quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PARA ACABAR DE VEZ COM AS CONFUSÕES

31 de Outubro — Festa de Samhain.
Início do ano Celta. Noite do fogo novo e da inspiração, conhecida modernamente por «Halloween». Antiga celebração pagã cultivada hoje pela sociedade de consumo.
1 de Novembro — Festa de Todos os Santos.
Uma das maiores datas do Ano Litúrgico e uma das festas mais características e queridas dos Católicos.
2 de Novembro — Dia de Fiéis Defuntos.
Chamado popularmente «Dia de Finados». Jornada de íntima comunhão com os que já partiram. Dia de esperança para os Crentes.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A DE AUTOR

Alfred Hitchcock (1899 — 1980) nasce em Londres. Sendo, pois, à partida, um homem directamente herdeiro do espírito vitoriano do século XIX, revela, no entanto, um extraordinário sentido de utilização dos modernos meios de marketing e publicidade (antecipando-os), para divulgar as suas obras. Cedo irá transformar em marca icónica o seu nome, tornando-o reconhecível e apetecível para toda a comunidade mundial de cinéfilos, e, mesmo, para os grandes e despersonalizados públicos generalistas. Revela-se, ainda, e dentro desta estratégia de comunicação global, um especialista nas relações públicas; especialmente com a imprensa, com o objectivo de se promover profissionalmente.
Dito isto, há que afirmar, de imediato, que toda esta comunicação eficaz era apenas a ponta-de-lança de uma obra complexa e profunda. Vamos a ela, que é o fulcro da questão!
Hitchcock, oriundo de uma família de classe média-baixa, é instruído pelos jesuítas. Se refiro este facto é porque os seus filmes virão a reflectir uma série de conhecimentos que terá assimilado nos seus estudos feitos numa escola católica destes, bem conhecidos pela vasta cultura que forneciam; terá, também, através dos referidos jesuítas, tomado contacto com G. K. Chesterton (1874 — 1936), que lerá entusiasmado na juventude. Outras influências literárias que o marcaram, mais tarde, como erudito auto-didacta que era, foram Edgar Allan Poe (1809 — 1849) e Oscar Wilde (1854 — 1900).
Por outro lado, devorava jornais e lia revistas de criminologia e de cinema. Curioso é constatar o casamento entre estas fontes de inspiração para o seu despertar como autor de filmes. Os seus temas serão, principalmente, os seguintes: falsos culpados, assassínios, trocas de identidade, medo, voyeurismo, paixões frias mas arrebatadoras.
Porém, antes de chegar à realização de fitas, começa por desenhar intertítulos para filmes mudos, escrever argumentos e trabalhar como assistente de realização. Esta conjugação, de conhecimento prático da técnica cinematográfica com a cultura que ia adquirindo pela leitura, possibilita uma mestria na criação das suas narrativas fílmicas, apimentadas com o tão apregoado suspense.
Na sétima arte, Hitch (gostava de ser assim tratado) bebeu de várias fontes: Fritz Lang (1890 — 1976) e F. W. Murnau (1888 — 1931) — esses dois mestres do mudo alemão — foram determinantes para a estruturação da sua linguagem estética. Esteve na UFA — os grandes estúdios de Berlim — e conheceu-os pessoalmente. Lá trabalhou e lá filmou. Esta marca será visível, claramente, nos seus filmes mudos; e, mais subtilmente, nos sonoros.
O seu género eleito será o melodrama policial, pontuado de fantástico e de mistério. Esbate, pois, assim, as fronteiras de vários géneros convencionais, criando uma abordagem própria, com elementos retirados de todos eles.
No que toca à realização, o seu estilo é essencialmente visual, dando-nos a sensação de que aquelas histórias só fazem sentido em cinema; ou seja, por escrito não teriam o mesmo impacto. Sabia de tal forma o que queria que a montagem das suas películas seguia ao milímetro o que ele próprio tinha definido na planificação (última fase do argumento, em que este fica pronto a ser filmado). A esta atitude chama-se trabalhar com «guião de ferro». Hitch dizia que o acto de rodar era uma maçada, pois já sabia exactamente como seria o filme ao tê-lo definido na planificação. Esta ideia traduz uma inabalável confiança do cineasta em si próprio, enquanto director de actores, e uma invulgar capacidade de visualização.
Hitchcock assentava a sua estética numa cumplicidade com o espectador. Dava-lhe alguns conhecimentos secretos sobre a acção, mantendo-o ansioso pelo desfecho da narrativa. Esta tensão psicológica pode até levar o espectador a querer comunicar com a personagem ameaçada na tela, para a avisar do perigo... Eis a força manipuladora do suspense.
Não havendo, no entanto, técnica que resista à falta de ideias, é preciso deixar bem explícito que o cinema de Hitch assenta em temas fortes, já atrás referidos. Recapitulando, e desenvolvendo: a culpa — com o inocente falso culpado como fio-condutor da narrativa, entrando aqui, por vezes, a troca de identidades; o medo — pontuado pelo susto, e nas margens do terror; o desejo — com simbologia e alegorias sexuais; a ansiedade — mantida pelo suspense; o voyeurismopeeping-tom, em bom inglês, espreitando e violando a esfera privada e íntima; a autoridade — que assegura a investigação criminal, mas também pode ser desafiada (detestava polícias vulgares, de «ronda»); a morte — sob a forma de assassínio, o crime mais grave, e que os espectadores, morbidamente, gostam de ver no recatado conforto da sala escura. Todos eles temas de identificação e projecção psicológica do espectador. Eis o cinema, na sua mais poderosa forma alquímica, servido pela mão do mestre Hitchcock.
Importante é vencer o medo, esperar para ver o desfecho, e perceber que a chave dos seus filmes é o triunfo final da luz sobre as trevas. Toda a sua obra é uma variação sobre este principal grande tema.
E, se não menciono um único filme do realizador, a justificação é simples: devem ser vistos todos, cronologicamente — dos mudos aos sonoros, dos ingleses aos americanos, dos filmados a preto-e-branco aos rodados a cores —, com o objectivo de se conseguir captar, na sua plenitude, toda a sua temática de fundo, e todo o seu estilo visual e sonoro profundo; enfim, todas as suas indeléveis marcas autorais.

