sexta-feira, 1 de junho de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 18

Tenho de apresentar queixa no tribunal internacional dos direitos dos cronistas. A carteira anda nitidamente a querer brincar. O destino? Querem substantivo mais debatido em Portugal? Quantas teses de mestrado e quiçá de doutoramento…

Posso sempre dar a volta e enganar a danada. Que tal destinos turísticos? Aposto que não voltava a fazer a mesma brincadeira.

Temos vários destinos ou um só? Podemos escolher por um cardápio? Existe catálogo on-line? Há saldos em épocas pré-definidas?

Nascemos a ouvir o sussurrar constante de tradições que nos dizem ser o destino alma gémea da fatalidade, da sina e do fado. A tradição oblige e conformados nos querem.

Sem velas e à deriva, sem rumo e sem destino, parece Portugal vaguear, ultimamente. Como se fosse nosso destino a ausência de destino. Não. Não é isso. Enganaram-nos. Deram-nos mapas que não são os nossos, e deixámos que outros traçassem rotas que desconhecemos. As nossas levavam a bom porto, estas são as que nos fazem encalhar, deixando-nos sem saída.

Vendemos o nosso destino sem apelo nem agravo. Teremos de o recuperar, nem que seja em leilão por telefonema anónimo.

O mar sempre foi o nosso destino, como o foi dar novos mundos ao mundo.

Se o destino está traçado, como dizem os fados, troquemos-lhe as voltas. Um simples lápis e um compasso traçarão novas rotas, por cima das que o mapa teima agora em mostrar. Serão muito nossas. E se nos enganarmos, fomos nós. Com os nossos erros podemos bem.

Afinal que nos falta? Para cumprir o destino e chegar a bom porto, basta uma rosa-dos-ventos na carta de marear, um rumo, uma bússola e um astrolábio. Caravela e marinheiros já temos. Claro que a caravela precisa ainda de ser calafetada e as velas latinas de serem remendadas, mas os marinheiros são de boa qualidade e experientes em condições extremas. O senão têm sido os pilotos. São pilotos de água doce, não sabem navegar em alto mar. Venha com urgência um curso de reciclagem, lembrando experiências de antanho. Venha um Capitão-Mor do Mar, herdeiro da sabedoria dos capitães de outrora que motive pilotos, marinheiros e grumetes.

Se como exortava o poeta falta cumprir Portugal, é esse o nosso destino. É rota e fatalidade. Que esperamos?

Várias vezes tomámos o destino nas nossas mãos. Escolhemos um rumo e abraçámo-lo. Foi assim em 1385. Foi assim nos Descobrimentos. Foi assim em 1640.

Busquemos outros mundos. Navegar é preciso!

Leonor Martins de Carvalho