terça-feira, 26 de abril de 2011

JÁ QUE ESTOU A TER O PRAZER DE VER NESTE MOMENTO ESTE SENHOR NA TV, REPUBLICO AQUI E AGORA ESTE TEXTO QUE TAMBÉM ME DEU PRAZER ESCREVER

Li, de um fôlego, as Memórias de um Rústico Erudito. Viagem à volta de lentes, terras e políticos, de Raul Miguel Rosado Fernandes.
Estamos perante um Homem Culto e não defronte a um «rústico erudito», como ele afirma ser (penso que em tom displicente ou blasé). Digo-o na certeza de que pela palavra escrita — e que belo domínio da Língua Portuguesa o livro mostra — encontrei um Senhor da Terra, à antiga portuguesa, que consegue partir por essa Europa fora, em sucessivas viagens iniciáticas, bebendo nas raízes da nossa Cultura, depois de um profundo estudo Académico dos Clássicos — a eterna fonte, que separa quem dela se alimenta da barbárie.
A estada na América também é deliciosa, com divertidas peripécias contadas num estilo cativante. A passagem pela política interna e externa talvez surja como o capítulo menos interessante; contudo, quanto a isso, já sabemos de que é que a casa gasta... Foi, apesar de tudo, terreno privilegiado para ele mostrar a sua — tão rara nos políticos demo-liberais — Coragem (e, não me refiro ao episódio que lhe concedeu a fama televisiva; mas, sim, à luta que travou contra a roubalheira agrária dos lacaios locais da U. R. S. S., primeiro, e de Bruxelas, depois). Percebemos aqui, se restassem dúvidas, que um Português de carácter e bem preparado — desbravando caminho, contra a corrente, na Universidade e no país (e que tristes meandros nos são aqui revelados) — pode fazer boa figura, ao mais alto nível académico, cultural e social, em qualquer parte do Mundo.
Finalmente, há ainda todo o (bom-)gosto pela Vida — o profundo conhecimento da Natureza, a gastronomia, a paisagem, as artes e letras, as gentes, os lugares, as línguas, os aromas, as luzes e as cores, de todo o Ocidente. Apetece-me afirmar que, neste caso, o Homem Culto é fruto do que aprendeu com os livros que leu, as mulheres que teve, as viagens que fez, as lutas que travou.
Enfim, tomámos contacto com um Cavalheiro, na tradição da «velha escola» desta piquena grande Casa Lusitana. Foi um prazer e uma honra, lê-lo.