sábado, 27 de outubro de 2012

DA ÉTICA BLOGOSFÉRICA

Gosto de bloguistas com nome e rosto. Produzem blogues com corpo e alma.

DA PONDERAÇÃO

Tão importante como dizer-se o que se pensa é pensar-se o que se diz.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 39

Estivemos fora uns dias e a carteira, a única que viu televisão, não soube fazer um relato pormenorizado do que se passou entretanto em Portugal e no resto do mundo. Além disso, invocou cansaço e jet lag, apressando-se a passar-me com ligeireza a tarefa semanal. Não tive outra solução senão estar a escrever a crónica no avião de regresso.

Como em qualquer microcosmo, os comportamentos despoletados por uma viagem de avião são pessoais e muito diversos, mas podemos claramente distinguir alguns, a que assistimos amiúde.

Logo na chegada ao aeroporto, temos os maníacos da pontualidade ou os atrasofóbicos. Chegam tão cedo que praticam qualquer actividade ao seu dispor num aeroporto, por mais inútil que seja. Tanto são os melhores clientes das lojas como os mais exasperantes, entrando e saindo umas mil vezes em cada uma. Óptimos conselheiros, por conhecerem a fundo todos os detalhes de todos os aeroportos por onde passaram, são fonte de informação mais valiosa e completa que a própria página do aeroporto na Internet, mesmo se setenta por cento dela não nos interesse.

No outro extremo estão os maníacos do atraso, os pontualfóbicos, que gostam de viver perigosamente, correndo sempre o risco de perder o avião. Aparecem nos últimos segundos, armados em atleta de corrida de cem metros, pedindo com o ar mais dramático do mundo na fila da segurança para passarem à frente, por favor, tenho o voo agora mesmo! Revemo-los a correr desesperados para a porta de embarque todos suados e descompostos. Do olhar reprovador dos que há muito esperam, nem querem saber. Um sorrisinho de outra vitória no papo e a prova de que nunca perdem o avião. Nem para fonte de informação servem. O seu conhecimento de aeroportos limita-se aos painéis que indicam as portas de embarque.

