sexta-feira, 2 de março de 2007

DESMONTANDO CHAVÕES — RASGANDO CLARÕES

Um chavão — um nome assim tão feio... — só pode servir para ser desmontado, e banido. Dizem os entendidos, em sociologia, e outras ciências modernaças à brava, que as amizades devem ser cultivadas. Bonito; tocante, até. Mas: não, não é. As relaçõezinhas interesseiras — mas nada interessantes — talvez se pautem por essa bitola pequeno-burguesa, aviada na cartilha das boas maneiras de bolso, para arrivistas. Por outro lado, ou melhor: mais acima, as pessoas — a gente que (ainda) é gente — não precisam de conselhos para se relacionarem. É mesmo aqui, cá para mim, et pour cause, que os melhores vêm ao de cima — destacando-se da turbamulta —, distinguindo-se pelo génio intuitivo dos seus carácteres.
Assim, só aos totalmente livres de grilhetas conformistas é acessível retomarem conversas entre iguais, com pessoas semelhantes, em que arde por dentro, desde sempre, a mesma chama. E chama não rima com chavão, mas sim com chamamento. Se essas pessoas, por azar, não trocarem palavras entre si, há vinte anos, ainda para mais não se vendo, apartadas pela distância, mas — subitamente, num repente! — houver um clique, e, um interruptor reabrir os canais de comunicação que para sempre pareciam vedados, ou até rasgar outros e novos caminhos, e a conversa começar a fluir, como que por milagre, jorrando as palavras da mesma forma que correm os rios por entre as florestas virgens... — então, aí, saberemos que a regeneração existe e está ao alcance do homem superior. Faz parte, no entanto, dos mistérios da criação, pois pertence esta matéria à ordem dos insondáveis acasos, vedados às explicações da razão humana. Saibamos receber estes momentos especiais como dádivas que nos ajudam a iluminar essa noite escura que o lado mais sombrio da nossa existência terrena é. Sigamos a estrada. Não tenhamos medo.