quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

AO CUIDADO DOS NAMORADOS CINÉFILOS

O beijo é o ponto final dos metteurs-en-scène sem imaginação e uma simples vírgula para os realizadores que têm mais que fazer...

Os beijos-apoteose, os beijos do cinema, estragaram, desvirtuaram, preocuparam, os beijos naturais, os beijos que se dão na vida. O cinema obrigou-nos a ser os espectadores dos nossos próprios beijos, obrigou-nos a ser críticos severos da nossa ternura e do nosso desejo... Terá saído bem?... E sentimos o apetite de ensaiar, de corrigir, de propor um gros-plan...

Tenho a impressão de que as vedetas, os «virtuoses» do beijo no cinema, devem beijar pessimamente na vida... Os beijos do écran são tão retóricos...

Há beijos no cinema que sabem a números de circo, a números difíceis... E tem-se vontade de gritar, de implorar: «Basta! Basta!»

Os beijos do cinema são beijos com pose mas são beijos sem posse...

In Hollywood, Capital das Imagens, António Ferro, edição Portugal-Brasil, Lisboa, 1931 (prólogo do Autor; capa de Bernardo Marques).