

Ter mundo não se consegue viajando muito. Ter mundo advém de viajar bem.

terça-feira, 25 de junho de 2013

DO MAR E DA SÉTIMA ARTE

Neste fim-de-semana estive na Póvoa de Varzim e em Vila do Conde. Passei no lugar onde Leitão de Barros filmou essa extraordinária obra-prima do Cinema que é Ala-Arriba! (1942). Juntamente com Nazaré, Praia de Pescadores (1929) e Maria do Mar (1930) compõe a sua «Trilogia do Mar». Vi com agrado que esse filme está muitíssimo bem assinalado, com monumentais impressões de fotogramas da fita expostas ao ar livre, em plena praia de Caxinas. Enquanto assim for, Portugal, embora adormecido, continuará vivo. Deus queira que muito em breve desperte!   

segunda-feira, 24 de junho de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (22)

Em matéria de manifestações de rua, dos países onde vivi, a Argentina ganha a perder de vista. Cazerolazos, cortes de ruas e avenidas, bloqueio de acessos aos aeroportos, “chuvas” de ovos e tomates, vandalismos variados, etc., quem desejar um pós-doutoramento na (in)disciplina deve lá passar uma temporada. Ali implantou-se a cultura do direito à apropriação selvagem do espaço público, sem qualquer consideração pelos demais habitantes.  Cinco ou seis cortes de vias principais no centro de Buenos Aires é a realidade diária. Há um par de meses assisti a sessenta deles, que estendiam-se do centro à periferia. Escusado será dizer que a vida de um infeliz obrigado a deslocar-se na Capital é transformada em qualquer coisa entre a tortura e o inferno.  Tudo isto vem a propósito da tão recente como surpreendente adesão do Brasil ao club dos “indignados”. De facto, é no mínimo curioso que um povo até então caracterizado por uma apatia autenticamente bovina resolva sair à rua protestar – e em alguns casos, depredar.  Hoje mesmo ouvi da boca de um amigo que lá tem o filho a viver: “o que assusta é que agora, pela primeira vez, vê-se o ódio estampado na cara das pessoas”.  Não estou de acordo.  O ódio já existia mas manifestava-se de outras formas, e há anos que vem sendo lenta mas habilmente trabalhado e canalizado para onde interessa.  Mas isto é tema para um outro caderno. Regressando à terra argentina, tenho muito viva na mente a recordação dos protestos de 2001, quando o país foi à quebra.  Exauridas as reservas internacionais que serviam de lastro à paridade peso-dólar, o governo procedeu ao bloqueio dos depósitos bancários, acto contínuo, operou uma brutal desvalorização cambial que levou a moeda estado-unidense de 1 a 4 pesos. “Devolvidos” os depósitos dois ou três anos depois, devidamente pulverizados, tratou-se de uma escandalosa expropriação que provocou seríssimas dificuldades a milhões de argentinos, boa parte atirados à miséria. Lembro-me muito bem dos protestos de massa em Buenos Aires, dos famigerados cacerolazos, das gigantescas concentrações de gente de todos os tipos, do espectáculo de indignação e desespero, da violência generalizada, da destruição material, dos mortos e feridos. Recordo a populaça furiosa diante do Congresso, a bater tachos e panelas contra a corrupção, a gestão danosa e o dolo, a patifaria generalizada da classe pulhítica, gritar aos deputados e senadores: que se vayan todos! Recordo quando a turbamulta, armada com marretas, avançava contra os balcões dos bancos e, entre brados de ladrones e nunca más un centavo en el banco, despedaçavam portas, montras e quase tudo o que viam pela frente.  Qual o resultado prático deste exercício de “acção directa”, desta bravata colectiva? Absolutamente nenhum. Os pulhíticos continuaram todos onde estavam e estão; o rico dinheirinho continuou a ser depositado nos bancos ladrones. Mais do que sobreviver, o pérfido sistema saiu fortalecido, i.e., ainda mais corrupto, ainda mais perverso. Não fosse ele produto de quem – desde o fundo da História – muito bem conhece a natureza humana, especialmente as suas fraquezas.  O que se passa no Patropi, enquanto pretensa revolta contra a corrupção escandalosa e a vergonhosa má gestão, ficará em águas de bacalhau. Suspeito que na terra do samba e da hegemonia vermelha o que está em jogo é a direcção suprema, disputada por duas facções da mesmíssima família: uma, que pretende conservar a antiga terrorista na presidência, outra, a que deseja o regresso – como “salvador perpétuo” – do analfabeto com alcunha de molusco cefalópode. Enquanto os cães ladram a moeda local despenha-se na vertical, mas ninguém dá por isso. Só existe o Brasil e o seu umbigo. Parece que o real, ao fim e ao cabo, é mesmo irreal.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