No controlo de segurança aparecem os que ainda não perceberam ou teimam em esquecer as regras. Desde senhoras que não abdicam dos grandes boiões de creme até homens que insistem em levar o seu desodorizante em spray tamanho XL, desde tesouras gigantes a canivetes suíços, de facas de mato até xis-actos, as surpresas são muitas.

Os fumadores (outra boa fonte de informação sobre aeroportos onde é permitido fumar) dão as últimas e desesperadas passas em dois cigarros de seguida para atestar o depósito de nicotina.

Já no avião, há quem pense que tudo tem de caber à força, e a trouxe-mouxe tentam enfiar o Rossio na Rua da Betesga.

Não acredito que haja alguém completamente desprovido de medo quando anda de avião. A maior parte das pessoas defende-se como pode, procurando sobretudo nem pensar no assunto.

São uns santos, os que adormecem no segundo exacto em que se sentam, e nesse estado ficam, cabeça inclinada para a frente, para o lado ou para trás, até as rodas do trem de aterragem voltarem a tocar no chão. Deixam de ser santos quando temos o lugar da janela e precisamos urgentemente de ir à casa de banho. É uma situação algo embaraçosa ter de acordar um estranho.

As instruções de segurança são apenas seguidas com extrema atenção se o pessoal de voo for mesmo uma estampa. Não há pois garantias de que tenham sido as instruções o que realmente foi ouvido e visto. Há ainda gente disposta a tirar o dia, neste caso a tirar o voo, para atormentar o pessoal de bordo. Outros tiram o dia para atormentar os vizinhos da frente, não se calando nem um segundo, a não ser quando a sanduichita de queijo lhes ocupa a boca. Nalguns casos, nem assim.

No aproximar do destino, há sempre uns momentos de acalmia, um quase silêncio, não sei se por estarem a rever a sua terra com saudade ou a terra dos outros com interesse, se pela ansiedade da aterragem, se simplesmente por não se conseguirem ouvir com a pressão nos ouvidos.

Claro que não me podia esquecer dos que batem palmas, até totalmente justificadas após uma situação mais complicada. Descomprimem e libertam a adrenalina.

Finalmente, não sei se sabem mas mandam-nos permanecer sentados e de cintos apertados até o sinal apagar. Mas basta parecer que o avião está a parar e parecem bonecos de mola. Todos se põem de pé, num atarefamento doentio. Todos, não, porque estas duas irredutíveis portuguesas da Silva resistem. Com aviões, todo o respeitinho é ainda pouco. Adorava ouvir um dia a voz grossa de um comandante gritar: Sentados! Acho que lhes servia de lição. E vingava aqui as duas alminhas bem comportadas.

Leonor Martins de Carvalho

HOJE NA HISTÓRIA ACONTECEU: NASCEU UM PORTUGUÊS DE CORPO E ALMA

D. Miguel I, O Tradicionalista
Queluz, 26.10.1802 — Bronnbach, 14.11.1866
Reinado: 1828 — 1834

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

HOJE NA HISTÓRIA ACONTECEU: RECONQUISTA DE LISBOA (25.10.1147)

O Cerco de Lisboa por D. Afonso Henriques, 1840
JOAQUIM RODRIGUES BRAGA (1793 — 1853)
Óleo sobre Tela, 80 x 107 cm

APRENDER ATÉ MORRER

Serei um homem feliz quando puder ler os meus livros preferidos nas versões originais, ou seja, nas Línguas em que os autores os escreveram. Se a coisa cá se vai fazendo com o Inglês, o Francês e o Castelhano, terei no entanto de encontrar tempo para me meter em altos estudos com o objectivo de lançar mãos às obras em Alemão, Italiano e Russo. E, por fim, os primeiros Idiomas: Grego e Latim. Enquanto há vida há esperança.

