segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (1)


Quis o bom Amigo João Marchante, na sua inexcedível amabilidade, oferecer-me espaço nesta sua Casa para, uma vez por semana, aqui deixar algumas pinceladas do que me vai no espírito, reacção ao que foi, ao que é, e ao que – julgo - pode vir a ser.  Aqui e algures… Reflexões, comentários, estados d´alma, um ou outro mot d´ordre, desabafos e até mesmo alguma lamentação quase fadista, fica desde já assentado que cada palavrinha ou palavrota aqui debitada será da inteira responsabilidade deste vosso modesto mas atrevido escriba.
 
Pois é tempo de visitas argentinas. No espaço de duas semanas procuro dar a conhecer a amigos porteños alguns tesouros do Portugal eterno (o Grande), tão teimoso na sua resistência aos embates do anti-Portugal (o Portugalinho versão cravícola). Do Castelo de São Jorge ao Mosteiro da Madre de Deus, de São Vicente de Fora aos Jerónimos, do Convento dos Cardaes ao Museu Nacional de Arte Antiga, da Fundação Ricardo Espírito Santo ao Museu dos Coches, de Queluz a Mafra, de Sintra a Óbidos, da Batalha a Alcobaça, etc. E que dizer de duas deslocações ao Santuário de Fátima para orar no local onde a Santíssima Virgem tantas vezes visitou e abençoou esta Terra de Santa Maria!
 
Escusado será dizer que maravilharam-se com o que viram.  Gente bem formada e bem informada, demonstraram ser observadores atentos ao comentar, por exemplo, os seguintes pontos:  
 
1.º       Na Patriarcal, nesta jóia que é São Vicente de Fora, ao percorrer atentamente os grandes painéis com a cronologia ilustrada da Igreja portuguesa, chamou-lhes a atenção o facto de Salazar – “com quatro décadas entregues à restauração material e moral de sua Pátria” – ser contemplado com uma curta frase a referir a nomeação como Ministro das Finanças em 1928, enquanto Spínolas, Costas Gomes, Soares e demais “coveiros de Portugal” merecem extensos textos e imponentes fotografias.  Por essas e por outras é que a Igreja conciliar dá muito, mas muito mesmo, que falar…
 
2.º       No Mosteiro da Batalha, precisamente no Museu das Oferendas ao Soldado Desconhecido (Liga dos Combatentes), em secção destinada aos “grandes políticos e militares de Portugal”, espantaram-se ao constatar que o selecto grupo compunha-se de notórios liberais e maçons, como o Imperador Pedro I do Brasil mais os Saldanhas e Terceiras do costume, além de revolucionários abrilinos do estofo de um Spínola, um Costa Gomes, um Ramalho Eanes e – pasmai ó gentes! – o inevitável e desavergonhado “descolonizador exemplar”. 
 
3.º       No belíssimo Museu dos Coches, prestes a ser transferido para um caixote branco modernaço, fruto sabe-se lá de que negócio, repararam que se um retrato de El-Rei D. Miguel encontra-se na galeria superior, já a colecção de postais com os retratos dos Reis da dinastia brigantina, que se encontra à venda na loja do museu, omite escandalosamente o “mais português” e “mais católico monarca da Cristandade”.  
 
4       Em Óbidos, no pequeno mas belo Museu Municipal, ao apreciar algumas obras de Eduardo Malta e ler a sua síntese biográfica, acharam curioso que o grande retratista da Covilhã é ali caracterizado como “pintor das classes altas” e por isso “estigmatizado” pelos artistas comprometidos com a abrilada ´74, enquanto que ninguém ousa fazer o mais pequeno reparo ao CV de um bom estalinista.
 
Onde está a reacção a um tal estado de coisas? De facto, o espectáculo em Portugal é confrangedor: dir-se-ia que o inimigo conseguiu neutralizar aqueles que não afinam pelo mesmo diapasão.  Nenhuma publicação periódica, nenhuma editora, nenhuma livraria, nenhum programa de conferências de peso, nenhuma iniciativa de doutrinação séria e sistemática, nenhuma acção concertada para fazer frente ao regime da dissolução nacional.
 
Urge seguir o exemplo que nos vem do país dos argentinos, onde um revisionismo histórico pujante e corajoso não apenas restaura factos, valores e personagens do passado, mas reactualiza-os na sua urgência presente.
 
 
Marcos Pinho de Escobar