terça-feira, 7 de outubro de 2008

FLOR DAS ÁGUAS

Seres tu o rio e eu a flor dos choupos
tocando das águas outra flor. Não os
barcos. Não esse coração imperfeito
que o oceano não afasta dos perigos

do amor. Apenas o que da grandeza
do mundo couber nas sílabas e nos anéis,
não os juncos ou as ilhas, as pontes verdes,
apenas o que os dedos aproximaram dos

lábios. Eu sei, todas as coisas regressam
como um círculo à sua sombra, o que
antigamente era ainda mais difícil.

Mas como não repetir a primeira palavra,
o único corpo onde tudo está ainda
intacto, como no fulgor da paixão?

Francisco José Viegas