sexta-feira, 28 de setembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 35

A carteira anda boquiaberta com o que se tem passado em Portugal nos últimos tempos, e quando digo boquiaberta, acreditem. Já tenho até medo dos carteiristas.

Mas voltemos atrás.

Desde a entrada na “Europa” que, a troco da cedência de soberania, fomos inundados por lentilhas que nos diziam necessárias para, depois de termos feito a mudança para o mesmo prédio, levar o país de elevador até ao elevado piso dos outros.

O nível de vida subiu, mas à custa de quê? Desbaratadas as lentilhas pela oligarquia partidária e por alguns outros, resultando na quase destruição da agricultura, pescas, indústria e cultura, mas com auto-estradas de encher o olho, assistimos agora, por culpa de criminosos, à política contrária, e obrigam-nos a descer até à quarta cave em elevador descontrolado.

Teve algumas vantagens, não negamos, mas terão sido mais os benefícios ou os prejuízos?

Desde a entrada na “Europa” que tantos bolsos encheu, a perda de cada vez mais soberania desembocou, após a entrada no clube restrito da cobertura luxuosa do prédio (cópia fiel do clube de Os Sete da Enid Blyton), no impedimento de emitir moeda, o que nos impede de sair mais facilmente de qualquer crise.

Desde a entrada na “Europa”, incluindo a própria entrada, que nunca nos foi perguntado nada sobre o tema, mais parecendo arranjinhos “deles”. Claro que estava nos programas eleitorais mas sabem lá eles se foi por essa exacta razão que as pessoas votaram? Os programas têm dezenas de promessas e um deles até prometeu referendo do tratado de Lisboa. Viu-se.

Há certas questões que os governos deviam ser obrigados a referendar. É também uma questão ética. Mas ética é palavra que deixou de fazer parte do vocabulário e da prática política. Sofremos isso na pele.

Ninguém diz que não nos devemos dar com os amigos europeus. Podemos ir às mesmas festas, ter os mesmos inimigos, partilhar experiências, trocar presentes, fazer acordos de cavalheiros…. Não temos é que dormir na mesma cama, especialmente quando prometem a cama e o lugar destinado é por baixo da dita ou afinal à porta do quarto.

Os outros países europeus são como alguns amigos nas redes sociais: não os conhecemos pessoalmente, rimos das piadas, apreciamos a sabedoria, mas não queremos que se metam nas nossas vidas.

Continuamos a querer escolher os amigos, os verdadeiros, os que apreciam a nossa personalidade e não nos querem transformar em gémeos.

Quando os nossos dirigentes políticos pensam primeiro na Europa, depois nos EUA e só depois em Portugal está tudo dito.

Leonor Martins de Carvalho