segunda-feira, 28 de novembro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quarta-feira, 23 de Novembro
A Sábado publica hoje um apontamento delicioso: ao mesmo tempo que, insaciável, a maioria parlamentar nos exige mais e mais sacrifícios e cortes, resolve chumbar na Comissão de Ambiente uma proposta que visava matar a sede dos senhores deputados com a água da torneira que quase todos bebemos. Mas qual quê! A bem da Nação, os mui ilustres representantes do povo disseram que não, amparados por um qualquer parecer que assegurava não oferecer a alternativa as mesmas "condições de higiene". Para a história, ficará o contributo para o défice: entre janeiro e Novembro de 2010 o parlamento abateu 45.288 garrafas de 33 cl, 1.986 de litro e meio e 78.200 copinhos de plástico. Não há dúvida que o legislador é genial a gozar com o pagode que lhe paga as mordomias - e, no caso vertente, as manias.

Quinta-feira, 24 de Novembro
Greve geral, dia de glória do sr. Carvalho da Silva. A manhã ameaça um ou outro tumulto, com os vidros de três repartições de finanças a conhecerem as capacidades de estranhos cocktails molotov, mas a coisa fica por aqui se descontarmos a tradicional loucura de boa parte dos famigerados piquetes de greve cuja utilidade, aparentemente, é apenas a de impedir que os cidadãos que o pretendem possam exercer o seu direito a trabalho. Sejamos claros: mais de trinta anos passados sobre o carnaval revolucionário, já correu tempo bastante para que os senhores deputados pudessem dar-se ao trabalho de rever a Lei da Greve, nomeadamente introduzindo a proibição deste tipo de actuação inacreditável dos piquetes. Nas televisões, observamos as imagens de cavalheiros musculados impedindo de trabalhar companheiros a quem um dia de salário faz falta. E isto, tanto mais em época de dificuldades, mais do que revoltante é até vergonhoso. Que de uma vez por todas haja coragem para que se possa pôr fim a esta pouca vergonha da "obrigatoriedade de fazer greve". Lateralmente, olhando a minha zona, quer parecer-me que, à falta de transportes, a malta - muita dela, pelo menos -, baldou-se à labuta e aproveitou os minutos de fama da CGTP para fazer ponte. Em paralelo, uma das principais agências de rating voltou a fazer cair o país colocando-o agora no equivalente aos campeonatos de futebol do INATEL. No conjunto, quase nada de verdadeiramente novo.

Sábado, 26 de Novembro
Olhando as notícias de ontem e de hoje, vai ficando clara como a água (que os senhores deputados não bebem) a actuação dos grupos anarquistas e de extrema-esquerda que pretendem fazer do dia-a-dia de Portugal uma enorme praça grega. À desobediência que se observou na quinta-feira em frente da Assembleia da República, juntam-se agora indicações da presença em Lisboa de militantes estrangeiros "extremamente violentos" mais ou menos profissionais da delinquência de rua, do incêndio, do motim e do cocktail molotov. A par, vêm a público ligações deste tipo de grupos de extrema-esquerda com os gangues de "jovens" dos mais problemáticos bairros perigosos das zonas de Lisboa e de Setúbal. E para rematar o quadro, há relatos de cada vez mais frequentes tentativas de intrusão e ataque informático a sites e intranets de vários organismos e organizações cá do burgo. Mas aparentemente, apesar das notícias, nada se passa salvo a detenção, por umas horas, de meia dúzia de operacionais de extrema-esquerda que, como é sabido, nada mais pretendem do que a defesa intransigente de cada vez mais direitos, liberdades e garantias. Imaginem agora vosselências se estivesse em causa a sempre tenebrosa extrema-direita que, de uma das vezes que anunciou uma conferência, teve direito a rusga à escala nacional com dezenas largas de buscas, detenções, programas televisivos e demais carnaval! Imaginem mais ainda: que a tenebrosa extrema-direita tinha levado a cabo ataques informáticos ao Estado, pirotecnia diversa com cocktails molotov e tentativa de invasão das escadarias de São Bento, tudo com ajuda de um qualquer cidadão alemão. Pois é... já estão a ver como acabava, não estão? A esta hora, ainda as ruas haviam de estar patrulhadas pelo exército, polícia a cada esquina e os submarinos do dr. Portas a defender o Estado de Direito no lago do Campo Grande...

Domingo, 27 de Novembro
Para variar à tentação de olhar o que passou, façamos o exercício inverso de olhos postos no futuro. Na próxima quinta-feira teremos ao que parece a última oportunidade de, em dia feriado, celebrar o 1º de Dezembro e os Heróis da Restauração da Independência. Porque é preciso salvaguardar a memória histórica e transmiti-la às gerações vindouras, que não sejam poucos a deslocar-se, em todo o país, às respectivas cerimónias evocativas. E desde logo, à Praça dos Restauradores, em Lisboa, onde decorrerão os tradicionais actos organizados pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Na hora da morte de mais um símbolo da nossa vontade de ser Comunidade de Destino independente, que não sejam poucos a dizer presente.

Pedro Guedes da Silva