segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quarta-feira, 14 de Dezembro
Já é público: o Tribunal da Relação deu, por unanimidade, provimento a um dos cinquenta e quatro mil recursos apresentados pela defesa de Isaltino Morais, ao que parece sobre a prescrição de crimes de fraude fiscal pelos quais terá sido condenado a pena de prisão efectiva. Ora, uma vez que Isaltino Morais não é o Zé dos Anzóis que, na mesma situação, há muito estaria já na pildra, o caso regressa agora a Oeiras ganhando-se mais algum tempo precioso para os propósitos do tio do taxista na Suíça. Mantenho que, em estando no lugar da juíza da comarca, eu punha-me a pau não fosse dar-se o caso de ainda ser a meretíssima a ficar a ver o sol aos quadradinhos ou, se não tanto, pelo menos a ver a carreira arruinada como aquele outro juiz que, vai para uns anos, colocou uns quantos pedófilos em prisão preventiva e que, juram as gazetas de tempos a tempos, está como aqueles árbitros que povoam a Jarra quando não redigem o relatório que o sistema futebolístico espera deles.

Quinta-feira, 15 de Dezembro
Pedro Nuno Soares, uma criatura que ninguém sabe quem seja mas que apesar disso é vice-presidente do grupo parlamentar do PS e líder do agrupamento no distrito de Aveiro, conheceu hoje os seus cinco minutos de fama e não necessariamente pelas melhores razões. Tudo espremido, diz o cavalheiro em nacos que oscilam entre a alucinação e a demagogia mais bacoca, que Portugal deveria suspender o pagamento da dívida na medida em que isso iria deixar os banqueiros alemães "com as pernas a tremer"! Amplamente dotado, como facilmente se constata, de largos conhecimentos de Finanças, Relações Internacionais, Estratégia e o mais que as Ciências Humanas registem nas estantes do conhecimento, aposto tudo aquilo que quiserem em como o senhor deputado, na linha da melhor escola socialista, vai chegar a ministro mais cedo do que tarde. Podem escrever, a este fixem-lhe o nome.

Sexta-feira, 16 de Dezembro
O ex-presidente francês Jacques Chirac foi ontem condenado por desvio de fundos públicos e só não foi ver o sol efectivamente aos quadradinhos na medida em que o tribunal terá mostrado alguma piedade pelo estado de saúde em que alegadamente o meliante se encontra. Convém registar - na medida em que estas coisas ajudam também a explicar o estado a que a Europa chegou - que esta criatura foi eleita na segunda volta das presidenciais francesas de 2002 por uma multidão em estado de histeria colectiva, na qual podemos aliás incluir toda a opinião publicada em Portugal - sendo todos eles responsáveis, portanto. Como ontem anotou e bem Jean-Marie Le Pen, "fui derrotado por um homem que deveria na altura estar na prisão. A França teve um delinquente na presidência durante 12 anos". Nem mais.

Sábado, 17 de Dezembro
Informa a edição de hoje do i que os indicadores de actividade económica e do consumo privado do Banco de Portugal atingiram em Novembro mínimos históricos de 1978. Aos mal intencionados que pudessem duvidar, fica cabalmente demonstrado o êxito tremendo de trinta e cinco anos de partidocracia e de baixa política. A andar para a frente a este ritmo, mais uns mesitos e rebenta por aí o PREC...

Domingo, 18 de Dezembro
Depois de ontem ter garantido que daqui por duas décadas as reformas serão no máximo metade daquilo que representam hoje - o português prudente traduz para português corrente e entende estas palavras como um "arranja forma de juntar algum porque quando lá chegares não vais ver um tostão apesar de teres descontado toda a vida para os rendimentos mínimos de quem ganha por fora uma pipa de massa e para as reformas douradas dos deputados que deputam oito anos" -, Passos Coelho (assumindo-se cada vez mais como mero presidente de uma comissão liquidatária) aconselha agora os professores a seguirem o percurso de Linda de Suza e, de valise de carton em mãos ambas, emigrarem em busca de uns trocados. Regista-se então que o primeiro-ministro aplica aos professores o que, há mês e picos, um qualquer secretário de Estado desses a quem nem fixamos a graça aconselhava a todos os desempregados portugueses: pirem-se daqui enquanto é tempo! Como falávamos do PREC, isto recorda-me inevitavelmente aquela velha pintura que em 1975 coloria um dos muros do Aeroporto de Lisboa: "o último a sair que apague a luz".

Pedro Guedes da Silva