DO ACTUAL (DES)GOVERNO DA NAÇÃO

O actual estado da nação é de tal forma que o (des)governo conseguiu perder o único homem culto e com talento que lá tinha. Antes assim. Espero que Francisco José Viegas agora volte a ter tempo para nos presentear com boa literatura.  Aproveito o momento para relembrar uma recensão crítica que em tempos escrevi sobre um dos seus romances.

DO PRAZER DE ESCREVER

 

DO PRAZER DE CRIAR

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

DA IMAGEM E DA PALAVRA

Uma imagem vale mais do que mil palavras e uma palavra sugere infinitas imagens. Portanto, consoante a mensagem que queremos comunicar, devemos optar conscientemente por uma, ou por outra, destas formas de expressão.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

DO PRAZER DE ENSINAR


Retrato de João Marchante dando uma aula.

REGENERAÇÃO DE OUTONO

O vento limpa e a chuva lava.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

DA POLÍTICA EUROPEIA

Toda a gente tem hoje a palavra «Europa» na boca. Pergunto-me do que falarão eles. Pela amostra do que dizem desconhecem completamente os pilares fundamentais sobre os quais se edificou o Velho Continente. Tudo se resolveria facilmente se lessem os três livros que enunciam e resumem os vectores fundadores da identidade cultural europeia. São estes: Odisseia, de Homero; Eneida, de Vergílio; A Divina Comédia, de Dante. 

sábado, 20 de outubro de 2012

AS ETERNAS SAUDADES DO FUTURO QUEREM SABER

Depois de comprovadamente esgotados ao fim de várias experiências ao longo de séculos os modelos estatista e liberal na economia não haverá hoje pensadores capazes de criarem e apresentarem uma terceira via?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 38

Queria a carteira contar uma fábula. A sua fábula. Ficar tão conhecida quanto o corvo e a raposa de Esopo ou La Fontaine. Entrando a carteira na história, o formato mais adequado seria um apólogo. Mas recusa-se a ser objecto inanimado, não se quer comparar aos Relógios Falantes de D. Francisco Manuel de Melo. Compromisso negociado: será um apólogo em forma de fábula.

Apólogo-fábula da carteira, do filósofo, do coelho, da múmia e personagens equivalentes

(tinha de ser um título do tamanho do ego da carteira)

A carteira tinha assento naquele degrau já a descer para a segunda cave da escala social, seja qual for a medida utilizada. Ninguém dava por ela mas carregava todo um mundo lá dentro. Um mundo recheado de sonhos que aguardavam dias melhores.

Quis um dia um filósofo, que afinal o não era, talvez antes engenheiro domingueiro, e que se vestia de cor-de-rosa, ter a gentileza de lhe dirigir a palavra. Eram doces as suas palavras, falavam de auto-estradas, aeroportos, internet, novas oportunidades… Só lhe pedia que fizesse uma cruz num papel, curiosamente também a um domingo.

O país das carteiras acabou sendo governado pelo filósofo-engenheiro de fato cor-de-rosa até se perceber que negócios estranhos e mirabolantes tinham cavado um poço tão grande que só para o espectáculo do poço da morte servia. Tendo a carteira caído na água do poço, ficou, pois, toda encolhida.

Entretanto chamaram três reis de distantes reinos, especialistas em contas e poços da morte. Foi assim que se descobriu que o poço se tinha tornado fossa das Marianas.

As carteiras passaram a depender totalmente do país das salsichas e dos países parte de um clube para o qual a carteira nunca tinha marcado cruz em papel.

Não tardou que, num outro dia, o degrau da carteira tivesse a visita de um coelho de pêlo alaranjado convencido que era cantor, que lhe falou doce mas firmemente do poço, dos negócios, das vergonhas que tinham de ser cortadas com tesoura de tosquia. Atrás dele iam batendo portas. A carteira percebeu de imediato que teria de desenhar uma nova cruz num outro domingo.

Chegado ao poder, o coelho alaranjado, que adorava os três reis e o país das salsichas, fez tudo o que lhe foi pedido e ainda mais. A carteira que já tinha encolhido com a água do poço começou a desfazer-se.

