domingo, 31 de março de 2013

RESSURREIÇÃO

A Ressurreição de Cristo, 1463
PIERO DELLA FRANCESCA (c. 1420 — 1492)
Mural em Fresco e Têmpera, 225 x 200 cm
Museo Civico, Sansepolcro, Toscana, Itália.

sexta-feira, 29 de março de 2013

A SANTÍSSIMA TRINDADE

A Trindade, c. 1577-1579
EL GRECO (1541 — 1614)
Óleo sobre Tela, 300 x 178 cm
Museo Nacional del Prado, Madrid.

A CRUCIFICAÇÃO

A Crucificação com Dois Patronos, c. 1580
EL GRECO (1541 — 1614)
Óleo sobre Tela, 260 x 178 cm
Musée du Louvre, Paris.

O DESPOJAMENTO DE CRISTO

O Despojamento de Cristo, c. 1577-1579
EL GRECO (1541 — 1614)
Óleo sobre Tela, 285 x 173 cm
Sacristia da Catedral de Toledo.

CRISTO CARREGANDO A CRUZ

Cristo Carregando a Cruz, c. 1600-1605
EL GRECO (1541 — 1614)
Óleo sobre Tela, 108 x 78 cm
Museo Nacional del Prado, Madrid.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A ÚLTIMA CEIA

A Última Ceia, c. 1495-1498
LEONARDO DA VINCI (1452 — 1519)
Óleo e Têmpera sobre Gesso, 460 x 880 cm
Santa Maria delle Grazie (Refeitório), Milão, Itália.

MANUAL DE INSTRUÇÕES

Aos que só agora aqui chegaram, faço notar que há um arquivo, disponível na coluna lateral, que podem usar para se porem a par das minhas divagações em linha. Não é que exista um fio-condutor nesta minha aventura pública, mas ajuda sempre começar do princípio o que quer que seja. Devo explicar também que só faço esta chamada de atenção — desnecessária para frequentadores habituais da blogosfera — porque percebi que muitos visitantes desta casa não têm o hábito de ler blogues.

TRIUNFO DOS ARRIVISTAS E SEUS TROFÉUS

O novo-riquismo é uma ideologia que se caracteriza pelo ódio a tudo quanto seja antigo. Árvores e casas são os alvos preferidos dos seus seguidores. «Abate» e «demolição» são as suas palavras-de-ordem. Instalados que estão no Poder há décadas em Portugal, basta darmos uma pequena volta pelo nosso País para podermos ver o resultado dos seus ataques terroristas: palitos ridículos e caixotes desumanizadas substituíram árvores centenárias e casas históricas.

PROJECTO SOCIAL

Um dia hei-de sentar à mesma mesa, em enorme távola redonda, todos os meus amigos. Tenho-os de direita e de esquerda, bonitos e feios, ricos e pobres, eruditos e simples, conversadores e calados, antigos e novos, velhos e jovens; mas, todos — todos mesmo — aristocratas do espírito.

A LIÇÃO DA TERRA E DOS MORTOS

Metido que ando em trabalhos de investigação genealógica sobre os meus antepassados, chego a uma conclusão — na linha do pensamento de Maurice Barrès —, toda ela límpida e clara: é com a terra e com os mortos que mais temos a aprender nesta vida terrena.

terça-feira, 26 de março de 2013

QUE FAZER?

Talvez ler.

segunda-feira, 25 de março de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (9)

Reportando-me ao último Caderno – número 8 –, reproduzo aqui o prefácio escrito pelo deputado inglês Iain Sproat para “The Portuguese Answer”, obra do General Kaúlza de Arriaga.  

“A minha primeira e detalhada introdução aos problemas políticos e militares de Moçambique foi, talvez, um tanto insólita, para quem está a escrever o prefácio deste livro. Ela tinha-me sido feita pelos guerrilheiros da FRELIMO em seu quartel-general de Dar-es-Salaam. Nesta altura discuti com simpatia os seus objectivos e realizações; visitei o Instituto Moçambique, o qual atendia o lado civil das operações da FRELIMO; e li os escritos dos seus lideres, especialmente os do seu primeiro presidente, Eduardo Mondlane, por quem nutria uma considerável admiração.  Os guerrilheiros tinham conquistado a minha simpatia simplesmente porque pareciam ser os under-dogs.

Lembro-me muito bem das três denúncias que me foram feitas no quartel-general da FRELIMO.  A primeira era que controlava 20 por cento do território.  A segunda, que os aldeamentos, ou aldeias protegidas, em Moçambique, não eram muito diferentes dos campos de concentração nazis. E a terceira, que os portugueses brancos praticavam uma forma de discriminação racial ligeiramente diferente do Apartheid sul-africano, mas sem diferença quanto aos resultados produzidos nos africanos.

Já tinha visitado Moçambique em princípios de 1970, mas não tinha tido a oportunidade de verificar estas denúncias. Decidi que devia fazê-lo e pedi autorização para visitar as áreas de guerra na província. Recebi-a sem dificuldade, sendo informado de que poderia falar com qualquer pessoa que desejasse e visitar qualquer parte do território. Mais tarde requeri e obtive permissão para visitar Angola e a Guiné, podendo também deslocar-me a qualquer parte do território e falar com quem bem entendesse. Em momento algum e em nenhum território português foi-me imposta qualquer restrição.

Entretanto voltemos a Moçambique:  eu estava decidido a verificar, com a maior objectividade possível, as três denúncias que mencionei acima. Certamente que havia outras, mas estas pareceram-me ser matéria susceptível de prova definitiva, de um ou de outro modo.  E o que pude verificar foi que cada uma destas denúncias era totalmente falsa. Não que fossem exageros, ou que fossem 20 ou 50 por cento inexactas. Não tinham absolutamente nenhuma relação com a realidade. E esta afirmação não é um juízo ideológico nem é baseada em rumores: é uma constatação resultante de pura observação pessoal.

Pode-se pensar ter eu sido deliberadamente iludido pelas autoridades portuguesas e ter visto somente aquilo que os portugueses quisessem que eu visse – como, por exemplo, se observadores ingénuos estivessem na União Soviética na época de Estaline. Cheguei mesmo a pensar nisto enquanto viajava, mas estou convencido de que tal não foi o meu caso. Viajei muitos milhares de milhas através dos territórios portugueses, conversei com imenso número de pessoas, brancos e negros, das mais diversas origens e níveis distintos, gente por mim escolhida, nos momentos da minha preferência, em escolas e hospitais, em aldeamentos e na solidão das matas, durante operações militares, em igrejas, em cerimónias africanas, em modernos hotéis e em cabanas de barro.

Tudo isto não significa que gostei de tudo o que vi, nem significa que concordo com cada aspecto da actual politica portuguesa: não concordo. Também não significa que aprovo tudo o que os portugueses executaram no passado: decididamente não aprovo. Significa que, se a presente situação no sul da África está muito longe daquela que gostaria que fosse, e admitindo que é necessário lidar com uma situação tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse, acredito que as politicas sociais actualmente implementadas pelos portugueses em seus territórios africanos são aquelas com as maiores probabilidades de proporcionar uma vida melhor aos seus habitantes, obtendo melhores resultados do que qualquer alternativa prática.

Os portugueses vêm combatendo em Angola desde 1961, na Guiné desde 1963 e em Moçambique desde 1964. Em minha opinião, o tremendo esforço que as autoridades portuguesas têm dispendido para melhorar as condições de vida dos africanos é o resultado directo da luta travada em cada um dos territórios. No entanto, qualquer que seja a causa deste esforço, o facto inegável é que, provavelmente agora, faz-se mais para melhorar as condições de vida dos africanos nos territórios portugueses do que em qualquer outra parte de África, negra ou branca. Na Guiné, por exemplo, cerca de 75% do tempo de um soldado são gastos em actividades civis – construção de estradas, casas, centros comunitários; no atendimento médico, no ensino de técnicas agrícolas mais modernas.

Os portugueses têm todo o direito de estarem orgulhosos pelo facto de terem contido militarmente as ameaças da guerrilha numa época onde outros – por exemplo, os americanos no Vietname – viram-se em grandes dificuldades. Ainda mais, os portugueses têm agora o direito de se orgulharem – independente do que tenha ocorrido no passado – por fazerem tanto para aliviar a miséria, difundir a formação escolar e, em geral, introduzir os benefícios do progresso social.

Mencionei acima que uma das denúncias que me tinham sido feitas pela FRELIMO era a de que os portugueses praticavam um tipo de discriminação racial que diferia apenas marginalmente do Apartheid. Isto é totalmente falso. Não existe e nunca existiu qualquer discriminação em termos de cor em nenhum território português.  Os portugueses são daltónicos por tradição. Nas forças armadas, por exemplo, há oficiais negros a comandarem soldados brancos, há oficiais milicianos negros, os soldados negros e brancos recebem exactamente o mesmo soldo e vivem exactamente nas mesmas condições.

Não se pode enfatizar com maior veemência a diferença entre a situação verificada nos territórios portugueses e aquela existente na África do Sul, ou na Rodésia, ou, de maneira inversa, em alguns países africanos negros.

O multirracialismo – como politica oficial e como vivência prática – nos territórios portugueses de África tem uma importância fundamental para a presente situação militar e, mais importante, para o desenvolvimento politico, tanto destes territórios, como daqueles adjacentes.

Em termos militares, o carácter multirracial das forças armadas faz com que seja extremamente difícil para os guerrilheiros descreverem o conflito como uma luta racial, de guerrilheiros negros contra portugueses brancos.

Em Moçambique metade das tropas regulares é composta por elementos de raça negra. De facto, se incluirmos – como deve de ser – a milícia e as populações organizadas em autodefesa (as quais, frequentemente, não contam com nenhum soldado branco na vizinhança), o número total de negros africanos armados que se opõem à FRELIMO em Moçambique, e ao MPLA em Angola, excede consideravelmente o número de brancos em armas. Tal situação seria totalmente impossível de ser mantida pelas autoridades portuguesas se estas não contassem com o apoio autêntico da vasta maioria da população. 

Em termos políticos, e num prazo mais longo, espero que a vivência multirracial existente nos territórios portugueses sirva de exemplo de tolerância para todos os países vizinhos, sejam estes comandados por negros ou brancos.

Estou convencido de que somente um multirracialismo autêntico pode dar alguma esperança à África e, de facto, ao resto do mundo.

O multirracialismo e a moderação existentes em Angola e Moçambique – proporcionando a igualdade de oportunidades de trabalho para brancos e negros – podem vir a ter um papel vital na redução da polarização racial no sul de África.

Portugal tem em suas mãos a possibilidade de oferecer um grande contributo à toda a humanidade – o contributo de demonstrar como homens e mulheres de raças diferentes podem viver juntos em paz.

Creio ser esta também a visão do General Kaúlza de Arriaga, que já demonstrou ser um militar brilhante e de pleno êxito, um homem de Estado que raciocina em termos globais, e um ser humano dotado de compaixão. Recomendo este livro ao mais largo público.

Iain Sproat

Câmara dos Comuns, 1972.”

Aí está, para reavivar um poucochinho a memória dos esquecidos e fortalecer o gentio em tempos de anemia espiritual.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