24 DE JUNHO

2 A. C. — Nascimento de S. João Baptista.
1128 — Batalha de S. Mamede, Fundação de Portugal.
1360 — Nascimento de D. Nuno Álvares Pereira / S. Nuno de Santa Maria.

SACRAMENTO E GRANDE MOMENTO

Anteontem fui a um casamento. Por mais voltas que dê, continua a ser a minha actividade social preferida. Não há nada como um casamento. Na sua conjugação de espiritual com sensual e de sagrado com profano, alimenta o corpo e a alma. Sacramento e grande momento.

domingo, 23 de junho de 2013

DE PÉ SOBRE AS RUÍNAS

A melhor forma de se subir na vida é estar-se calado e vergado. Prefiro dizer o que tenho a dizer e permanecer direito. De pé sobre as ruínas.

DO SOLSTÍCIO DE VERÃO E DA LUA CHEIA

A partir de anteontem, e até ao dia do Solstício de Inverno — momento do anti-clímax —, as noites vão crescendo e os dias diminuindo, muito lentamente. A simples observação diária desta regra da Natureza sempre constituiu para mim um suave deleite. Nada melhor do que seguir e sentir o Sol, e a sua presença entre nós, iluminando-nos e aquecendo-nos. Vindas estas palavras de um noctívago, são ainda mais verdadeiras. Gosto das longas noites, especialmente as de Lua Cheia (como a extraordinária de hoje), mas também admiro os intermináveis dias, banhados pela luz quente do Astro-Rei, para assim viver em plena sintonia com a equilibrada harmonia da Natureza.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 72

Pergunta-me a carteira se já falou do tempo, querendo com isso dizer clima. A memória não é o meu forte, exceptuando para números, e não lhe sei responder. Guardo as crónicas apenas com a referência ao dia, tal e qual como está aqui, sem qualquer subtítulo. Como não é minha intenção ler as outras setenta e uma, por variadas razões e muito menos por esta, tenham paciência se me vou repetir. O propósito da carteira tanto pode ser desviar as atenções do essencial, e este é o tema mais apropriado desde há muitos séculos para essa função, como apenas demonstrar a sua exímia qualidade de carteira de senhora.

Aliás, porque não falar do tempo se até um governante acha apropriado invocar as condições meteorológicas para justificar a queda no investimento? 

Um estereótipo associado aos ingleses é que estes adoram falar do tempo, afinal um óptimo quebra-gelo para uma conversa, mas, na verdade, o mesmo acontece connosco. No entanto, na ilha de onde são naturais, geralmente os ingleses não têm muita sorte com o dito, vigiando ansiosos o anticiclone dos Açores, e o tempo é, por isso, razão de queixa perfeitamente natural e compreensível. Ora nós, que, comparativamente, até temos um clima maravilhoso (dizem eles!), que fazemos, digam lá? Queixamo-nos, homessa!
 
É raríssimo ouvir a alguém: - Mas que lindo dia! É que quando está mesmo um tempo esplêndido, socorremo-nos a comentar o horror do dia anterior ou a previsão aterradora da semana que vem. 

Verdade seja dita que com um lindo dia a conversa não desenvolve, concorda-se, fica por ali e lá se perde a oportunidade para outro tema mais interessante. Nada mais estimulante que chuva batida a vento, massas de ar vindas dos Pólos ou do deserto do Sara, ventos ciclónicos, neve e granizo. Pelos exemplos dramáticos que queremos dar, permite a transição suave para cidades que se visitaram, a terra onde se nasceu, até à descoberta de um parentesco qualquer com a pessoa que acabámos de conhecer e caímos nos seus braços com a intimidade acabada de construir.
 
