sábado, 19 de janeiro de 2013

ENTREVISTA CONCEDIDA PELO AUTOR DO BLOGUE

Na sequência duma interessantíssima conversa que tive ontem numa rija tertúlia de cavalheiros da velha guarda que se orientam pela trilogia Deus-Pátria-Rei, publico novamente a entrevista que concedi, no dia 27 de Fevereiro de 2009, ao Manuel Azinhal, autor do saudoso blogue O Sexo dos Anjos. E se a republico aqui e agora é porque voltaria hoje a responder a tudo da mesma maneira. Ei-la:
1 - "Eternas Saudades do Futuro" é um projecto assumidamente individual. O que o levou a optar por esse modelo?
- O Eternas Saudades do Futuro é, de facto, um blogue pessoal — pessoalíssimo, até. Não resulta da razão, mas, sim, do coração, isto é, o que lá publico ocorre-me intuitivamente. Portanto, não se pode falar em opção. Porém, acredito que o que nos sai automaticamente é resultado da cultura que transportamos connosco: a que vem do berço, e a que adquirimos nas voltas da vida, com as respectivas opções estéticas e éticas, fruto dos mestres que nos ensinaram a ver, compreender e escolher.
2 - Gosta de se sentir um "redresseur des torts"?
- Não sei se estou à altura de tão nobre tarefa, correspondente a tal epíteto. Certo, certinho, é que nasci na época errada e tento viajar no tempo — afinal, temos 900 anos de História por explorar, com heróis, sábios e santos — procurando energia nas lições do passado para me projectar num renovado futuro. Sinto-me um vanguardista nas formas e um tradicionalista nos valores; contudo, procuro ainda a coerência que advirá da síntese desses dois vectores. Na arte e na vida.
3 - Quais as razões para que seja tão curto o tempo médio de vida dos blogues?
- Os portugueses têm muita dificuldade em acabar aquilo que começam. Também não lidam bem com a pontualidade. São, ainda, preguiçosos. Detesto todas essas características, que me fazem, aliás, assumir cada vez mais uma atitude misantrópica perante a gente que me rodeia e ter nos livros os melhores amigos. É ridículo observar que há blogues muito bem escritos mas totalmente vazios de ideias e vice-versa. Aproveito esta divagação, em tom de desabafo, para dizer que um blogue tem de ser sustentado por autenticidade e cultura. Estas duas características escasseiam, igualmente, hoje.
4 - Depois destes anos todos a observar a blogosfera, o que lhe parece que esta trouxe de novo à batalha das ideias e da informação?
- Perante o espanto e a admiração geral, a blogosfera portuguesa veio mostrar que há pessoas, desalinhadas com o pensamento único ditado pelo politicamente correcto, que pensam pela sua própria cabeça e que não se conformam com a ditadura cultural consentida por um sistema que há muito entregou aos intelectuais de esquerda a hegemonia cultural. O sistema trata da economia e dá de mão-beijada as artes e as letras a esses intelectuais. Uns e outros, ficam todos contentinhos com o acordo.
5 - O que espera ainda da blogosfera?
- Tudo. Pois só aqui Portugal poderá recuperar as tradicionais liberdades (que não a fictícia Liberdade) que nos foram legadas por D. Afonso Henriques e seus cavaleiros e que se têm vindo a perder irreversivelmente de há 200 anos para cá. Ena pá!, o que eu fui dizer...
6 - A forma mais eficaz de fazer política passa por dizer que não se faz?
- Não sei, eu não faço política...
7 - Comente as seguintes afirmações:
a) Só pode progredir o que permanece.
- Sem dúvida. Resistir é vencer, e vencer corporiza-se na belíssima imagem de um homem de pé entre as ruínas. O futuro é feito do que permanece depois de evaporada a espuma dos dias. Esse caudal que avança — de geração em geração —, unido por um invisível fio-condutor, é a Tradição. É por aí que vou.
b) Bloguismo rima com narcisismo.
- Já se sabe que bloguismo rima com diarismo; no entanto, importante é ter consciência que bloguismo rima com activismo: os blogues são as catacumbas do nosso tempo.
c) A internet abriu o caminho a um gramscismo tecnológico.
- Percebo pouco disso... Mas, a despropósito, apetece-me dizer, para rematar, que só haverá mudança de paradigma político se existir um ambiente cultural propício. Este, terá de ser necessariamente enformado por uma nova estética. Para mal dos nossos pecados, a esquerda percebeu isso no século XVIII. Reedificar a comunidade nacional orgânica, assente em valores tradicionais, que tem vindo a ser destruída desde aí, será tarefa só possível através da argamassa cultural fabricada na internet.