sábado, 23 de março de 2013

CIDADE BRANCA

Em 1 de Abril de 1930, estreia simultaneamente no São Luiz e no Tivoli (parece mentira, mas é verdade; bons tempos!), Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros. Este cineasta tem como marca principal um apurado sentido estético, partilhado com a extraordinária geração de que faz parte — Chianca de Garcia, Jorge Brum do Canto, António Lopes Ribeiro, Cottinelli Telmo, e outros de igual qualidade.
José Júlio Marques Leitão de Barros nasceu no Porto, filho de um Capitão-de-Mar-e-Guerra, mas foi registado em Lisboa, onde veio a morrer em 1967. Depois de tirar o Curso da Escola de Belas-Artes, foi Professor dos Liceus — o seu manual Elementos de História da Arte é ainda hoje uma referência —, e destacou-se como pintor, estando representado em vários Museus portugueses e estrangeiros. Por outro lado, como dramaturgo, escreveu várias peças que foram representadas no Teatro Nacional e noutras salas. Foi também jornalista em O Século, A Capital e ABC, e fundou e dirigiu Domingo Ilustrado, Notícias Ilustrado e Século Ilustrado; ficaram ainda célebres as suas crónicas semanais no Diário de Notícias, sob o título «Os Corvos» (publicadas em dois volumes, com ilustrações de João Abel Manta). Organizou os cortejos históricos das Festas da Cidade de Lisboa (1934-1935) e foi Secretário-Geral da Exposição do Mundo Português (1940). Tudo isto, e muitas outras actividades de idêntica relevância.
Recuando agora ao seu debute cinematográfico, há que referir 1918 como o ano dos seus primeiros (quatro!) filmes, de que se destaca o infelizmente desaparecido Sidónio Pais — Proclamação do Presidente da República. No entanto, é preciso esperar por 1930, para assistirmos ao seu arranque em duas frentes, ainda no Cinema Mudo, com duas obras de enorme beleza plástica: a já referida Lisboa e Maria do Mar — filme este que marca presença, com exibições habituais, nas principais cinematecas europeias e que a nossa Cinemateca Portuguesa em boa hora restaurou e exibiu, em 2005, numa sessão onde se perfilaram dez pessoas (sim, eu estava lá com um par de alunos e vi com os meus próprios olhos!). Esta película tinha sido antecedida por Nazaré, Praia de Pescadores (1929), que cativou, de imediato, público e crítica — uma característica deste cineasta ao longo da sua extensa carreira, que coincidiu com uma época de profunda identificação dos portugueses com o seu Cinema.
O viveiro de todo este Novo Cinema, em pleno Estado Novo, seria a Brasileira do Chiado, os escritórios do São Luiz e do Trindade, e os estúdios da Tobis no Lumiar, de cuja fundação Leitão de Barros viria a ser um dos principais impulsionadores.
No início de 1929, Leitão de Barros e António Lopes Ribeiro partem em viagem, à descoberta dos principais estúdios de Cinema da Europa, onde conhecem e convivem com os maiores cineastas desse tempo — da Alemanha à Rússia…! Regressados à Pátria, Leitão de Barros lança-se na rodagem de Lisboa, Crónica Anedótica, a fita que hoje aqui trazemos, e que é um marco mundial na tendência europeia dos documentários poéticos, de matriz futurista, sobre a vida das grandes cidades, que tinha até aí em Berlim, Sinfonia de uma Capital (1926), de Walter Ruttmann, o seu mais alto expoente.
Lembremos aqui que Leitão de Barros, que trabalhava como professor de Desenho e Matemática (mais uma das suas aparentes contradições, mas expressão máxima da sua versatilidade criativa), era um nacionalista puro, sempre em busca da exaltação estética dos valores tradicionais de Portugal; conseguia extrair beleza da nossa Terra e do nosso Povo, numa linguagem moderna e apelativa. O seu apurado sentido de humor fazia-o evitar o ridículo e o mau-gosto (tão comuns na nossa burgessa e deslumbrada burguesia de hoje).
Homem de várias Vidas — pintor, professor, cineasta, jornalista, criador de grandes espectáculos —, foi no Cinema, porém, que encontrou o meio para explanar totalmente a sua Arte: estão aí A Severa (1930) — primeiro filme sonoro português —, As Pupilas do Senhor Reitor (1935), Bocage (1936), Ala-Arriba! (1942) — premiado no Festival de Veneza —, Inez de Castro (1944), Camões (1946), Vendaval Maravilhoso (1949), para o demonstrar, além de vários documentários, que são peças fundamentais para estudar a época histórica do Estado Novo.
Vamos então a Lisboa, Crónica Anedótica, que se faz tarde. Este filme é o mais autêntico documentário feito até hoje sobre a Capital; mas é também, ainda, muito mais do que isso: é uma fita onde aparecem os maiores actores da época — e de sempre?… — do Teatro e do Cinema de Portugal (Nascimento Fernandes, Beatriz Costa, Vasco Santana, Erico Braga, Chaby Pinheiro, Estevão Amarante, Josefina Silva, Eugénio Salvador, Adelina Abranches, Costinha, Alves da Cunha, e muitos outros… — caramba!). Todos eles interpretam personagens típicas de Lisboa, misturadas com as figurais reais do quotidiano da cidade.
Esta convincente articulação de realidade e ficção, de linguagem documental e fantasia, fazem desta obra um caso sério de inovação, qual precursora de fenómenos cinematográficos do pós-II Guerra Mundial, como o neo-realismo italiano. No caso da nossa Lisboa, o verismo antropológico conjuga-se com um requinte formal de artista sofisticado — Leitão de Barros era um esteta — e surge livre de visões marxistas, habitualmente transformadoras dos tipos sociais em estereótipos.
O filme avança em animado ritmo, com uma montagem que assegura a colagem dinâmica dos fragmentos — pitorescos, mas ao mesmo tempo poéticos — e cria um sentido para as imagens (magníficas, do grande operador Artur Costa de Macedo), ao som da Música de Frederico de Freitas, Juan Fabre e António Melo — interpretada ao vivo, pelas melhores orquestras, durante as projecções (Cinema Mudo oblige).
O que seria apenas um documentário, eleva-se, assim, à categoria de grande peça «cinegráfica» (na feliz expressão do meu Saudoso Mestre Luís de Pina, na sua História do Cinema Português).
Ao vermos este filme, sentimos a nostalgia de uma cidade branca, monumental, simples, luminosa, alegre, dinâmica, viva, habitada — com seus tipos genuínos —, com Alma! E, apetece-nos perguntar: — Por que será que agora Lisboa aparece sempre cinzenta e triste no Cinema Português a que temos direito e que pagamos com os nossos impostos?…
Lisboa, Crónica Anedótica apresenta-se, assim, como mais uma prova de que é possível alinhar Portugal com o «ar dos tempos» — a par de Ruttmann e Vertov, neste caso — sem abdicar da Identidade Nacional.
Veja-se e faça-se, em 2013, de novo!

Nota: Artigo escrito para a revista Alameda Digital. Republicado em novas versões nos blogues Eternas Saudades do Futuro e Jovens do Restelo e no jornal O Diabo.

NUMA LISBOA ASSASSINADA

Porquê o sono
que nunca durmo
De que me escondo
Com quem me cruzo
Sob que escombros
de que futuro
me reencontro
ou me sepulto
Que mar ao longe
Que ruas sulco
Por onde rondo
Que céu Que burgo
este que em sonhos
em vão procuro

DAVID MOURÃO-FERREIRA
(1927 — 1996)

sexta-feira, 22 de março de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 60
Para quem esperava uma continuação da saga Facebook, desiluda-se. Outro tema se intrometeu sorrateiramente à frente, desrespeitando, à portuguesa, qualquer fila organizada, qualquer alinhamento antecipado. É que ficou alegre a carteira. Diz que vai ficar rica. Antevê que a partir de agora todas as senhoras vão usar mais as carteiras para guardar dinheiro. 
Vem isto a propósito do que está a suceder ao Estado-membro na extrema oposta à de Portugal e Irlanda na dita União Europeia.
Só para os que até agora ainda não tinham percebido, penso que caiu a máscara da Europa. E a cara por detrás da máscara permite finalmente ver o que lhe vai na alma. Não é bonito de se ver.
Simplificando, o esquema foi sempre o mesmo, especialmente com os países menos desenvolvidos. Primeiro, acena-se com fundos. Muitos. À mistura invoca-se uma espécie de ideal europeu que serve de cortina de fumo e de desculpa.
Alguns, políticos, empresários e gente anexa, de “olho torvo posto no lucro” (Eça citado por meu avô, como já aqui disse), fazem enorme propaganda usando influências sub-reptícias nos meios de comunicação social, invocando irmandades inexistentes e ideais martelados, tornando a pressão irresistível e a decisão como facto lógico e consumado. 
No passo seguinte, após a entrada na coisa, esses mesmos, sus muchachos e toda uma raça criada geneticamente em laboratório, os eurocratas, lucram ao máximo com a chuva de fundos, sobranceiramente indiferentes ao futuro do país. Os bolsos adquirem uma importância desmesurada. É que património e soberania não têm lugar nessa Bolsa de Valores.
Por fim, e após os negócios cozinhados entre a classe política e a empresarial, para os quais mais ninguém foi tido nem achado senão a oligarquia partidária (é isto que nos traz o sistema), o que sobra nem sei se pode ser considerado país. Quase sem estrutura produtiva, dívidas gigantescas, vendas ao desbarato e ao estrangeiro…
Imaginem que há até um país que em vez de contrariar o seu desaparecimento parece querer contribuir para que ele ocorra mais depressa liquidando de vez o património linguístico. 
Ninguém me convence que o plano não era esse mesmo desde o início. Subjugação absoluta, países de joelhos pela dependência financeira, permitindo a machadada final nos restos de soberania. A aniquilação de um país, do seu povo, cultura, património e História. A intenção é daqui a umas gerações já não haver sequer memória de que tenham existido, para que dêem lugar a uma qualquer entidade amorfa de gente amorfa, sem dignidade. Ainda reinventam a História.
Avisem a Croácia. Não tem de cair no poço do extermínio.
E nós? Não basta mudar os naipes neste jogo sujo, a nós cabe-nos mudar de jogo. 
Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 21 de março de 2013