Pela primeira vez sei agora sobre o que vou falar na próxima semana. É o que faz falar do tempo.
 
Leonor Martins de Carvalho

quarta-feira, 19 de junho de 2013

DO TRISTE TRIUNFO DA MATÉRIA SOBRE O ESPÍRITO

Cada vez mais me acontece olharem-me para o dedo quando aponto para a Lua.

terça-feira, 18 de junho de 2013

DA TRAGÉDIA DOS TEMPOS MODERNOS

As pessoas civilizados deixaram de ser cultas e as pessoas cultas ainda não são civilizadas.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (21)

Álvaro Barreirinhas Cunhal tem agora a sua avenida em Lisboa. Dei comigo a pensar que tal glória dever-se-ia à sua qualidade de ilustre cidadão soviético ou de estalinista exemplar, magno benfeitor das Rússias do Politburo com a adição em grande do Portugal ultramarino. Mas parece que não. Segundo o Presidente da Câmara de Lisboa a homenagem deve-se à “coerência” e à “coragem” do antigo dirigente comunista. Fiquei elucidado.  Coerência em quê? Coragem para quê? A obra não conta, apenas o empenho em executá-la. Tudo isto faz-me recordar a fórmula de uma sociedade política bem ordenada, segundo o grande estadista católico Gabriel García Moreno. Para o governante equatoriano a liberdade deveria ser assegurada a tudo e a todos, excepto ao mal e aos que praticam o mal. Há para aí quem sustente que a cunhalíssima artéria lisboeta radica no reconhecimento da “memória histórica”. Pode ser, mas trata-se de uma memória, no mínimo, hemiplégica.

Outra pérola dos últimos dias foi a visita relâmpago e gaffeuse da terrorista aposentada gerente do Patropi. Decidida a não perder os saldos da liquidação definitiva do Portugal tal como o conhecemos – português –, à gramsciana visitante sobrou tempo para receber em beija-mão a vassalagem cá do burgo.  Não se sabe ao certo quais as “promoções” que levou na sacola, mas está sobejamente confirmada que a bastardização da Língua de Camões – escandaloso acocorar dos vendilhões de Portugal perante brasileiros que desconhecem a concordância  – está aí para ficar.  Quanto a mim, é boicote total a tudo o que vier escrito em tal mixórdia. E com o marcador vermelho na algibeira, aplicarei, onde puder, o devido correctivo.  

E para fechar a semana em baixeza, que é o máximo a que podem chegar os merceeiros que despedaçam o rectângulo que restou da abrilada, chega a notícia de que os mesmos decidiram encerrar a Coudelaria de Alter do Chão, autêntica jóia criada por D. João V em 1748 para o aprimoramento da nossa raça cavalar lusitana. A verdadeira razão? Porque é nosso, porque é lusitano. Porque é património, tradição, nosso ex libris pelo mundo fora, nossa marca de excelência. Porque recorda – Ó atraso! Ó vergonha! – a nossa individualidade, a nossa identidade, o nosso passado.  Porque traz à memória tempos de grandeza lusa.  Não tenham dúvidas: passa exactamente por aí a razão deste absurdo.

E ainda há para aí alguém que julga que este sítio tem salvação? Valha-nos Deus Nosso Senhor!

