CARTEIRA DE SENHORA
DIA 62
A carteira hoje
verga-se a uma introdução determinada pela proprietária (dela, que não da
crónica).
A notícia da
atribuição do Prémio Sir Geoffrey Jellicoe ao Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles
tem que ser realçada, pela sua inteira justiça e pelo reconhecimento da
dedicação da sua vida à arquitectura paisagista, não esquecendo a protecção da
natureza e o ordenamento do território.
Mesmo que alguns assim
pensem ou possam fazer crer, não são áreas estanques, estão intimamente ligadas
e são interdependentes. No Arquitecto Ribeiro Telles, que os malfadados jornais
acordistas teimam em transformar em arquiteto,
seja lá o que isso for mas coisa boa não é com certeza, a visão sempre foi e
será a da interdependência neste grande ecossistema em que vivemos.
Já assisti a sorrisos
condescendentes, acenando que sim, que é muito importante, que respeitam muito
o Arquitecto Ribeiro Telles, apenas para virar depois o olhar cúpido para o que verdadeiramente
lhes interessa, refilando pelo que lhes parecem ser escolhos nos caminhos do
lucro fácil.
A importância das hortas
urbanas, a reabilitação do mundo rural e de um determinado tipo de agricultura como
combate à desertificação, a protecção das aldeias, a denúncia das construções
em leito das cheias, a defesa das mini-hídricas, a preservação do património
urbano e paisagístico, a contestação da eucaliptização e da agricultura
extensiva que faz perder a ligação à terra e provoca desequilíbrios, a criação
das áreas protegidas, um olhar diferente para o ordenamento do território,
foram alguns dos temas que sempre defendeu a par do exercício de uma
arquitectura paisagista imbuída do mesmo espírito.
No fundo trata-se também
da preservação da sabedoria de todo um povo que durante séculos aprendeu a
conhecer o território que tinha em mãos e a aproveitar ao máximo aquilo que a
terra e a paisagem lhe podem dar.
O arquitecto Gonçalo
Ribeiro Telles teve sempre razão mais de trinta anos antes. O grave é que as
pessoas sabiam e ignoraram, sabem e ignoram. Tantas catástrofes se teriam
evitado e poderiam evitar se o ouvissem. Não. Não basta ouvir. É mesmo seguir-lhe
os passos.
Como fica claro, não
entendo nada dos assuntos que domina, mas conheci-o durante a adolescência e
respeito-o desde esses tempos. O pouco que penso saber aprendi com ele e não é
difícil, porque instintivamente sabemos que tem razão. São ensinamentos sobre
aquilo que nos está no sangue, mesmo que a visão dita moderna e progressista
queira tentar negar. Afinal não há nada de mais actual do que aquilo que é
verdadeiro.
Amor à terra e amor a
Portugal resume como tem vivido a sua vida. Amor ao Rei é o corolário lógico do
seu pensamento.
Era para ser uma
introdução. Cresceu, ganhou asas e metamorfoseou-se em crónica. Nada a fazer.
Rendo-me de sorriso aberto. Por quem é.
Leonor Martins de Carvalho
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