DO FACEBOOK (4)

Cá para mim, a experiência mais forte que o Facebook propicia é darmos de caras (literalmente e através dos avisos de «aniversários», como eles lá chamam aos dias de anos, por exemplo) com amigos que, entretanto, partiram deste mundo. Na primeira vez que me aconteceu, estranhei e impressionei-me bastante. Entretanto, habituei-me e parece-me até uma óptima maneira de os recordarmos e de eles permanecerem para sempre junto de nós.

quarta-feira, 20 de março de 2013

DA NATUREZA E DA NATUREZA HUMANA

Já sinto outra vez o Equinócio da Primavera no corpo e na alma.

SINAIS DA PRIMAVERA

Ontem vi as Olaias em flor e lembrei-me que hoje começa a Primavera.

terça-feira, 19 de março de 2013

DIA DE S. JOSÉ

Dia do Pai.

segunda-feira, 18 de março de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (8)


Em 1973 foi publicado em Londres um livro intitulado “The Portuguese Answer”, de autoria do General Kaúlza de Arriaga.  O objectivo do texto foi contrapor a verdade dos factos acerca do esforço de autodefesa levado a cabo na Província Portuguesa de Moçambique à enxurrada de mentiras produzidas pelos especialistas planetários da desinformação.  Nesta tarefa de esclarecimento da opinião pública anglófona contou o ilustre militar com a colaboração de Iain Sproat, então membro da Câmara dos Comuns, quem prefaciou a obra, na sequência de uma demorada excursão pelo nosso Ultramar, especialmente por Moçambique. Antes de 1970 Sproat admirava Eduardo Mondlane, simpatizava com a FRELIMO e chegou a visitar os guerrilheiros em Daar-es-Salaam. Pediu permissão para visitar Moçambique e esta lhe foi prontamente concedida e sem condições. Percorreu milhares de quilómetros, foi aonde desejou e falou à vontade com quem quis.  Regressou convencido da justiça da solução portuguesa  e amigo de Portugal.  E assim permaneceu, pelo menos, até 1974...

Nos anos 90, estando eu a viver em Londres, saí atrás do livro. Contactei alfarrabistas, visitei bibliotecas, contratei um serviço internacional de busca, tentei encontrar o editor, procurei a gráfica onde havia sido impresso... baldado esforço. Misteriosamente desaparecido dos escaparates das livrarias londrinas a seguir ao 25A – consta que as autoridades abrileiras, empenhadíssimas na restauração da liberdade e da democracia, ordenaram a aquisição e destruição de todos os exemplares disponíveis – “The Portuguese Answer” desmonta o embuste propagandístico preparado pelos imperialismos que nos queriam expulsar de África, e descreve, com luxo de detalhe, o épico esforço de defesa de Moçambique e das suas gentes, contrastando a dignidade da vida diária no território com o pavoroso espectáculo de violência, destruição, fome e miséria pós-74 – obra pela qual a cáfila abrilina, em sintonia com a pérfida ONU, pode limpar as patas à parede.

Consegui, sabe-se lá como, por intermédio de um contacto na redacção do Hansard (a publicação oficial dos trabalhos e debates na Câmara) o telefone de uma assistente de Iain Sproat, então deputado por Harwich e Ministro do Desporto de John Major. Escusado será dizer que nunca consegui ter Mr. Sproat na outra ponta da linha telefónica. Após grande insistência e largas explicações obtive da secretária a promessa de que durante o weekend, o Ministro, que “vagamente recordava a obra”, procuraria “algures na biblioteca da casa de campo”, o único exemplar que “julgava” ali estar.  Quando telefonei a rapariga já tinha a resposta na ponta da língua:  “O Ministro não encontrou o livro, lamenta não poder ajudá-lo e deseja-lhe boa sorte na sua procura – Adeus.” Politicamente correcto oblige... Já ia a desistir quando resolvi, numa última tentativa, dar um salto à British Library. Pois ali, escondido entre uns bons treze ou quatorze milhões de livros, esquecido pelos revolucionários e seus amigotes locais, encontrava-se o pequeno volume, novinho, como que acabado de sair do prelo.

Em Lisboa conversei com o General, que encarou com simpatia a minha ideia de uma edição portuguesa, com uma nova e bem nutrida introdução. Com grande satisfação recebi do Massu português, a incumbência de verter em português o inglês original.  Infelizmente o destino não permitiu que a “nossa” empresa fosse adiante.

Quem sabe se um dia destes, antes do dobre de finados nacional, não vemos para aí, em português como Deus manda, “A Resposta Portuguesa”?  Para já prometo-vos, num próximo “Caderno”, o prefácio da pena do antigo Member of Parliament.

Restaurar a verdade histórica é o mínimo que podemos fazer.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

domingo, 17 de março de 2013

AUSTERIDADE VERSUS AUTORIDADE

Não precisamos de austeridade, precisamos de ordem e de autoridade.

sábado, 16 de março de 2013

DO FACEBOOK (3)

O Facebook é um lugar de solidão. Símbolo perfeito da fragmentada sociedade de hoje. Triste sinal do fim de uma civilização.

DISCERNIMENTO

Antiga receita inaciana para lidar com os tempos modernos. É remédio santo.

sexta-feira, 15 de março de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 59

Não estou minimamente habilitada, como já referi em crónica anterior, mas atrevo-me a um pequeno parágrafo sobre o novo Papa para lhe dar as boas-vindas. Ser sul-americano, jesuíta e escolher como nome Francisco, parecem bons auspícios. Que consiga levar a cabo a sua missão com a humildade que demonstrou é o que todos desejamos.

O assunto desta semana está nos antípodas do parágrafo anterior, mas a teimosia é característica da carteira. Andava a tentar fugir-lhe mas parece inevitável. Sendo bastante discreta, ao contrário da sua proprietária, a carteira não se inscreveu em nenhuma rede social. Contudo, tem-se mostrado curiosa e está interessada em saber pormenores. Satisfaço-lhe a curiosidade.

O comportamento das pessoas dentro e fora dessas redes, a sua importância comercial, política e até social, os grupos de infindáveis objectivos, tornam o abordar deste tema uma tarefa tão complexa que nem sei por onde começar. Pode dar pano para as mangas de uma série de crónicas, nunca seguidas porque já é tema gasto e cansa. Por ora ficam apenas uns rabiscos.

O Facebook é, naturalmente, uma réplica da sociedade real mas com alguns cambiantes porque afinal é num mundo virtual. Calculo que já se escrevam teses de mestrado quiçá de doutoramento sobre o assunto. Na Faculdade tive uma cadeira de Psicologia Social e outra de Sociologia mas na altura nem computadores havia e de qualquer forma já não me lembro do conteúdo. Na senda do que tenho vindo a fazer, limito-me a mostrar um olhar atrevido. O meu.

