terça-feira, 24 de julho de 2007

LISBOA, CRÓNICA POÉTICA (3)

A rapariga que nunca tinha lido um livro
entrou na loja do velho alfarrabista
à procura de um volume
para oferecer ao namorado
e ficou encantada a acariciar a pele das antigas encadernações
até que
por fim
abriu o Livro do Desassosego de Bernardo Soares
e começou a lê-lo desde o princípio
e não mais parou até hoje de devorar obras escritas
e agora é leitora profissional
e vai
de casa em casa
dizendo em voz alta
com interpretação muito pessoal
o que está impresso em letra de forma
vestida ritualmente
de acordo com o texto
para que
quem já não vê o suficiente
ou queira ter uma experiência sensorial diferente
possa retirar renovado prazer
da sua biblioteca.