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

sábado, 15 de junho de 2013

DA TRADIÇÃO

Ignorar a tradição é como desconhecer pai e mãe, não conhecer os cantos à casa e perder o fio à meada. Assim estão hoje os portugueses.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 71
De férias, a carteira esforça-se na preguiça dos dias por me providenciar um papelinho com tema digno. Então, sobre dignidade será. 
Diz o dicionário, o pequeno dicionário de Cândido de Figueiredo, que aqui mora numa das prateleiras e também lá em casa, que dignidade, herdeiro do latino dignitas, é um substantivo feminino (nestas novas gramáticas ainda existe tal coisa, o substantivo?) que, entre outros significados, quer dizer qualidade daquele ou daquilo que é nobre e grande, modo de proceder que se impõe ao respeito público, respeitabilidade, pundonor, seriedade, autoridade, nobreza. 
Já agora, digno, no mesmo útil volume, é um adjectivo (também não morreram os adjectivos?) procedente do latim dignus, que significa merecedor, apropriado, que tem dignidade, honrado, exemplar, ilustre, que vale a pena, hábil, habilitado, capaz. 
Em resumo, quase tudo o que esperamos de quem nos governa. Verifica-se facilmente que bem podemos esperar sentados. 
Desterrada no Portugal profundo que amo, parece-me ver com mais discernimento a loucura instalada que perigosamente já é considerada estado normal. Vale tudo. Pelo poder e pelo dinheiro, na esperança ávida de que um traga o outro. Não interessam capacidades, seriedade ou honradez. Até as boas vontades acabam sugadas.
Gente que se verga mais que uma seara batida a vento. Que se derrete parolamente com loas estrangeiras quando já todos sabem ao que vêm. Que destrói o país real que desconhece, celebra negócios obscuros (quão brando é este adjectivo…) e vende tudo ao desbarato, incluindo a própria língua.
Depois até se denunciam mutuamente, mas o que uns fazem, os outros só fingem que desfazem.
Dignidade têm os portugueses que aturam esta gentalha. Os portugueses que não baixam os braços, que trabalham esforçadamente no dia-a-dia, que emigram, que tudo fazem para tentar prover ao seu sustento, que ajudam os mais fracos, que se unem em causas nobres.
Tomara uma migalha desta dignidade em cada um dos que nos desgoverna há muito. São esses os indignos perante a Nação que somos.
Saibamos conservá-las, a nossa dignidade e a de Portugal. Já que muitos não o são, sejamos nós dignos do país, da sua História, dos nossos avoengos e dos vindouros, dando-lhe assim também a dignidade merecida.
Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 13 de junho de 2013

13 DE JUNHO

1231 — Morre, em Pádua, Santo António de Lisboa (Fernando de Bulhões).
1888 — Nasce, em Lisboa, Poeta Fernando Pessoa (Fernando António Nogueira Pessoa).

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A RAIZ DO MAL

O mundo é (des)governado por indivíduos que não gostam de árvores nem de livros. Em Portugal é igual. Quando é que os erradicamos?

terça-feira, 11 de junho de 2013

DO FUTURO DOS LIVROS

Alertam-me com alguma preocupação para o facto material de a marca de posse — carimbo com o meu nome completo como consta no BI da RP — que aplico em todos os meus livros «desvalorizar» os respectivos volumes. O parecer técnico é certamente bem verdadeiro e bem intencionado. Porém, não tendo eu os livros para vendê-los mas sim para lê-los, conservá-los e deixá-los aos meus descendentes, não vislumbro razão para ficar inquieto. Antes pelo contrário. Todos ficarão assim no futuro a saber a quem pertenceram e de onde vieram os referidos livros, facilitando desta forma a vida aos vindouros. Contudo, tenho a clara noção de que nestes tempos ferozmente individualistas isto soa a excentricidade. Pensar nos outros (ainda para mais, em alguns que ainda nem nasceram...) é uma tolice.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (20)

10 de Junho de 2013. Já foi conhecido como Dia da Raça, Dia de Portugal.  Costumava ser o dia da manifestação de profundo respeito por todos aqueles que cumpriam o sacrifício supremo de dar a vida pela Pátria, na defesa da sua integridade, física e moral.  O que é hoje?  Fica, claro está, a interrogação… cuja resposta é nada mais nada menos do que a definição do próprio fenómeno nacional. 

Não tenho pachorra para escutar a torto e a direito considerações doutas ou ignorantes sobre um Portugal “mercearia” que não conheço nem reconheço.  Pobres tipos que se julgam muito modernos e sofisticados porque “pensam” com uma calculadora barata de quatro operações, e para quem o PIB é o sacrossanto parâmetro para aferir a realidade!  Para tal gente não há alma, só matéria; não há moral nem valores, apenas lucro e prejuízo; não há passado ou futuro, só o presente; não há mortos ou por nascer, apenas os consumidores presentes. Na sua concepção degenerada Portugal é um negócio, um albergue, um sítio; pouco lhes dá quem é o patrão, quem são os empregados ou os clientes, o produto ou serviço que vende – o que interessa é o cifrão. 

