sexta-feira, 26 de abril de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 64
Mas eu não quero falar sobre o 25 de Abril! A carteira, que é muitíssimo mais nova, queria saber à força a razão do feriado. Usei todos os meus argumentos. Agora não, quero guardar para as minhas memórias! Em vão… Bateu o pé e cedi. Não serão então memórias, apenas algumas reflexões, embora de certo modo intimistas. Conheço a posição do dono deste blogue, que respeito, e sei que respeita a minha, por isso corro o risco, empurrada pela carteira.
À minha volta sempre estiveram todos os lados da barricada. Ainda não consigo que tenham, uns e outros, leituras desapaixonadas. Nem eu. Dividida em pedaços. Cada um dos pedaços que afecta cada um dos que conheço. De diferentes maneiras. 
Geralmente a lembrança do dia despoleta ou exaltação ou ódio. Para alguns, fingida aceitação. Para outros ainda, completa indiferença. E é o fado deste dia, que em vez de unir, como o 1º de Dezembro, divide.
Em primeiro lugar, separo o dia do que se lhe seguiu. O dia, para muitos, quase todos, diria, constituiu esperança. Para outros, desgraça. 
Os meus não eram pró Segunda República, como também não tinham sido pró Primeira. Não apoiaram um sistema autoritário, cesarista, que se eternizou e afogou todos os espíritos que lhe faziam frente, fossem eles quais fossem. Assim, continuaram a estar do lado considerado na altura errado. E quando o dia aconteceu, festejámos. Lembro-me da alegria e da esperança.
Também outros viram no dia uma oportunidade de concretizar o seu próprio sonho. 
O que se lhe seguiu, o que os meus voltaram a padecer (parece sina essa do estar do contra!) não quero associar ao dia. 
Visto por quem está completamente ao lado, agora, passados 39 anos, há curiosamente algumas posições comuns à direita e à esquerda, pois poucos de um lado ou de outro dirão que estão satisfeitos com a situação que agora se vive. Mas uns acham que Abril não se cumpriu, outros que Abril daria nisto mesmo.
Tal como para mim, o sistema anterior estava condenado, o que se tem passado desde há 39 anos demonstra à saciedade a falência deste sistema, que nos fez perder quase tudo, incluindo a soberania.
Continuo a ter esperança. Numa mudança verdadeira. Num sistema e num regime diferentes. À nossa medida. Português, acima de tudo. 
Aposto que o dono do blogue não queria isto. Eu também não. A culpa foi da carteira.
Leonor Martins de Carvalho