sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 48

Na semana entre o Natal e o Ano Novo sofremos uma invasão muito especial. De todos os lados nos bombardeiam com revistas do ano, balanços do ano, acontecimentos do ano, músicas do ano, desastres do ano, patetices do ano e depois, as previsões para o ano que se segue, muitas ao estilo vidente dos professores que nos querem defender de todos os males em papelinhos entregues à boca do metropolitano.

Pois parece que a carteira não quer perder este comboio e apeteceu-lhe escrever um texto desse especialíssimo género literário.

Balanço do ano da Graça de 2012 (e dos anteriores, já que as diferenças são poucas ou nenhumas):

1.         Um Presidente da República, eleito pela grande maioria de 23%, que entra mudo e sai calado.

2.         Um Primeiro-Ministro que se esquece sempre do que disse antes.

3.         Uma classe política e governativa de altíssima qualidade.

4.         Uma austeridade que nos rói carne e ossos.

5.         Um aumento das exportações com ajuda do ouro de que as famílias se desfazem.

6.         Um rasgar da herança histórica com a abolição dos feriados.

7.         Um acordo ortográfico em desacordo com todos.

8.         Uma cada vez maior centralização do poder nas mãos de cada vez menos.

9.         Uma justiça exemplar em lentidão e ineficácia.

10.     Uma noção de honestidade sui generis.

11.     Uma valorização dos desvalores.

12.     Um património ao deus-dará.

13.     Um povo extraordinário que sobreviveu este ano e os outros a isto tudo.

Previsão para o ano da Graça de 2013 (e posteriores) baseada em estudos científicos rigorosíssimos:

1.         Aplicam-se os pontos 1 a 13 do balanço anterior (com tendência para pior).

2.         Umas eleições autárquicas na ressaca do assassínio de freguesias e do mais que se lhe vai seguir.

Era bom que pudéssemos mudar alguma coisa para que os balanços e previsões não fossem assim. Participar na mudança. Mostrar o quão extraordinários somos.

Enchamos 2013 de tudo o que lhe pudermos dar. Mudemos o seu balanço.

Leonor Martins de Carvalho