O país das carteiras não era um reino. Em pequenos ciclos as carteiras escolhiam alguém para fazer não percebiam bem o quê, e acabavam por lhes dar a todos o cognome de múmias. Múmias passageiras a quem o destino das carteiras dizia pouco, e por isso pouco diziam. Assim, não havia a quem recorrer.

A carteira, com sonhos de subir ao rés-do-chão, está agora na quarta cave e juntaram-se-lhe muitas outras, todas esfarrapadas e esburacadas. Aprenderam que a política é dominada por filhos de Geppetto. Sonham juntas com tempos idos gloriosos e planeiam mudar o país. Para que finalmente venha a ser delas. O país das carteiras.

Moral: Em país desgovernado, sofrem as carteiras.

Leonor Martins de Carvalho

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

DA GOVERNAÇÃO

Toda a gente sabe que o principal mal que afecta o corpo da pátria há já décadas é a corrupção. É portanto urgente que venha finalmente um governo que tenha como única prioridade extirpar esse cancro antes que o país morra dele.

DA (DES)GOVERNAÇÃO

Por que razão é que estes animais de cabelo que nos (des)governam não cortam nas despesas supérfluas do Estado em vez de massacrarem sempre os mesmos com mais impostos?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

DOS CICLOS HISTÓRICOS NA VIDA DAS NAÇÕES

Acredito — sem qualquer laivo de misticismo esotérico-cabalístico — que há ciclos históricos de 100 anos na vida dos países. Assim sendo, está na hora dos mais distraídos lerem a aventura que foi a I República em Portugal; e, estudarem também a respectiva História da Europa, dessa mesma época. Fazer isso serve para não se espantarem com o estado a que isto chegou e irem-se prepararando para o que aí vem. 

REVELAÇÃO E REVOLUÇÃO

Imagem que é imagem tem uma estética e tem uma ética.

IMAGEM E COMUNICAÇÃO

Os homens deixam de imaginar quando criam imagens e voltam a imaginar quando contemplam as imagens criadas.

ARTES E TECNOLOGIAS

Bastam pequenos meios para expressar grandes ideias.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PORQUE A MAIOR ESCRITORA PORTUGUESA FAZ HOJE 90 ANOS...

... Depois de acabar de rever o maravilhoso Melancholia, de Lars von Trier, na RTP 1, vou folhear o Dicionário Imperfeito (extraordinária selecção de pensamentos de Agustina Bessa-Luís), que já depositei, para o efeito, na mesa-de-cabeceira. E sei que assim a minha aula da manhã de amanhã (hoje...) será muito mais inspirada e inspiradora.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 37

A carteira foi vítima de…carteiristas. Um dia tinha de suceder! Está tão frustrada, que só balbucia que roubaram o que tinha valor afectivo, que o sentimento de perda é imenso, que foi uma devassa da sua intimidade. Pediu-me limpeza a seco. Até o tema da semana levaram, para ser vendido ao desbarato numa qualquer loja obscura e depois entrar nas estatísticas gloriosas das exportações. Com esforço lá me deixou um papel manchado de lágrimas. E não, não é sobre símbolos invertidos, porque ela até fechou os olhos para poder negar ter visto tal infâmia.

De muitas formas se costumam designar aqueles que se convencionou pertencerem a uma tal terceira idade. Desde logo surge a primeira questão: afinal quando é que começa essa idade já que, quanto à duração, e ao contrário das anteriores, sabemos que é vitalícia?

A fronteira é muito volátil, variando ao longo dos séculos com a esperança de vida, as decisões oficiais ligadas às reformas e até aos olhos de quem a aprecia.

Oficialmente dirão agora que a terceira idade começa aos sessenta e cinco anos, porque tudo está combinado e planeado: as reformas com os descontos nos museus e nos passes sociais. Mas quem tem quarenta já pode ser desse “grupo” aos olhos de uma criança. A excepção parece ser no sector agrícola. Com quarenta anos é-se jovem agricultor quer a criança queira, quer não.