A sociedade virtual, principalmente o Facebook, como qualquer outra situação de relacionamento humano, tem altos e baixos, vícios e virtudes. Não há dúvida que o entrar numa rede social cibernauta significa expor-se na praça pública, mas enquanto uns espalham uns tantos familiares na dita praça, outros metem lá meio mundo e o outro meio. É verdade que a exposição depende do que se diz e para quem se diz. Recados amargos para o namorado que podem ser lidos pelo primeiro-ministro não sei se será muito adequado mas garanto que não é nada inédito.

Em geral as pessoas agem e interagem no Facebook de acordo com a personalidade que lhes conhecemos, mas as surpresas abundam.

Há tímidos que desabrocham. Surpreendem-nos algumas pessoas quando escrevem. Nem dávamos por elas na vida real. A distância do olhar e da escrita dá asas e atrevimento.

Os expansivos, esses, não mudam. Ocupam naturalmente o lugar que já é seu na outra vida e, autênticos ímanes, atraem legiões de fãs. Aliás é junto deles que às vezes descobrimos os até aí tímidos. Os expansivos têm o dom de lhes abrir caminhos.

Há também violentos que se pacificam. É que o acto de escrever ajuda a relativizar. Funciona como a técnica do contar até dez que toda a gente conhece mas ninguém pratica antes de abrir a boca. Tirando os que desatam logo aos palavrões (quem sabe se não serão uns pacíficos, afinal?) acabam por acalmar enquanto escrevem.

Claro que algumas pessoas, por manifesta incapacidade ou por opção, praticamente não escrevem. Resguardam-se. Limitam-se a partilhar fotografias e textos de outros. Mas se não são casos patológicos acabam por revelar parte do seu ser.

Há depois os discretos, tão discretos, tão mudos, que às vezes só sabemos que lêem o que se escreve quando os encontramos na rua. Aí confessam. No Facebook não.

Também pululam perfis falsos, servindo vários propósitos, de criminosos a polícias até pessoas bloqueadas por outras que assim renascem das cinzas.

Há ainda e sempre os que não estão interessados. Ou por alergia a qualquer espécie de tecnologia, ou por fobia à exposição, ou por princípio. Começo a achar que têm razão. Não deixa de ser fascinante esse universo, mas o tempo é precioso.

Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 14 de março de 2013

13.03.2013 — TEMOS PAPA!

Papa Francisco
Eleito Pontífice Romano,
Bispo de Roma,
Vigário de Jesus Cristo,
Sucessor do Príncipe dos Apóstolos,
Supremo Pontífice da Igreja Universal,
Primaz da Itália,
Arcebispo Metropolitano da Província de Roma,
Soberano do Estado da Cidade do Vaticano,
Servo dos Servos de Deus.

terça-feira, 12 de março de 2013

DO CATOLICISMO (7)

DO CATOLICISMO (6)

Logos, por Amor, Verdade e Vida.

DO CATOLICISMO (5)

Ver para além do olhar, de João Delicado sj.

DO CATOLICISMO (4)

Povo, de Pedro Aguiar Pinto.

DO CATOLICISMO (3)

Por Causa Dele, de António Maria Pinheiro Torres.

DO CATOLICISMO (2)

Actualidade Religiosa, de Filipe d'Avillez.

DO CATOLICISMO (1)

Semper Idem, de Afonso Miguel.

DA ECONOMIA

Economicamente e não só... —, pior do que isto só mesmo o PREC.

DA BLOGOSFERA

Vindo dos meus antípodas ideológicos e estando ainda hoje nos meus antípodas espirituais, reconheço no entanto em José Pacheco Pereira qualidades de sério estudioso das coisas da cultura e da política que fazem dele muito provavelmente o mais erudito e inteligente intelectual do actual sistema. Aliás, além dele, com as qualidades atrás referidas, haverá apenas mais dois ou três. Serve esta introdução para indicar o seu seguinte post como sendo de leitura obrigatória: O Peregrino

DO JORNAL

Sai hoje mais um artigo meu sobre Cinema Nacional na página de Cultura do semanário O Diabo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (7)

Não. Embora apeteça-me desabafar, não irei aqui descarregar contra verdugos de coelhos, manifestantes grândoleiros ou mitomanias chávezianas. Tampouco irei aqui verter lágrimas por conta de mais algum episódio desta horrorosa bancarrota nacional, que para mim é um Finis Patriae puro e duro.  Adepto da máxima que um dia ouvi da boca de um sacerdote mexicano, “a Dios rogando y con el mazo dando”, se não afrouxo na oração tampouco dou descanso ao porrete da doutrinação.  Então cá vamos:
Autoridade e Ordem
Duas palavras, dois conceitos essenciais mas ausentes na política e na análise política dos nossos dias, aqui e em todo lado.
A Autoridade esfumou-se, embora sintamos todo o peso esmagador do Poder, aquela como a força de um prestígio que convida à obediência voluntária, este como a força que submete pela coerção. Sem Autoridade não há Ordem, pois é aquela que cria esta.  E sem Ordem não há sociedade que possa existir, prosperar e conservar-se. É justamente por isso que o politico deve ser abordado desde a preocupação fundamental com a questão da Ordem.
Tal ocorreu na reflexão política de Maurras, a qual, como se sabe, impactou sobremaneira no pensamento salazariano. De facto, um dos pontos de contacto entre o filósofo galo e o catedrático coimbrão é justamente o pensar a politica a partir da preocupação básica com a Ordem. Para Maurras a Ordem é a essência do ser, o fundamento último de tudo o que existe; para Salazar a Ordem é a disposição harmónica de todas as coisas para um determinado fim – que para ele é transcendente: é Deus.  Ambos constatam e abominam a Desordem que impera em seus respectivos contextos espácio-temporais, e pensam as condições para restaurar a Ordem perdida. Se têm muito claro que a Ordem é o que torna possível a vida colectiva e o que possibilita a construção de uma autêntica civilização, ambos consideram que aquela não é um fenómeno espontâneo, mas uma função da Autoridade.
Maurras e Salazar reconhecem à Autoridade um duplo papel: o de “ordenadora” e o de “criadora”.  Assim, “ordenadora”, a Autoridade torna possível a vida social e a civilização; “criadora”, é através dela que se realiza todo o esforço construtivo dos homens, dos trabalhos mais modestos à obra mais transcendente. Mas a Autoridade em chave maurrasiana e salazariana tem outros atributos:  Se é uma necessidade absoluta, da qual tudo depende, não é um fim em si mesma – é um meio.  Longe de ser uma propriedade ou um privilégio, é um dever. Se ambos entendem que tanto a Autoridade como a liberdade são necessárias para uma sociedade bem constituída, rechaçam por completo a noção de que o agregado social possa ter como fundamento a liberdade e não a Autoridade. É, pois, a Autoridade que prima sobre a liberdade. Maurras e Salazar vão equacionar o problema politico fundamental através de um mecanismo de ajuste, uma sintonia fina entre a Autoridade, por um lado, e a liberdade, por outro. É a fórmula maurrasiana da “l´autorité en haut, les libertes en bas”; é a conciliação salazariana da “liberdade possível” e da “autoridade necessária”.  A Autoridade para ambos é um facto, uma realidade inevitável: sempre haverá alguém que mande, sendo, pois, essencial, que sejam garantidas as condições para que mande o melhor e em benefício de todos. Outro aspecto da sua teorização da Autoridade é que para eles esta não pode ser fabricada por mão humana: é uma qualidade nata: um “dom do Céu”, segundo o chefe da Action française; “um alto dom da Providência”, na expressão do arquitecto do Estado Novo. Trata-se, pois, de uma função sagrada, orientada obrigatória e exclusivamente ao bem comum e que, por essa razão, convida à obediência voluntária. Sem dúvida, Maurras e Salazar compartem uma concepção paternal da Autoridade: seu exercício pauta-se pela consciência do dever, do sacrifício, da justiça e da caridade. A Autoridade é essencialmente forte e não admite ser discutida, mas não pode ser violenta nem injusta na sua acção. A unidade fundamental da Nação deve estar reflectida na unidade da Autoridade politica: unidade de pensamento e unidade de acção. A Autoridade está igualmente caracterizada por uma dupla estabilidade: pela constância no seu exercício, pela vigência ou permanência da própria Autoridade.  A independência é outro atributo essencial da Autoridade teorizada por Maurras e Salazar. Deve estar imunizada contra três principais tipos de influencias nefastas: do espírito de partido e do jogo das facções; dos movimentos anárquicos da opinião; da acção daninha da plutocracia.  E mais: ambos coincidem em que a Autoridade é sábia, capaz de discernir o bem e de seleccionar os meios adequados para a sua realização (a prudência), e dotada de saber teórico e prático obtido através do estudo e da experiência (a sabedoria). Sábia, a Autoridade é, por isso mesmo, educadora, formadora. Não se esgotam aqui os atributos da Autoridade teorizada pelo mestre da Contra-revolução e pelo estadista nascido no Vimieiro. Mas o que aqui está – o fundamental – já é mais do que suficiente para comprovar que vivemos sem Autoridade e, por conseguinte, sem Ordem.
Como dizia o General Perón, “o Poder semelha-se ao dinheiro: ganha-se, perde-se, recupera-se. A Autoridade, no entanto, é como a vergonha: uma vez que se perde não se recupera nunca mais”.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar

domingo, 10 de março de 2013

POLÍTICA PURA

1. Integralismo Lusitano no centenário da sua fundação. Projecção no futuro.
2. Espiritualidade/identidade versus materialismo/mundialismo na História Universal. Ponto da situação.
3. Bem-Comum versus capitalismo e comunismo (duas faces da mesma moeda). Terceira-Via política, social e económica.
4. Comunidade tradicional orgânica: associativismo e municipalismo. Trabalho e território em Portugal.
5. Cultura Lusíada e Língua Portuguesa. Últimos redutos da identidade nacional.
6. Família como célula-base da sociedade. Resistir e transmitir.
7. Vida como valor. Princípio para pôr fim ao genocídio mundial.
Lancei aqui no final do passado ano estes sete temas. Tiveram acolhimento por parte de várias pessoas. Têm sido tratados em tertúlias e grupos. Publicarei aqui uma síntese das conclusões antes do final deste ano de 2013.

LUMINOSIDADE E SERENIDADE NA NOITE ESCURA

Eis que pela noite dentro descubro um belíssimo blogue de uma querida amiga. Acontece-me sempre encontrar coisas belas quando estou necessitado delas. Um blogue no qual me sinto peixe na água graças às referências estéticas e artísticas. É o que dá andarmos muito provavelmente  a ver os mesmos filmes, a ouvir as mesmas músicas e a passear nos mesmos sítios há muitos anos. E ter um certo olhar de observar com olhos de ver sobre as coisas. Chamo a atenção para o facto de todas as fotografias serem da autoria da bloguista. Agora, silêncio, é hora de contemplar: Ajin, da Ana Rita Seabra.

sexta-feira, 8 de março de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 58

O dia 7 de Março, ontem para vocês, hoje para quem escreve, é um dia muito especial. Faz anos o proprietário deste blogue e até a carteira sabe. Aproveitamos por isso para o felicitar neste dia. Gostamos tanto de o ter como patrão que, natural mas também interesseiramente, lhe desejamos imensos anos de vida.

Já agora os anos do João Marchante podem servir de mote para divagar sobre a vida, na sua faceta incontrolável que é a passagem dos anos.

É um velho com artifícios, o tempo.

Quando somos pequenos, a quase todos nos faz crer que qualquer sua ínfima divisão contém o infinito. Tão eterno é o segundo em que aprendemos a letra “a” como eterno é aquele em que mergulhamos no mar. Mas pode também ser desesperante essa eternidade. Nunca mais é hora do recreio, nunca mais são férias, nunca mais aprendemos aquela parte do livro que parece tão interessante... Lembro-me de achar que estava há alguns séculos à espera que o 6 do 1960 e tal, que escrevia todos os dias nos cadernos, passasse a 7. Rejubilei nesse dia. No entanto, contrariamente ao que tinha acontecido antes, essa novidade de escrever o 7 senti-a ainda como tal por mais uns anos.

Nalgumas situações já nos ia o tempo avisando que algo ia mudar. Quem não reagia com um pesaroso “Já?” quando os pais interrompiam a brincadeira com os amigos na hora de partir?

Mas esses foram os anos em que o tempo só estava a tomar balanço. Mal demos por isso e agora mesma divisão do tempo afinal tem a finitude do milésimo de segundo. É a idade em que ainda estamos de ressaca da passagem de ano e no dia seguinte é véspera de Natal. Custa-nos a acreditar, achamos injusto, percebemos finalmente a vergonhosa trapaça que o tempo nos escondia. Ficamos então com saudades do infinito e custa-nos gerir um outro tempo que nos ultrapassa pela direita desrespeitando todos os limites de velocidade. Em luta desesperada, tentamos eternizar momentos.

Penso que a astúcia não fica por aqui e que muito mais tarde o tempo nos voltará a conceder a eternidade no milésimo de segundo. Não já a da infância, mas uma outra, mais serena. Ou será que afinal isso é apenas a sabedoria que nos vai ensinar a domar o tempo? Não lutamos para o ultrapassar. Montamos, tomamos as rédeas e imprimimos o ritmo. O nosso.

Leonor Martins de Carvalho

quarta-feira, 6 de março de 2013

DA GENEALOGIA [AVÔ JOÃO]

João Augusto Firmino Marchante
(Sousel, 12.03.1897 — Lisboa, 20.05.1988)

Médico, Lavrador, Proprietário, Político e Administrador.