Um dos nossos Maiores afirmou que a Nação é sobretudo uma “entidade moral, que se formou ao longo dos séculos pelo trabalho e solidariedade de sucessivas gerações, ligadas por afinidades de sangue e de espírito, e a que nada repugna crer, esteja atribuída no plano providencial, uma missão específica no conjunto humano.  Só esse peso dos sacrifícios sem conta, da cooperação de esforços, da identidade de origem, só esse património colectivo, só essa comunhão espiritual podem moralmente alicerçar o dever de servi-la e dar a vida por ela. Tudo pela Nação, nada contra a Nação – só é uma divisa política na medida em que não for aceite por todos. E de facto não é.”

Aí está, em resumo, toda a teoria da Nação: comunidade natural e histórica única e irrepetível, comunhão de sangue e de espírito,  obra material e moral de todas as gerações, património sagrado. É graças a ela que somos; é através de nós que ela perdura. Como sustentava Maurras, a Nação é “mãe e filha dos nossos destinos”. Ignorar ou rejeitar esta dupla vinculação é receita infalível para o desastre:  para deixar de ser Nação para ser país.  E daí ao estado de “mercearia” é um salto.

Nada pela mercearia, tudo contra a mercearia! Tudo por Portugal, nada contra Portugal!

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

sábado, 8 de junho de 2013

DAS ÁRVORES SIMBÓLICAS

A pedido de vários leitores escrevo esta mensagem para revelar que a árvore do cabeçalho do blogue chama-se paineira (Chorisia speciosa). Esteticamente belíssima a cor das suas flores. Especialmente simbólico o facto dos seus troncos e ramos serem cobertos de cónicos espinhos afiados que ajudam a conservar a água para posteriores períodos de seca.

DAS ÁRVORES MÁGICAS

Nesta época pré-solsticial a mais bela árvore da cidade é a monumental tipuana do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Estará já certamente em flor e quando assim é estende-nos um tapete amarelo para nos receber. Além disso acolhe-nos e abriga-nos generosamente à sua sombra. Este ano ainda não fui lá visitá-la. Já tenho saudades dela.  

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 70
Porventura por se sentir cansada lembrou-se a carteira de alguns dos sofredores silenciosos deste país.
Tira fralda, põe fralda, tira bata, põe bata, agora a higiene, mais ou menos vigorosa, mais ou menos rigorosa, vira para um lado, vira para o outro, vira para cima, almofadas ora no meio das pernas, ora atrás das costas, a seguir de lado, cateter, injecções, comprimidos, soro, algália, sonda, oxigénio, hoje é dia de TAC vamos lá ao piso, o tecto a andar, espera pelo elevador, agora é o chão que anda, espera no corredor pela vez, tecto parado, entra no buraco negro da máquina e recomeça a dança do tecto até voltar ao já tão conhecido tecto inicial.
São virados e revirados os velhinhos acamados nos hospitais. Com sorte têm direito a um sorriso, uma festa, umas palavras, a que respondem com um olhar mortiço ou com o melhor sorriso que oferece a sua boca desdentada, porque as próteses são perigosas.
Experimenta-se dar uma colher de iogurte e outra. Não colabora? Então é porque não come. Enfia-se uma sonda e pronto. Trabalho facilitado. Poupa-se tempo a dar comida e remédios. Depois ainda se diz aos médicos que já não deglute. Este vai para casa entubado. 
Não fala, não se mexe? Mas sofre. Chora e reza em silêncio. 
É a família que luta por eles, que não desiste, que refila, que dá de comer. Os abandonados, os sem família ficam para ali. À espera. São descartáveis. Não vale a pena lutar, pensam alguns. Não lhes passa pela cabeça que ali está, em cada um deles, o seu avô ou a sua avó. Luta-se sempre pelos avós.
Também Portugal é virado e revirado, metem-lhe sondas sem precisar, tiram-lhe a capacidade de deglutir, fazem-lhe toda a espécie de exames, abandonam-no, deixam-no a sofrer e a rezar em silêncio mas nem sorrisos lhe oferecem. 
E para alguns é descartável. Poderia desaparecer à vontade, enterrado com a sua História. Valha-nos a família. Os portugueses.

Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 6 de junho de 2013

DA MINHA PESSOALÍSSIMA BIENAL

Faz hoje um ano que inaugurei a exposição Foto-Síntese.
Aproveito a ocasião para revelar que voltarei a apresentar-me com um novo projecto  na magnífica Sala do Veado do Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Julho de 2014.

ÁRVORES DO ALENTEJO

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção de uma fonte!

E quando, manhã alta, o sol pospente
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
— Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

FLORBELA ESPANCA
(1894 — 1930)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

AS ÁRVORES E OS LIVROS

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Herbário, poemas de Jorge Sousa Braga, com desenhos de Cristina Valadas, edição Assírio & Alvim, colecção Assirinha / 2, Lisboa, 2007 (3.ª edição).

terça-feira, 4 de junho de 2013

DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE ÁRVORES DA CAPITAL

segunda-feira, 3 de junho de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (19)

Um antigo compromisso obrigou-me a mergulhar na historieta mal-cheirosa da abrilada cravícola, algo que prefiro manter nas valetas do esquecimento. Mas lá fui eu, a topar com MFAs, anti-fascismos, amanhãs que cantam, (des)constituição a caminho do socialismo, sanguinolentas entregas africanas e, naturalmente, com a canalha de costume: criminosos, patifes sem-vergonha e idiotas de variada extracção. Foi então que lembrei do Rivarol e do seu magnífico Petit Dictionnaire des grands hommes de la Révolution. Em muitos casos basta substituir os nomes correspondentes às entradas e o resto encaixa como luva em muitos dos "nossos" abrileiros.

Por exemplo:

La Poule:
Poucos grandes homens ascenderam com tanta naturalidade [...]. A que se deve a sua ascenção? À sua baixeza.

Mirabeau (Conde de):
Este grande homem compreendeu muito cedo que a menor virtude poderia detê-lo no caminho da glória, e, até ao dia de hoje não permitiu-se nenhuma.

[...] é capaz de tudo por dinheiro, até de uma boa acção.

[...] é o homem que mais se assemelha à sua reputação: é horrível.

Agora digam lá: não é que o descolonizador exemplar, multi-doutor honorário, globetrotter e milionário pode enfiar os barretes do La Poule e do Mirabeau?

Liancourt (Duque de):
[soube acomodar-se com todos]
Um êxito tão universal é sumamente raro, e que exige um homem de uma mediocridade insuperável.

Dubois:
Soldado raso na Guarda Francesa, mas desertor imortal.

Deixo os dois barretes acima ao critério dos amáveis leitores (a escolha é fartíssima...)

Mas o languedoquiano contra-revolucionário ainda dedica uns mimos ao palratório democrático...

Assembleia Nacional:
Neste augusto areópago é onde temos visto brotar génios que, sem a Assembleia, seriam ainda dejectos da sociedade [...].

Imagina-se hoje que um homem é um parvo, porque carece de elegância, fala mal de qualquer tema, suas próprias ideias o confundem, e a razão aniquila-se na sua boca. A experiência destrói todos os dias esse horrendo preconceito. Se esse mesmo
homem está realmente marcado com a chancela da mediocridade, logra pelo menos uma espécie de fama [...], eis aqui o que caracteriza todos os grandes homens da revolução.

Fica, pois, a sugestão para uma versão luso-abrilina do Dictionnaire. Como se pode ajuizar, não será trabalho de monta - apenas uma adaptação.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

domingo, 2 de junho de 2013

DAS ÁRVORES E DAS PÁTRIAS

As Árvores e as Pátrias querem-se antigas e grandes.

sábado, 1 de junho de 2013

EM HARMONIA COM A NATUREZA

No mês das tílias em flor bebo chá de tília para dormir melhor.