terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PALAVRAS DUM HOMEM CULTO COM QUEM CONVIVI

“Historical sense”
Penso por vezes experimentar aquilo a que os ingleses chamam “historical sense” e os franceses chamam “déjà vu”, embora o sinta fugitivamente pois, ao que creio, é dom bastante raro.
Quero dizer que, de tempos a tempos, ao ouvir uma voz, o som de uma melodia, ao ver uma casa, ao deparar com um recanto de jardim ou ângulo de paisagem, tenho o sentimento exacto (ou julgo tê-lo) de já ter vivido aquele instante, habitado aquela casa, visitado esses sítios, ouvido tais vozes, em tempos recuados.
De resto, nunca tive a impressão de ser um indivíduo completamente despegado, isolado, desligado do mundo, mas, tão somente, um dos anéis de uma longa, extensa corrente.
Dentro dos dons que recebi e sou depositário, leio em mim próprio uma parte imensa de recordações e fundo, de lembranças, de memórias hereditárias.
ROBERTO DE MORAES
(1939 — 2010)