Licenciado em Medicina pela Universidade de Lisboa (1926)*;
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Sousel (1928-1940);
Presidente da Câmara Municipal de Sousel (1940-1947);
Governador Civil do Distrito de Portalegre (1947-1951);
Presidente da Junta Nacional dos Produtos Pecuários (1951-19...);
Deputado à Assembleia Nacional (1957-1961);
Vogal da Junta de Província do Alto Alentejo (1961-...);
Presidente do Conselho de Administração dos Nitratos de Portugal;
Presidente do Grémio da Lavoura de Sousel;
Vereador da Santa Casa da Misericórdia de Sousel;
Sócio do Centro Académico da Democracia Cristã;
Presidente da Comissão Concelhia de Sousel da União Nacional;
Comandante de Lança da Legião Portuguesa;
Médico da Guarda Nacional Republicana;
Etc.

* Fez os primeiros anos do Curso na Universidade de Coimbra.

Bibliografia:
Álbum Alentejano, de Pedro Muralha, edição Imprensa Beleza, Lisboa, 1931.
— Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, edição Editorial Enciclopédia, Limitada, Lisboa e Rio de Janeiro, 1936-1960.
Pelas Searas da Vida, de Felizardo António Martins, edição Câmara Municipal de Sousel, Sousel, 1992.
— Dicionário Biográfico Parlamentar (1935-1974), de Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, co-edição Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Assembleia da República, Lisboa, 2005.

Nota:
Após o casamento, com a sua prima direita Maria Luísa Firmino Costa Pinto, corta o seu apelido Firmino e passa a assinar apenas João Augusto Marchante.

terça-feira, 5 de março de 2013

TRADIÇÃO NA TELEVISÃO

Numa época de desenraizamento dos indivíduos e de fragmentação da sociedade surge um programa televisivo que pode dar a muitas pessoas um sentido para a vida. «Quem É Que Tu Pensas Que És?» é um formato adaptado. Tem por isso algumas condicionantes que tornam a série algo lamechas e a puxar para a emotividade fácil. Contudo, intencionalmente ou não, cumpre este programa duas funções fundamentais: por um lado, desmistifica o estúpido preconceito, espalhado pela propaganda republicana e por aristocretinos, de ser a genealogia o mesmo que nobiliarquia, e, como tal, à partida, só interessante para uma minoria de privilegiados; por outro lado, vem precisamente despertar no povo  — em todos nós, melhor dizendo — a curiosidade e o gosto pelos antepassados e pelas raízes. Este conhecimento, assente no (re)encontro com os nossos ascendentes, suas profissões e cargos, histórias de vida, terras de origem, casas de família, etc., pode e deve dar-nos uma explicação para o que somos hoje e ajudar-nos a definir um rumo para nós e nossas famílias nestes tempos terríveis.

DO FACEBOOK (2)

Despertei, ontem ao almoço, para o seguinte assunto relacionado com a famosa rede social: a importância do rasto que as pessoas deixam na sua passagem pelo Facebook.
Almocei num grupo onde um dos membros, habitualmente conversador, estava especialmente abatido. Quando lhe perguntámos o que se passava, esse experiente empresário disse-nos que estava com um problema nos seus negócios. Entregou o website da sua empresa ao filho de uns conhecidos, que lhe disseram outras pessoas ser um dos melhores profissionais do ramo, mas o rapaz não actualizava o site, desculpando-se com a falta de tempo, e ele ia ter de dispensá-lo. Dissemos-lhe que se calhar era uma fase de muito trabalho para o webdesigner e que isso haveria de se compor. Qual quê? Irritadíssimo (nunca tinha visto esse fleumático cavalheiro assim), disparou que sabia, através da sua filha, porque ela via, que o jovem, por ele contratado, estava sempre no Facebook, em conversinhas pela noite dentro, em vez de trabalhar!
Rasto danado...
Assim são os tempos modernos, versão big brother is watching you, para o bem e para o mal; mais depressa se apanha um mentiroso e mais depressa ainda se perde tempo.

DO FACEBOOK (1)

Das milhentas ferramentas que essa brincadeira do Facebook disponibiliza a que se me afigura mais útil para desenvolver projectos é a dos grupos secretos. Tenho trabalhado com alunos através desse meio e constato que é uma forma eficaz de criar sinergias e de atingir rapidamente os objectivos propostos. Por outro lado, quase todas as outras aplicações dessa coisa são um convite à perda de tempo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (6)


A Grande Traição é o título das memórias publicadas em 1997 por Ian Smith, último primeiro-ministro da Rodésia. Autobiográfica, a obra oferece uma interessante panorâmica da história desta importante parte da África austral e relata minuciosamente como os nossos “amigos” britânicos e estado-unidenses não descansaram enquanto este pedaço de terra não foi finalmente lançado ao seu calvário particular. Paz, tempo, lei e ordem – factores fundamentais para qualquer evolução autêntica e segura – foram sacrificados em favor da hipocrisia, da irresponsabilidade, da expediência.

Cumpre referir que o texto já se dirigia ao prelo quando a editora, uma das grandes na cena internacional, decidiu suspender a sua publicação, exigindo de Smith que eliminasse os adjectivos de “terroristas” e “assassinos” com os quais qualificava o bando marxista do sinistro Robert Mugabe. Smith prontamente recusou este estelionato histórico e foi com o seu manuscrito à procura de outra editora: jamais poderia referir-se a assassinos, bombistas e estupradores de outra forma.

Seria desnecessário afirmar que A Grande Traição interessa particularmente aos portugueses, euro-africanos genuínos e pioneiros, escandalosamente imolados e esbulhados pela traição doméstica a soldo de uma conspiração internacional - tragédia odiosa que há um quarto de século brada aos céus e clama por justiça!



Logo à partida cumpre ressaltar as páginas elogiosas que Ian Smith dedica a Salazar e a Portugal. Rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força do carácter, cumpria a sua missão histórica de povo, defendendo com determinação os seus legítimos direitos e interesses perante os fortes do mundo. E reafirma a sua profunda admiração por Salazar, estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram em Smith uma impressão única e indelével.



Como muitos rodesianos da sua geração, Smith interrompe os estudos universitários e, deixando para trás o sossego do torrão natal, alista-se nas forças britânicas e abala para a Inglaterra. Piloto da Real Força Aérea, combate nos céus europeus até ser ferido gravemente num acidente com o seu Hurricane em 1943. Restabelecido, reintegra-se no seu esquadrão e prossegue a luta até ser abatido sobre território italiano em Junho de 1944. Junta-se aos partisans italianos até escapar para a França, atravessando a pé – e só com as meias! – os gelados Alpes Marítimos. Em 1945, após uma passagem pela Alemanha, Smith regressa a casa para completar os estudos e dedicar-se à agro-pecuária. Em 1948 ingressa na política.



Irrompe a década de sessenta e dos pulmões dos vencedores de Ialta sopra o bafio velhaco dos “ventos da mudança”, a mascarar o verdadeiro objectivo de expulsar os europeus dos continentes africano e asiático. A Grã-Bretanha, alegremente empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e do Niassalândia com vista à formação de Estados “independentes” governados por maioria negra. Smith é o único do seu partido a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por Londres. Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia de afro-asiáticos, estado-unidenses e soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu “problema colonial” com o abandono puro e simples da população branca – os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha.



