sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 50

O título desta crónica – penso já aqui ter contado – nasceu da mente brilhante do meu irmão mais novo. A carteira emocionou-se na altura mas anda agora apreensiva. Teme pela sua integridade física e as teorias de conspiração tiram-lhe o sono. Pelos exemplos que a rodeiam, convenceu-se de que estava a decorrer uma campanha para a destronar e substituir por outra palavra que irá sempre considerar menos digna. Não hesitou, pois, esta semana.

O árduo trabalho de dezenas e dezenas de anos a ensinar Portugal a tentar pronunciar a palavra meteorologia sem tropeços acabou de ir pelo cano abaixo. A designação que, de uma forma ou de outra, vinha a ser utilizada desde os anos 40 do séc. XX, foi alterada em virtude da fusão de vários Institutos. E, mesmo existindo um departamento que mantém o termo, é o novo nome do Instituto que se vem aplicando aos que tão simpaticamente nos avisam das frentes frias ou do anticiclone dos Açores, o eterno culpado da chuva nas Ilhas Britânicas.

Quando há uma fusão, percebe-se a necessidade de um novo nome que reflicta a mesma. Ou quando um nome ficou “queimado”, há que branquear e fingir que agora é algo completamente diferente.

Mas esta teimosia em mudar os nomes à viva força, em muitos casos não se entende. Até pelos gastos em que se incorre por causa das alterações. Ele é logótipos, letreiros na porta, software, carimbos, um sem número de pequenas coisas de que ninguém se lembra antes, mas que se pagam.

Ora, sobretudo nos casos em que existe história e tradição, a manutenção do nome só traz prestígio. Os homens do marketing ainda não perceberam. Há coisas em que não se deve mexer nunca. É deixá-las sossegadinhas. Não vale a pena insistir, é tempo perdido.

Alguém duvida que na boca do povo as Repartições de Finanças continuam a ser isso mesmo e não Serviços, como agora se denominam?

A mesma situação sucede com os Presidentes de Câmara, embora julgue que, neste caso, é de propósito. Nada melhor para apagar alguém da memória colectiva do que dar o seu nome à Rua Direita.

Os exemplos abundam aqui em Lisboa e por certo noutros lugares, havendo mesmo mudanças de há centenas de anos que nunca pegaram: Terreiro do Paço – Praça do Comércio, Campo de Santana – Campo dos Mártires da Pátria e mais recentemente Praça do Areeiro – Praça Sá Carneiro.

Nestes anos em que vamos perdendo tudo, da soberania à comemoração da Restauração, temos de ter cuidado (não é inédito!) não vá alguém lembrar-se de, numa gigantesca operação de marketing, alterar o nome da nossa Pátria… Já é só quase o que falta.

Leonor Martins de Carvalho