sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O ÚLTIMO ROMÂNTICO DA SÉTIMA ARTE

Les Amours d'Astrée et de Céladon (França, 2007),
de Eric Rohmer.
Quem quiser compreender a razão de se chamar Autor a um realizador de Cinema deverá mergulhar de cabeça na sereníssima e profunda Obra de Eric Rohmer. Este último grande Mestre da Sétima Arte (pronto, já disse) nasceu em 1920 e está mais vivo do que muitos rapazolas que para aí andam armados em artistas. De forma discreta, mas sábia e firme, exerce os ofícios de crítico, jornalista, argumentista, escritor e professor, para além da sua principal actividade como realizador. Organizou parte da sua Filmografia em Ciclos. Assim, encontramos os seguintes: «Seis Contos Morais» (seis filmes, 1963 — 1972), «Comédias e Provérbios» (sete filmes, 1981 — 1987) e «Contos das Quatro Estações» (quatro filmes, 1990 — 1998). Tem como principais temas os encontros e desencontros, o desejo, os jogos de sedução, a escolha e a decisão — enfim, as relações humanas em toda a sua eterna fascinante complexidade, encontrando sempre na palavra o fio-condutor. Não temendo o peso que os ignorantes atribuem à expressão, podemos afirmar que Rohmer é o maior moralista do Cinema Moderno. A isto acrescentaria a sua característica (outros a têm também) de ser um cineasta coleccionador de mulheres, ou personagens femininas, se preferirem assim. Chamemos-lhe ainda cineasta-retratista, pois revela, através da fotogenia dos rostos — muito particularmente dos olhares — e dos corpos, a alma das suas personagens. Rohmer é um realizador do tempo e do espaço: trata-os utilizando uma montagem mínima, e subtis movimentos de câmara. O seu sistema narrativo tem por base uma estrutura herdada das convenções teatrais: a sua escrita organiza-se por Actos, e, as cenas são longas, como na vida; domina os diálogos como ninguém e recorre ainda à figura do narrador. O seu erudito conhecimento da Pintura transparece na imagem dos seus filmes — nos enquadramentos e na composição, e, ainda, nos ambientes. O estilo visual e sonoro é claramente naturalista, o que poderia aliás ser a palavra-chave para a sua estética e constituir a sua principal marca autoral. Foi chefe de redacção dos Cahiers du Cinéma e, nessa categoria e na de crítico da revista, decisivo para a criação da «Teoria do Autor», que ele próprio viria a incarnar como ninguém. Fez ainda, entre muitos outros textos teóricos — sobre Dreyer, Hitchcock, Rossellini... —, uma fundamental tese sobre «A Organização do Espaço no "Fausto" de Murnau», com este título. Por outro lado, como isto não é nenhuma tese, mas um conjunto de notas soltas que para aqui estou a alinhar acabadinho de chegar da Cinemateca Portuguesa, vindo de ver o seu delicioso Pauline à la Plage (1982), apetece-me concluir chamando a Eric Rohmer: subtil, delicioso, natural, alegre, melancólico, romântico e espiritual. E não é pouco. Eu, por exemplo, quando for grande também quero ser assim.
Post Scriptum: Já agora — Quando estreará por cá a sua mais recente fita (à vista na fotografia)?