Ia-me esquecendo de outra excepção: as juventudes partidárias. Nos partidos não existe a terceira idade. São eternos jovens até serem primeiros-ministros. Aí chegados enchem o currículo de linhas para provar que não o são e é um corrupio de passagens administrativas da primeira idade para a terceira, tentando ganhar o status da experiência.

Também se ouve dizer idosos mas é mais linguagem de televisão e de assistente social. Quem usa reformados e pensionistas ou se prepara para os roubar ou tem a mania que fala em seu nome.

São velhos quando deixam o cesto do supermercado ao deus-dará, fazem falcatrua no autocarro, deitam papéis ao chão, põem os sacos do lixo nos ecopontos ou encostados às árvores, passam à frente nas filas, escarram ou lançam impropérios.

Velhinhos são os queridos com quem apetece tomar chá a ouvir contar histórias, e velhotes os que estão a meio caminho entre velho e velhinho na escala métrica do carinho.

Ancião já soa a sabedoria conselheira e depois… Depois há os avós. Os avós são outra categoria. Não encaixam. São nossos e não têm idade.

Seja qual for a tal idade fronteira e o nome que lhes derem, são eles hoje os sacrificados, a quem roubaram os subsídios sem saber como nem porquê e ainda têm de ajudar filhos e netos, quando deviam estar no merecido descanso. Muitos até arregaçam mangas e voltam ao trabalho.

Chamem-lhes o que quiserem. Para mim são heróis nacionais.

Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AINDA E SEMPRE A MAGIA DO SOM

Busquemos e escutemos sonoridade poética na linguagem musical e a montante dela.

AINDA E SEMPRE A MAGIA DA IMAGEM

Representação artística visual de pessoas ou coisas.

DA DIALÉCTICA ARTÍSTICA

O advento da Fotografia não matou a Pintura e a chegada do Vídeo não acabou com o Cinema. O primeiro facto está comprovado há quase duzentos anos e o segundo há cerca de cinquenta. Os criadores das diferentes áreas saíram enriquecidos incorporando elementos das outras linguagens nas suas obras, por um lado, ou, em oposição, redescobrindo a essência da sua forma de expressão eleita e utilizando-a radicalmente.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

DA IMAGEM E DO SOM

Durante anos a fio caminhava para o emprego diário sempre pelo mesmo sítio. Certo dia, porque o passeio estava em obras, fez o percurso pelo outro lado da rua. Mudou assim, por acaso, o habitual ponto-de-vista, que era também ponto-de-escuta. Viu imagens e ouviu sons que nunca tinha sentido. E, desde esse dia, passou a ser outra pessoa.

DO VOCABULÁRIO DA BLOGOSFERA

Informa-me o «Painel do Blogger» (raio de nome!) que o Eternas Saudades do Futuro tem 123 «seguidores» (outra expressão fantástica!) . Bem, possa eu ser guia de tamanha tropa. Siga a marcha!

ESCLARECIMENTO À NAVEGAÇÃO

Pedem-me uns que instale caixas-de-comentários, convidam-me outros a comentar em blogues alheios. Já disse, mas repito com todo o gosto, até porque tenho muitos novos leitores que ainda não conhecem as normas desta taberna lisboeta. Então, é assim:
Não abro caixas-de-comentários no Eternas Saudades do Futuro, devido a não ter tempo que me possibilite responder a todos com a atenção que cada um merece. Sei do que falo, pois, quando permiti a participação de comentadores — no dia em que o blogue completou 1 ano —, tive dezenas de leitores a expressarem-se aqui em poucas horas.
Em consequência do que anteriormente ficou exposto, não faço comentários nas caixas de outros blogues, na medida em que, não oferecendo esta casa lusitana a hipótese de retribuição, não seria justo, na minha perspectiva, irmos a jogo em desigualdade de oportunidades. Como não há regra sem excepção, diga-se de passagem que comento apenas nos dois blogues colectivos de que sou co-autor.
Espero, com esta mensagem em 4 parágrafos, ter feito o esclarecimento definitivo desta matéria. E prometo que quando me reformar abrirei finalmente e definitivamente as tão queridas e requeridas caixas-de-comentários...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

DA ARTE

Conjunto de obras criadas em linguagem simbólica pelos seres humanos na sua busca da beleza.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

POR AQUI E POR ALI

Não sendo muito o tempo que tenho disponível para estas andanças, tento no entanto distribuí-lo da melhor forma. Assim sendo, deixei agorinha mesmo uma mensagem no blogue dos Jovens do Restelo, coisa que já não fazia há muito. Ide lá espreitá-lo e comentá-lo, se for caso disso. Ei-lo: De que 5 de Outubro estamos a falar?

