segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (5)


Jacques Bainville, discípulo de Maurras, especialista em política internacional da Action française, é o autor de importantes estudos sobre Bismarck e Napoleão, além de obras de referência como Les conséquences politiques de la paix, na qual prevê, com vinte anos de antecipação, a 2.ª Guerra Mundial; Histoire de deux peuples continuée jusqu´à Hitler; La Russie et la barrière de l´Est; Les Dictateurs, com um capítulo dedicado a Salazar e Portugal – entre outras. O seu  extraordinário poder de análise e dedução capacitaram-no para fazer projecções que vieram a confirmar-se no tablado internacional, fazendo com que ficasse para sempre conhecido como “o historiador do futuro”.  

Habituados que estamos ao mundo do faz-de-conta dos meios de desinformação de massa, aborregados às mistificações dos senhores planetários e dos seus lacaios locais, vale a pena recordar aqui alguns princípios de bom e velho realismo politico, e que constituem a base daquilo a que podemos chamar o “modelo” ou o “método” bainvilleano  para a compreensão do futuro – a saber:

Observação dos factos. Ponto de partida, deve ser realizada na mais absoluta isenção, desprovida de todo parti pris, desapaixonada, desideologizada. Os factos devem ser observados tais como são e não como gostaríamos que fossem.

Princípio de causalidade. Nenhum facto politico surge do nada. É sempre fruto da interacção de uma série de factores que o vão moldando através do tempo, até “madurar” e manifestar-se com todas as suas implicações, sejam elas positivas ou negativas. Estar atento à génese de um facto político pode evitar a surpresa de ver-se a braços com as suas consequências.

Experiência. “Nossa mestra em política é a experiência”, escreveu Maurras.  O conhecimento profundo da História dos povos é essencial para a compreensão do presente. E esse imprescindível estudo do passado implica igualmente penetrar na estrutura mental dos agentes políticos, para poder apreciar – não com os olhos de hoje, mas através de “lentes epocais” – as diferentes opções e a decisão politica efectivamente tomada. Como a politica apresenta necessidades permanentes, importa aprender com a experiência passada e aplicar suas lições e precedentes onde melhor corresponda.

Psicologia humana. De tudo o que muda no mundo, o homem é o que muda menos. Imutáveis na sua natureza, os homens atravessam os séculos com as mesmas paixões, sucumbem às mesmas tentações, comportam-se e reagem da mesma forma em situações similares. 

Em resumidas contas, esta é a “chave de quatro lados” que abre o conhecimento das verdadeiras razões que explicam a História. Alguns homens de génio já a conseguiram utilizar com mestria. 

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar