terça-feira, 1 de maio de 2007

EIS-ME

Eis-me frente a estas brancas páginas — brancas como o negro porvir: terrível brancura! —, procurando reter o tempo que passa, fixar o fugidio hoje, eternizar-me ou imortalizar-me, afinal, se bem que eternidade e imortalidade não sejam uma só e a mesma coisa. Eis-me frente a estas páginas brancas, meu porvir, tratando de derramar a minha vida, de me arrancar à morte de cada instante. Trato, ao mesmo tempo, de consolar-me do meu desterro, do desterro da minha eternidade, deste desterro a que me apetece chamar o meu des-céu.
In Como se faz uma Novela, Miguel de Unamuno.