OUTUBRO

October
And the trees are stripped bare
Of all they wear
What do I care?
October
And Kingdoms rise
And Kingdoms fall
But you go on... and on

U2

sábado, 6 de outubro de 2012

DA CONQUISTA E DO EXERCÍCIO DO PODER POLÍTICO

Não alimentando eu a ingénua ilusão de ver o poder político ser conquistado por uma verdadeira aristocracia de artistas, escritores, cientistas, autores, poetas, filósofos e sábios, tenho no entanto a certeza de que os políticos evitariam muitas desgraças públicas se os lessem e compreendessem.

VISITAS, VISITAS, HÁ MUITAS VISITAS...

Estou aqui e estou quase a receber a visita n.º 200.000 (duzentos mil)! Para um blogue que não fala de futebol, não mostra gajas nuas e não tem ligações nem caixas-de-comentários, parece que não está mal. Afinal, há mais pessoas interessadas e interessantes do que se pensa. Abrissem todas elas o seu blogue e Portugal levaria uma grande volta. Ai levava, levava.

MOMENTOS FUNDAMENTAIS E SEUS RESPECTIVOS MONUMENTOS SIMBÓLICOS

Fundação, Consolidação e Expansão de Portugal: Alcobaça, Batalha e Jerónimos.

DATAS FUNDAMENTAIS

Portugal nasceu a 24 de Junho de 1128 (Batalha de S. Mamede), foi baptizado a 25 de Julho de 1139 (Batalha de Ourique), e foi registado a 5 de Outubro de 1143 (Tratado de Zamora).

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 36

Anda a carteira triste porque lhe vão roubar o dia 5 de Outubro. Claro que sendo do contra, com isto querendo dizer contra a minha pessoa, lamenta não poder ir assistir àqueles empolgantes discursos republicanos, ao hastear da bandeira verde e rubra nos Paços do Concelho em banho de multidão exaltada. Recomendar-lhe-ia óculos e um aparelho auditivo, mas respeito o entusiasmo e não comento, em omissão piedosa. Estranhamente ou não parece que a última celebração será numa espécie de clandestinidade.

Tive de lhe lembrar que no dia 5 se celebra acontecimento bem mais importante. Uma das datas ligadas à fundação da nacionalidade: o Tratado de Zamora em 1143.

Portugal não faz umas quaisquer dezenas de anos mas oitocentos e sessenta e nove, 869, para ver se percebem bem a grandeza dos números.

Tudo se deve essencialmente à teimosia de um só, alguém que sonhava um Portugal independente. Era alguém especial, D. Afonso Henriques, que após a batalha de Ourique em 1139, e aclamado pelos seus cavaleiros, passou a intitular-se rei de um Portugal que teimava em ver livre da vassalagem a D. Afonso VII de Leão e Castela.

Com avanços e recuos mas com firmeza e usando de uma estratégia política bem delineada, acabou alcançando os seus intentos. Passaram-se anos até ao Tratado de Zamora, muitos outros até ao reconhecimento pontifício (1179), mas a teimosia deu frutos.

É graças a si que aqui estamos ainda hoje como Nação independente. Será? Não sei se o nosso primeiro Rei gostaria muito de ver no que Portugal se transformou. Talvez pudesse pensar se tanto esforço afinal teria valido a pena …

Pelas leis matemáticas e das probabilidades, dizem-nos que todos somos de alguma forma aparentados com D. Afonso Henriques.

É indiferente.

Era mais importante que soubéssemos ser herdeiros da sua firmeza e da sua férrea vontade de defender a soberania.

Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

DO MELHOR QUE PODEMOS LEVAR DESTA VIDA

O almoço da melhor tertúlia gastronómico-literária de Lisboa teve hoje como convidados especiais dois colaboradores deste blogue: o Francisco Cabral de Moncada, que aqui assinou a sua coluna semanal «Sem Agenda» durante 6 meses, e a Leonor Martins de Carvalho, que escreve nesta casa vai para 1 ano a sua crónica das sextas-feiras «Carteira de Senhora». Razões mais do que suficientes para os leitores do Eternas Saudades do Futuro irem espreitar o Jovens do Restelo e aceitarem lá o nosso desafio a propósito do referido encontro deste dia. A porta de entrada é por aqui.

A MENSAGEM É QUE COMANDA A VIDA

Expressemos grandes ideias utilizando pequenos meios.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

DA LUTA DE CLASSES QUE NINGUÉM FALA

Durante muito tempo, a burguesia foi desprezada pela nobreza e invejada pelo povo. Depois, vingou-se e nunca mais parou. Desatou a fazer as revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX e as revoluções nacionais dos séculos XX e XXI...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

DO PODER REVELADOR DOS BLOGUES

Gosto de blogues individuais. Os autores tornam-se mais pessoais em casa própria. Cada casa, cada causa. Que é como quem diz: aqui, cada um desfia, dia-após-dia, o rumo da sua vida. E a vida de cada um é aquilo que de mais interessante temos para oferecer uns aos outros. Partilhar referências nascidas de vivências. Por fim, esse mesmo fio-de-Ariadne será útil para retomarmos o caminho, quando nos perdermos no labirinto das ideias. Um rasto, qual sinalética. Simbólica e tudo, porque codificada. Mas clara, pois para obscuro já existe o mundo. E, quanto mais desligado do mundo for o blogue, mais cativante será o autor. Há uma profundidade que só se atinge sendo-se desprendido. A liberdade conquista-se dizendo o bloguista em cada momento o que lhe passa pela cabeça. Sem filtros. Sem concessões. Sem compromissos. Sem favores. Escrevendo como se ninguém estivesse a ler e não houvesse nada a perder. Tendo porém noção que arrisca tudo com a sua exposição. Esplanada nesse rasto que deixa lastro. Sabendo também que existe sempre alguém a quem se destina cada mensagem. Nem que seja um ilustre desconhecido. O qual, mais tarde ou mais cedo, se acaba por revelar. Isto é: mesmo que nunca se revelando perante o bloguista, muda a direcção da sua vida, devido a uma frase que leu num blogue. Fazendo assim a sua pessoalíssima revelação. Pode esta ter como ponto de partida um exame de consciência feito ao espelho de um blogue; ou, à janela, se quiserem. Dizem que acontece. Sendo sempre a mudança para melhor. Não tivesse ela por base a elevação espiritual através da sabedoria adquirida ou da afinidade encontrada. Enfim: regenerado e redimido, o leitor avança para novas etapas. Cara lavada e alma purificada. Se este vosso amigo pessimista o afirma, podem crer que assim é. Digo-o como bloguista, e como leitor. E fica tudo dito.
Por outro lado, existem blogues para fazer dinheiro a qualquer preço e vender banha da cobra. Evito passar por lá.

AFINIDADES AFECTIVAS

Gosto de bloguistas com nome e rosto. Produzem blogues com corpo e alma.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

NA VIDA COMO NA NATUREZA

Outubro sabe-me sempre a uma segunda Primavera. É como a vida depois dos 40.

MERGULHAR COM CABEÇA

Volta e meia, dizem-me, com ar meio-maroto e atrevidamente cúmplice, que as minhas mensagens, publicadas aqui no blogue, têm várias camadas de leitura. De facto, acertam na mouche ao afirmá-lo. E até passo a revelar o «programa»: à superfície, mostro os bolos, para contentar os tolos; de seguida, um pouco mais fundo, desenvolvo as narrativas, tão ao gosto das medianas classes médias; por fim, remato com as ideias, só para entendedores e mergulhadores de grande fôlego.