Em 1964 Ian Smith é eleito primeiro-ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe de chofre que os rodesianos seriam traídos pelos ingleses; e acrescenta que Portugal prestaria o auxílio necessário a Salisbúria. Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de “carrascos ruivos do Tamisa”, concretizavam o que o estadista português sentenciara. E a lembrança deste encontro profético com o asceta de São Bento ficou para sempre gravada na memória de Smith; que até ao dia de hoje mostra-se convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia teria sobrevivido.



Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico – que insistia em não cumprir o que havia sido acordado, além de superar-se a si próprio na arte da velhacaria –, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrée no território.



De 1965 a 1979 Smith e a sua Frente Rodesiana – sucessivamente reconduzidos ao governo – mourejaram para levar o novo país na trilha do progresso, enquanto negociavam com os líderes negros contrários ao uso da violência, as fórmulas prudentes e justas para, um dia, transferir as estruturas governamentais a uma maioria negra. Em 1979, o bispo Abel Muzorewa torna-se chefe do governo e constitui a primeira administração bi-racial. Entretanto, para os polícias planetários, um governo responsável composto por brancos e negros não tem serventia, uma vez que o que realmente pretendem é abrir caminho aos terroristas, até então afastados do processo do sistema oficial. As pressões internacionais e a campanha de terror intensificam-se: Londres e Washington exigem a inclusão do marxista Mugabe e de seus bandoleiros no famigerado “processo político”. Os primeiros sinais de fadiga começam a ser notados: é a velha tentação de sucumbir às pressões externas e reger-se por cartilha estranha em troca da supressão dos sacrifícios necessários. O governo de Muzorewa não logra durar muito e novas eleições são convocadas, desta vez com total liberdade de acção para o bando terrorista de Mugabe e, naturalmente, o beneplácito dos areópagos internacionais. A intimidação mais atrevida, o terror sem peias e a utilização dos expedientes mais cavilosos para baralhar o escrutínio, possibilitam a vitória aritmética dos marxistas. Acto contínuo as sanções internacionais são levantadas e a Inglaterra outorga a imediata independência à Rodésia, que já amanhece como o marxista Zimbabué – atitude que demonstra de maneira indesmentível as intenções verdadeiras e originais dos ingleses. Caía o pano: completava-se a grande traição. Mugabe, apaparicado pelos senhores do globo, não tarda em implantar a sua ditadura de partido único através da perseguição, intimidação e eliminação física de opositores. O alvo preferido é a população branca e os negros que não “aderiram” prontamente à “revolução”. Um território outrora pacífico e em franco desenvolvimento é transformado num espaço de opressão e violência, corrupção e ruína económica.



Ian Smith termina o livro recordando às consciências mundiais que estas esqueceram-se de advertir que o tão propalado princípio de “um homem – um voto” seria aplicado em África… apenas uma vez!



A repetição da barbárie a que assistimos nesta terra martirizada é apenas a continuação da actividade terrorista iniciada em meados dos anos sessenta e que culminou, em 1980, com a tomada do poder pela cáfila de assassinos liderados por Mugabe. Não há ilusões nem surpresas. É mais um capítulo do terrorismo de Estado então implantado sob a chancela dos que se arrogavam a qualidade de porta-vozes da “comunidade internacional”.



A verdade é que os arautos dos “direitos humanos” e da “autodeterminação”, se condenavam a acção colonizadora euro-ultramarina, acocoram-se perante as mais violentas e corruptas ditaduras africanas – aquelas que eliminam fisicamente a oposição, “governam” as populações a tiro ou à fome, levam à ruína os mosaicos tribais irresponsavelmente armados em países, enquanto acumulam fortunas nababescas nos offshores financeiros e adquirem sumptuosos palácios na Europa.

Padecer sob a pata comunista nunca proporcionou o direito a muita indignação ou a uma grande audiência. Ademais, uma boa limpeza étnica, desde que feita por pretos contra brancos, é sempre vista com os olhos húmidos de compreensão.



A farsada que constitui a obra-prima da ONU e dos senhores deste planeta vai, desgraçadamente, continuar em cartaz na terra africana encharcada com o sangue dos inocentes. Eis as excelsas realizações dos arrojados descolonizadores – “exemplares”, com certeza. E nós, comprados a retalho pelo MPLA com o dinheiro que nos foi roubado, sabemos muito bem do que se trata.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar

sábado, 2 de março de 2013

SABEDORIA À MÃO DE SEMEAR

Tertúlia Invisível, de António Leite da Costa.

Um blogue superior. Digo eu.

sexta-feira, 1 de março de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 57

A carteira que, como calculam, não tem qualquer espécie de dote culinário, teimou em querer aprender uma receita tipicamente portuguesa. Veio bater à porta errada, mas sempre se arranja qualquer coisa e faço-lhe a vontade:

Receita da desgraça

Ingredientes:

-          Presidentes da república, primeiros-ministros, ministros e deputados: quantidade à escolha (a qualidade pouco difere)

-          Licenciaturas por equivalência e dominicais: as que descobrir

-          Megalomanias: bastantes

-          Complexos: muitos

-          Casos vergonhosos: numerosos

-          Negócios obscuros, troca de favores e corrupção: abundantes

-          Promessas – Mentiras: várias dúzias

-          Temperos: Ambição, ganância, falta de vergonha e de palavra

-          De: um

-          Euro: suficiente para agrilhoar

Preparação:

Numa tigela bem funda, misture fartas quantidades de presidentes da república, primeiros-ministros, ministros e deputados (atenção que há uns que costumam fugir) e bata firmemente. Ponha pitadas de licenciaturas por equivalência e dominicais.

Numa taça à parte misture as megalomanias com os complexos, dois ingredientes que se fundem na perfeição rapidamente. Verta esta mistura a pouco e pouco na massa anterior.

Junte uma miscelânea de casos vergonhosos, mas incluindo sempre BPN, BPP, PPPs e fundações, mais negócios obscuros a gosto, troca de favores e corrupção com fartura e continue batendo, sem parar. Se gostar, use compadrios.

Entretanto, separe as mentiras das promessas e bata estas últimas em castelo bem firme (não tenha medo da força que aplicar).

Junte as mentiras à massa, misture bem e quando a massa estiver consistente, incorpore as promessas suavemente mas de modo a ficarem bem ocultas.

Use os temperos indicados acima da seguinte forma: ambição sem fim, ganância a rodos, falta de vergonha e de palavra em abundância.

Unte à força com euro uma forma de tipo Europa que tenha um buraco bem grande. Lembre-se que a forma Europa tem a característica de roubar soberania a qualquer receita.

Leve a forno bem quente o tempo que lhe apetecer. Retire e deixe esfriar. Guarde no frigorífico e desenforme a cada quatro anos.

Enfeite com um de bem definido, na certeza de que na mesa passará a da, e sirva.

Sabe a pouca vergonhice oligárquica, impunidade, austeridade, sobrecarga fiscal, desemprego e pobreza.

Tem sido esta a receita portuguesa mais típica. Vamos alterá-la?

Leonor Martins de Carvalho