segunda-feira, 17 de outubro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quinta-feira, 13 de Outubro
Oito da noite em ponto, Passos Coelho - esse que se aconselha ver aqui - dirige-se ao país para anunciar, ar solene a tombar para a cara de enterro, que meteu na gaveta tudo aquilo que andou a prometer meses a fio. No fundo, tudo espremido, foi apenas isso: pediu o voto jurando a pés juntos que iria cortar nas gorduras do Estado e que o eixo do combate jamais apanharia subsídios de férias e de Natal - "isso é um disparate", garantia a criatura. Não bastando, arguia de modos pujantes e ar igualmente solene que estava farto de ver sempre os mesmos a pagar os costumeiros desvarios pós-abrilinos e que, quanto a aumentos de impostos, jamé! - como dizia o outro. Pois sim, caro leitor, pois sim. Votaram na criatura... aqui a têm agora montada na sua própria credibilidade. Pior que, mais uma vez, toda a demonstração de incompetência seja feita à nossa custa - e muito em especial à custa de quem, como eu, jamais depositaria um papelinho que fosse nas capacidades do homem. E pior ainda que estas resmas de assaltos ao nosso bolso se venham a demonstrar - mais cedo do que tarde, podem escrever - completamente inúteis. Vamos apenas pagar mais para viver cada vez pior, perante a absoluta indiferença dos "mercados" que, daqui por diante, continuarão a exigir mais e mais cortes. E, perdoem-me a indignação e a adjectivação que a dita implicará, quem afirmar o contrário ou é ingénuo, ou é burro, ou, o que não é melhor, é simplesmente mentiroso - tal e qual ocorre com o dr. Passos Coelho.
A despropósito, mas já que falamos no governo, alguém tem visto por aí o dr. Paulo Portas - defensor emérito e encartado dos contribuintes contra a pouca-vergonha da pressão estatal? Lembram-se os meus caros amigos de ver o dr. Portas na televisão a berrar que "isto não é fisco, é confisco"? Pois sim... andará algures na Líbia ou arredores, a ver se passa entre os pingos da chuva enquanto credita milhas na despesa pública e no cartão TAP.

Sexta-feira, 14 de Outubro
À noitinha, chega a notícia que já não chega a ser notícia. Todos os anos por esta altura tomamos contacto com os rankings do ensino secundário que, de forma reiterada, enchem de ensino particular e cooperativo os primeiros lugares a nível nacional. Trinta e sete anos de facilitismo e de experiências irresponsáveis de pedagogos alucinados continuam, como é óbvio, a garantir os seus frutos. Os frutos e os últimos lugares dos rankings, claro está.

Domingo, 16 de Outubro
Na SIC Notícias, uma das reportagens de rescaldo da manifestação de indignados em Lisboa devia ser de visualização obrigatória. Um cidadão espanhol que se encontra em Lisboa, talvez que com compreensíveis saudades da Puerta del Sol, decidiu comparecer à convocatória e manifestou à televisão as suas conclusões: ao contrário de Espanha, dizia, esta manifestação de Lisboa tresandava a bloco e a extrema-esquerda que, ao decidirem monopolizar temas e palavras de ordem, retiram valor aos protestos, descredibilizando-os e afastando largos milhares de verdadeiros indignados. O raciocínio parece-me evidente mas agrada-me constatar que até um estrangeiro menos conhecedor da realidade nacional é capaz de concluir o mesmo num brevíssimo par de horas. O que "nuestro hermano" não saberá, mas eu digo-lhe, é que ali no meio daquela indignação estavam resmas de associações criadas e mantidas na órbita do bloco e que, curiosamente, vivem à custa do orçamento de Estado e de contribuições municipais. Ou seja, coisas que se dedicam a causas delirantes à custa dos impostos dos indignados.
Perguntam-me agora: alguma coisa contra os indignados? Nada, nem por sombras. E até digo mais; sempre presente e solidário desde que em convocatórias abrangentes e não desenhadas pelas várias nomenklaturas do bloco e artes circenses conexas, como aconteceu por exemplo na manifestação que em Março passado levou mais de duzentas mil pessoas a descer a Avenida da Liberdade. Também no impacto dos números se vê a diferença, desde que se queira ver.

Pedro Guedes da Silva