quarta-feira, 24 de outubro de 2007

OLHAR, CHEIRAR E TOCAR DEVAGAR

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse.
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

ALBERTO CAEIRO
[Fernando Pessoa (1888 — 1935)]